terça-feira, janeiro 23, 2007

 

Abée Pierre (1912-2007)



‘A morte do Abée Pierre atinge a França no coração ‘ – reagiu Jacques Chirac, para quem esta figura tão querida dos franceses ‘representará sempre o espírito de revolta contra a miséria, o sofrimento, a injustiça e a força da solidariedade. A França perde uma grande figura, uma consciência, uma incarnação da bondade’ – acrecentou o Presidente da República.

O P. Heni Grouès escolheu dar a vida pela causa dos mais excluídos e entregou-se, de alma e coração, aos sem abrigo. Foi durante a 2ª Grande Guerra Mundial que, empenhado na resistência à invasão nazi, salvou muitas pessoas e passou a ser chamado ‘Abée Pierre’. Também foi neste período crítico da história da Europa que fundou o Movimento de Emaús em 1949, a partir de um acontecimento simples: numa noite, foi ter com ele um ex-recluso, com uma história que lhe dava direito a mais prisão. O Abbé Pierre decidiu acolhê-lo. ‘Não tenho nada para te oferecer. Queres ajudar-me na construção de casas para pessoas sem-abrigo?’. Seguiram-se-lhe outros marginalizados, outros sem abrigo, sem trabalho, imigrantes… O Movimento de Emaús é formado por comunidades de pessoas pobres que, através do trabalho de recuperação e reutilização daquilo que é lançado fora, ganham honestamente o seu sustento e ainda ajudam quem se encontra em condições piores. Hoje são 84 Comunidades em todo o mundo, duas delas em Portugal, fundadas em 1983: uma em Lisboa e outra no Porto.

Conheci-o em Paris, em 1988. Nunca mais deixei de admirar este ‘avô dos franceses’ que, nos anos 90, era considerado a figura número um de França, de acordo com as sondagens. ‘Ele veio a Portugal em 1995 Escrevi na altura: ‘Que faz correr este homem de barba branca e batina preta? Certamente que é a convicção evangélica de que a terra é para as pessoas e, se houver justiça, ela chega para todos. Não faz muito sentido haver casas sem gente e gente sem casa, terras sem gente e gente sem terra. Ou então, que Deus se demita: ele fez mal os cálculos na hora da Criação!’(Encontro, Ag/set95). Regressaria em 2005, a fim de participar no Encontro Internacional de Emaús, realizado no Seminário Espiritano da Torre d’Aguilha, em Cascais.

Morreu a 22 de Janeiro, em Paris. O Cardeal Danneels, de Bruxelas, foi umas das primeiras vozes da Igreja a reagir, chamando-o ‘gigante da misericórdia’. O mundo inteiro presta homenagem a alguém que sempre combateu a ‘praga da indiferença’, criticando as condições precárias de habitação de muitos milhões de pessoas e trabalhando nesta luta pelo fim dos ‘sem abrigo’, arranjando casas para os pobres. Por isso, manifestou o desejo de não ver flores no seu túmulo, mas quis que estas se convertessem em dinheiro para continuar a apoiar a causa dos mais pobres. Assim acontecerá na Notre Dame, no funeral presidido por D. André Vingt-Trois, Arcebispo de Paris.

Tony Neves

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