sexta-feira, agosto 29, 2008

 

EU NÃO ACEITO SER CO-AUTOR DE GENOCÍDIO

Luiz Carlos Azenha - Publicado em 25 de agosto de 2008 às 15:52 no Site Vi o Mundo http://www.viomundo.com.br/opiniao/eu-nao-aceito-ser-coautor-de-genocidio/Denver, Colorado --
Estou no Colorado para a Convenção que indicará Barack Obama oficialmente candidato do Partido Democrata à Casa Branca. Porém, antes de entrar neste assunto pretendo falar de outro, que julgo mais importante: a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira, em que os juízes decidirão se consideram ou não inconstitucional a demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima.

Quando fui convidado pela TV Cultura para fazer um documentário a respeito não conhecia quase nada sobre o assunto. Passei dez dias entre Boa Vista, a reserva e Brasília entrevistando dezenas de pessoas a respeito. Li muito. Discuti o assunto com especialistas. O material que coletei foi entregue a uma equipe da TV paulista, que fez um belíssimo trabalho de edição. O documentário já foi ao ar duas vezes. Acredito que oferece um panorama a respeito da polêmica, em que vários pontos-de-vista foram contemplados. Falaram tanto o líder dos arrozeiros, Paulo César Quartiero, quando os representantes dos indígenas.
É um assunto complexo, que merece reflexão. Numa entrevista que dei ao Jornal da Cultura eu mesmo disse que não se deve tratar deste assunto com o coração -- ou o figado, como preferirem -- mas com a cabeça.
Porém, não é o que tenho visto desde que estive em Roraima. Infelizmente tenho testemunhado algo que me surpreende: o racismo, o preconceito e o desprezo de muitos brasileiros pelos indígenas. Os próprios indígenas costumam dizer que isso se deve à desinformação. É o que ouvi, por exemplo, da advogada que os representa no STF, Joênia Wapixana, a primeira indígena que se formou em Direito no país.
Talvez seja, de fato, desinformação. Mas, sinceramente, acredito que é algo mais perverso: é racismo. É intolerância. É desprezo pelo diferente, por algo que no inconsciente coletivo do brasileiro representa "atraso", um alvo conveniente contra o qual dirigimos nosso ressentimento pelos fracassos do Brasil de brancos, negros e europeus.São freqüentes, neste e em outros endereços da internet, as referências ao tratamento que os Estados Unidos deram aos indígenas, como se o genocídio cometido em outros lugares fosse justificativa para o genocídio no Brasil. "Se os americanos fizeram, nós também podemos fazer", argumentam. É vergonhoso, para dizer o mínimo. Quando se trata dos indígenas, queremos ser tão criminosos quanto os americanos? É isso? Ou nós seremos melhores do que eles?
A ignorância é, de fato, a maior inimiga dos indígenas brasileiros. Os brasileiros brancos ignoram a riqueza étnica do País, ignoram as condições em que vivem os indígenas, ignoram as leis que amparam as demarcações. E os ignorantes são muito mais suscetíveis às campanhas de desinformação movidas contra os indígenas, que tiram proveito do preconceito existente na sociedade brasileira. "Índio não dá audiência", costumava dizer a diretora de um programa da TV Globo quando eu trabalhava na emissora, supostamente apoiada em pesquisas de opinião. "Índio é bêbado e vagabundo", costumava dizer um parente meu, testemunha de conflitos fundiários no interior do País. As manifestações de racismo explícito envolvendo violência se cristalizaram no caso do índio Galdino Pataxó, aquele que foi queimado por jovens brancos de classe média alta em Brasília.
A violência institucional contra os indígenas não é uma novidade no Brasil. Foi política de estado o confinamento dos indígenas em territórios exíguos, verdadeiros campos de concentração em que se misturaram povos de diversas etnias, inclusive de famílias inimigas. Uma visita às aldeias da região de Dourados, no Mato Grosso do Sul, dará ao leitor uma idéia do que estou falando.
Lá, milhares de indígenas foram concentrados em pequenos territórios, sem assistência médica, educação ou apoio para cultivar a terra. Aos jovens resta mendigar nas ruas das cidades próximas ou trabalhar como bóias frias. Os homens deixam as reservas em busca de trabalho temporário nas lavouras. As mulheres ficam sós para cuidar dos filhos. E o Brasil só se dá conta dessa situação calamitosa quando bebês começam a morrer ou jovens, sem perspectiva, cometem suicídio.
A Constituição de 1988 reconheceu o direito dos indígenas à terra e obriga o Estado brasileiro a garantir a eles o espaço necessário para a sobrevivência. É óbvio que a população indígena cresce e que as demarcações precisam levar em conta isso. Justamente para evitar que situações como a verificada em Mato Grosso do Sul se repitam.Não estamos tratando de um favor, mas do cumprimento da lei.
O estereótipo de que os índios são "bonzinhos", ou "selvagens" ou "inocentes" ou "manipuláveis" é só isso: um estereótipo.
Perguntem à advogada Joênia Wapixana e ela diz: "Não é pelo fato de que um índio fala português ou usa um laptop que ele deve abrir mão dos seus direitos constitucionais".
Estes são direitos coletivos ao usufruto da terra.
Terra indígena, como já escrevi aqui, é terra da União, ou seja, do Brasil, de toda a sociedade brasileira. Ao reconhecer o direito de uso da terra o Brasil não está abrindo mão de sua soberania ou "entregando" terra. Está reconhecendo a sua obrigação de preservar as diferentes etnias e de conceder aos indígenas o usufruto de território essencial para sua preservação.Pessoalmente, entre conceder o usufruto da terra aos indígenas ou aos arrozeiros eu, Azenha, prefiro conceder aos indígenas. Sei que eles vão preservar a terra muito melhor do que agricultores, cujo principal objetivo é o lucro pessoal. Eu prefiro sustentar 500 indígenas do que uma família de classe média alta branca que se apropriou de terras públicas, tem outras propriedades e pode muito bem produzir fora de áreas demarcadas. É disso que o STF vai tratar: de uma disputa POR TERRA entre alguns fazendeiros brancos e milhares de indígenas.
De uma disputa que já causou muitas mortes. Sabe quantas? Vinte e uma, na contabilidade dos indígenas. Nenhum homem branco. Todos os 21 mortos são indígenas. Todos morreram em conflito fundiário desde que a FUNAI começou o trabalho de reconhecimento da Raposa/Serra do Sol. Quantas vezes a mídia corporativa brasileira deu espaço para as teorias conspiratórias da extrema-direita, que em nome de beneficiar o agronegócio e as mineradoras tenta transformar os indígenas em uma ameaça à soberania?Essa ameaça inexiste. Todas as terras indígenas pertencem à União e a presença de autoridades brasileiras nelas é garantida por decreto. A fantasia dos "vazios demográficos" não é mais que isso: uma fantasia de militares de extrema-direita que, com o fim da guerra fria, procuram "inimigos" que justifiquem a Doutrina de Segurança Nacional, uma doutrina que eles aprenderam com os americanos e que exige a existência de "inimigos internos".
É irônico que os "inimigos internos" de hoje sejam os indígenas, agora supostamente aliados dos americanos e europeus. Não é nada irônico que gente que se diz "de esquerda" ou "progressista" se junte à extrema-direita para fazer dos indígenas "inimigos".
Por não terem voz na mídia, nem na academia, nem nos partidos, nem no Congresso, os indígenas são um inimigo conveniente.São a garantia de que nós, brasileiros brancos, que nos sentimos tão pequenos ou derrotados diante de americanos, suecos, franceses e argentinos, podemos finalmente dizer que "ganhamos uma".
"Ganhar uma" sobre os direitos dos indígenas, em minha opinião, é genocídio. Não a limpeza étnica clássica, evidente, de grandes proporções.
A limpeza étnica malandra, nas sombras, a conta-gotas, justificada pomposamente por tribunais, jornalistas, partidos e políticos com citações jurídicas e a "produção" de fatos consumados a posteriori para forçar a "desdemarcação".
Os brasileiros brancos querem, aos poucos, matar os indígenas?
Não contem comigo. Não aceito ser co-autor de genocídio.

segunda-feira, agosto 18, 2008

 

«Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5, 3)


Não se trata de rejeitar os bens susceptíveis de ajudar o próximo. É da natureza das posses serem possuídas; como é da natureza dos bens difundir o bem; Deus destinou-os ao bem-estar dos homens. Os bens estão nas nossas mãos como ferramentas, como instrumentos dos quais retiramos bom uso, se soubermos manipulá-los. [...] A natureza fez das riquezas escravas, e não senhoras. Não se trata, pois, de as depreciar porque, em si mesmas, não são boas nem más, mas perfeitamente inocentes. Só de nós depende o uso, bom ou mau, que delas fizermos; o nosso espírito, a nossa consciência, são inteiramente livres para disporem à sua vontade dos bens que lhes foram confiados. Destruamos, pois, não os nossos bens, mas a cobiça que lhes perverte o uso. Quando nos tivermos tornado virtuosos, saberemos usá-los com virtude. Compreendamos que esses bens dos quais nos mandam desfazermo-nos são os desejos desregrados da alma. [...] Nada lucrais em largar o dinheiro que tendes, se continuardes a ser ricos em desejos desregrados. [...]

Eis de que forma concebe o Senhor o uso dos bens exteriores: temos de nos desfazer, não de um dinheiro que nos permite viver, mas das forças que nos levam a usá-lo mal, ou seja, das doenças da alma. [...] Temos de purificar a nossa alma, isto é, de a tornar pobre e nua, para nesse estado ouvirmos o chamamento do Salvador: «Vem e segue-Me». Ele é o caminho que percorre aquele que tem o coração puro. [...] Este considera que a fortuna, o ouro, a prata, as casas que possui, que tudo isso são graças de Deus, e mostra-Lhe o seu reconhecimento socorrendo os pobres com os seus próprios fundos. Ele sabe que possui esses bens, mais para os irmãos do que para si mesmo; longe de se tornar escravo das suas riquezas, é mais forte do que elas; não as encerra na sua alma. [...] E, se um dia o dinheiro lhe desaparecesse, aceitaria a ruína com a felicidade dos melhores dias. É esse o homem, afirmo eu, que Deus considera bem-aventurado e a quem chama «pobre em espírito» (Mt 5, 3), herdeiro certo do Reino dos Céus, que está fechado àqueles que não souberam desprender-se da sua opulência.

Clemente de Alexandria (150-c.215), teólogo Homilia: «Os ricos salvar-se-ão

domingo, agosto 17, 2008

 

Vive um dia de cada vez!

- Vive um dia de cada vez e, apenas hoje, não te zangues. Deixa o medo, o ódio, o rancor de lado. Não deixes que se manifestem em situações menos boas. Permite que o Amor, e só o Amor, esteja presente. Ninguém se pode sentir feliz quando se zanga.

- Vive um dia de cada vez e, apenas hoje, não te preocupes. A preocupação traduz-se num sofrimento por antecipação. Se vives o aqui e agora, tentando ser feliz, o amanhã será transformado em Paz. Em vez de te preocupares, ocupa-te, para que o momento presente seja vivido da melhor forma.

- Vive um dia de cada vez e, apenas hoje, agradece o que recebes. Já pensaste que muitas vezes só dás valor aquilo que não tens ou perdeste? Tens de agradecer tudo aquilo que a vida te oferece, tudo o que te rodeia, mesmo que não seja bem aquilo que esperavas. Há sempre algo a aprender.

- Vive um dia de cada vez e, apenas hoje, trabalha honestamente. Deves ser honestos contigo em primeiro lugar. Se viveres com base na honestidade, poderás ver, com mais clareza, as lições que a vida te vai trazendo. Se executares algum trabalho com revolta, isso pode traduzir-se em sacrifício e o sofrimento gera doença.

- Vive um dia de cada vez e, apenas hoje, respeita o teu semelhante e todo o ser vivo. Respeitar é amar. A vida e toda a existência são um todo do qual fazes parte. A humanidade em união com o Todo, tem tudo o que precisa para viver em harmonia, respeito e amor. O egoísmo promove o separatismo, a destruição e a guerra.

- O ser humano só é verdadeiramente feliz se viver apenas o presente. O passado já lá foi e o futuro é conseqüência resultante do presente. Por isso, só no aqui e agora poderemos influenciar o rumo da nossa vida. Vivam o presente, saboreiem e aceitem cada momento com muito, muito Amor. E para que tudo isto funcione, devemos começar por gostar de nós próprios primeiro. O trabalho pode não ser nada fácil, mas não é impossível. Basta começar...

Eloina

quinta-feira, agosto 14, 2008

 

Festa N. S. da Assunção (15 Agosto)

A terra feita céu, de sol vestida,
Sobe com nova glória e majestade
A ser único espelho da Trindade,
De Anjos rainha, de homens honra e vida.

A luz, que esteve cá nela escondida,
Por que iguale o triunfo a dignidade,
Vem receber a Mãe, cuja Saudade,
Leva tudo após si nesta partida.

O resplendor da Igreja militante
Abrindo, como aurora, um novo dia,
Faz hoje mais formosa e triunfante.

Já goza o que esperava, amava e cria,
Que logo mereceu no mesmo instante
Que Deus a fez Mãe sua, e nossa guia.
(Hino da Liturgia das Horas)

segunda-feira, agosto 11, 2008

 

A Missão, uma obrigação!


Reflexão sobre o Congresso Missionário, a partir de Mt 14,22-33

Jonas parte para a missão contra a vontade. Sente-se afogado pela tempestade exterior e interior, mas o Senhor vem ao seu encontro e salva-o para a Missão.
Os discípulos, após a multiplicação dos pães e dos peixes, queriam fixar-se ali para que o reino terreno de Cristo se estabelecesse. Jesus “obriga-os” a entrar na barca e a partir para outra margem. Partem contra a vontade e, mais uma vez, a tempestade interior e exterior os envolve na noite das suas vidas e dos seus projectos. Do outro lado da margem está o desconhecido e os que não pertencem ao Povo Eleito. Porque partir para a terra dos pagãos, se entre os nossos temos a grande oportunidade de prosperar e de nos impor com poder? Porque desperdiçar esta oportunidade em que o povo quer aclamar Jesus como rei?
Jesus fica em terra para despedir o povo e lhes recordar que nem só de pão vive o homem. Permanece em oração. Na solidão e no diálogo com o Pai vive a tempestade da opção entre as aclamações transitórias da multidão e a fidelidade à Missão do Pai que O enviou. É uma noite de luta. Vence a fidelidade à missão do Pai, “porque foi para isso que fui enviado” (Mc 1,38).
Como Jonas, os discípulos sentem-se perdidos e desesperados. Jesus vai ao seu encontro, caminhando sobre as águas. Revela-se como o Filho de Deus e não como rei político. Os discípulos não O reconhecem. Deixaram em terra o Messias político e ao seu encontro veio o Messias de Deus. Jesus, pedagogicamente, vai criando condições para que os discípulos o acolham na fé. Pedro manifesta uma fé frágil que precisa de sinais e vive ainda muito de medos e assente nas próprias capacidades limitadas. Por fim acolhem Jesus na sua barca, adoram-no e reconhecem-no como Filho de Deus. Agora podem partir em Missão, pois aceitar Jesus na fé, é aceitar também colaborar na sua Missão. Agora a tempestade interior e exterior deu lugar à paz, ao “shalom da bonança”.

A Igreja portuguesa convocou, para o início de Setembro, um Congresso Missionário Nacional. A reacção tem sido moderada. Os que já responderam e se inscreveram, bispos, sacerdotes, consagrados/as e leigos são pessoas que já navegam, de formas diferentes, em mares da Missão. O objectivo de colocar a Igreja portuguesa em estado de Missão, hoje como ontem, é sempre difícil de alcançar.
Porque partir para a outra margem da Missão se há tanto trabalho entre os nossos? Porque ir ao encontro do que não crê se ele tem direito e é livre para viver como quer? Porque partir para outras Igrejas necessitadas se a Igreja portuguesa precisa de tanta gente comprometida com a sua re-evangelização?
Muitos sentem-se como os discípulos na barca, no meio de uma tempestade, navegando durante a noite de desesperança e do medo. Com receio de perder o poder da Igreja, pensam em estratégias de marketing para conquistar novos prosélitos. Contam mais com os seus estratagemas do que com a força salvadora de Cristo. No meio de tantos planos tão humanos, será que ainda há lugar para Cristo na barca?
“Rasgar horizontes” é sair dos nossos planos humanos e corporativistas para acolher Jesus na fé e deixar que seja Ele a entrar na barca das nossas vidas ou comunidades e acalmar os nossos medos.
“Viver a Missão” é aceitar partir, porque é uma “obrigação” a que nenhum discípulo de Jesus pode escapar por comodidade ou por medo. A fé em Jesus vivo e as sementes do reino de Deus que em nós germinam, não podem ser guardadas em couto privado. É para partilhar e anunciar a quem está do outro lado da margem da falta de sentido e de futuro.
São horas de partir em Missão e despertar para a presença do Senhor que vem ao nosso encontro e nos diz. “Tende confiança. Sou Eu. Não tenham medo”.

J. Augusto, svd

quinta-feira, agosto 07, 2008

 

Sementes do Cristianismo na China

A realização dos Jogos Olímpicos na China desafiam-nos a fixar o olhar para além do cenário que o Governo chinês nos quer apresentar. Estamos perante um grande país com uma economia emergente e em expansão; mas também na presença de um dos maiores poluidores do mundo, com enormes assimetrias sociais e económicas, onde imperam grandes injustiças laborais e sociais, com um imenso deficit de liberdade de expressão e de religião. A escolha da data do início dos Jogos para 08-08-08 manifesta a presença, ao mais alto nível, da crença supersticiosa em datas que dão sorte.

Neste artigo atrevo-me a escrever sobre o cristianismo na China a partir de leituras e conversas pessoais com alguns sacerdotes chineses. Tenho em S. José Freinademetz (1852-1908) um missionário que me inspira amor e “fraternura” com o povo chinês.

Os missionários, que desde o séc. VII tentaram introduzir o cristianismo na China, aperceberam-se da dificuldade em penetrar nesta cultura sem o consentimento do Imperador. Foi por aí que começaram os nestorianos da Síria no séc. VII, os franciscanos no séc. XIII e os jesuítas no séc. XVI. Partindo do Imperador, os missionários conseguiram rapidamente muitos adeptos, no entanto, com a queda da dinastia protectora ou a mudança na orientação do Imperador, o cristianismo foi perseguido e proibido. Estas comunidades foram sucumbindo, pois a semente do Evangelho não tinha lançado raízes profundas.

No séc. XIX várias congregações missionárias fizeram nova tentativa, então sob a protecção das potências europeias em grande expansão colonial. O governo chinês era frágil e foi sendo submetido a uma condição semi-colonial. Com o Tratado de Tientsin em 1858, a França assegurou o protectorado de todos os missionários na China. Em 1897, os alemães aproveitaram o assassínio de dois padres do Verbo Divino como pretexto para forçarem a sua fixação na região de Qingdao. Seguiu-se um levantamento popular contra os estrangeiros, os missionários e os chineses cristãos, na guerra dos “Boxers” (1897-1900). Muitos missionários e cristãos chineses testemunharam o martírio por Cristo. Talvez por isso, a seguir à pacificação, surgiu nesta região um grande movimento de adesão ao cristianismo. Este movimento ascendente foi-se mantendo até à revolução comunista, em 1949.

Em 1950, foram expulsos da China quase todos os missionários estrangeiros. Em 1951, o Vaticano cortou relações com a China e em 1952 reconheceu Taiwan. Foi proibida a ordenação de sacerdotes e fecharam-se todos os seminários entre 1956 e 1986. Em 1957, o Governo criou a Associação Patriótica dos Católicos Chineses para “dar apoio ao sistema socialista” e ensinar os fiéis a “amar a pátria e a corresponder às suas obrigações de cidadãos chineses”. O poder chinês procurou assim controlar a religião e formar uma igreja nacional, sem relação com o Papa e a Igreja Universal.

Toda esta situação adversa vaticinava o desaparecimento do cristianismo na China como nos períodos anteriores, mas o resultado foi outro. A Igreja continua viva na China. É uma minoria com uma grande vitalidade eclesial, vocacional e missionária.

As perseguições geraram mártires e o testemunho de fidelidade em prisões. A tentativa do Estado controlar o cristianismo originou uma Igreja clandestina em comunhão com o Papa. A falta de liberdade religiosa fez despertar formas criativas de evangelização, formação e celebração da fé.

Foi a aposta na formação do clero nativo, na caridade social e na formação dos leigos que sustentou a e fez crescer a Igreja neste período. As universidades e os colégios foram fechados, mas ficou o povo simples, em especial da Legião de Maria, a sustentar a fé.

O Papa Bento XVI publicou uma carta à “Igreja que está na China”, a 27 de Maio de 2007. Nela manifesta o zelo pastoral como seu Pastor e afirma que na China há só uma Igreja de Cristo. A carta enfrenta o problema da unidade e da comunhão da Igreja, em especial o problema da nomeação dos bispos. Apresenta orientações pastorais e convida a Igreja a ser mais missionária. Determina uma jornada anual de oração pela Igreja na China no dia 24 de Maio, dia de N. Sra de Shesham. Com este dia de oração procura intensificar a comunhão espiritual da Igreja Universal com a Igreja de Cristo que está na China.

Há sinais de esperança que nos levam a acreditar que finalmente a semente do Evangelho lançou raízes na China: o acolhimento que a carta do Papa teve na Igreja chinesa, a dinamização do Ano Paulino em algumas dioceses, o esforço de alguns jovens chineses em participar nas Jornadas Mundiais da Juventude em Sidney para manifestar a sua comunhão com o Papa, o empenho em manter o diálogo, nem sempre fácil, entre o Governo Chinês e o Vaticano, as vocações religiosas e sacerdotais...

Concluindo, os principais desafios da Igreja na China não estão nos Jogos Olímpicos. Este é um acontecimento passageiro. O fundamental é perceber como responder à procura de Deus e do transcendente manifestado por muitos jovens que tentam uma resposta na internet ou nas seitas.

Rezemos para que Deus ajude a Igreja de Cristo na China a ser cada vez mais inculturada sem deixar de ser Católica (universal) e a não deixar acorrentar o Evangelho pelo medo ou pela falta de esperança.

José Augusto Duarte Leitão, Missionário do Verbo Divino

quarta-feira, agosto 06, 2008

 

Bento XVI espera que a China se abra ao Evangelho

Bento XVI esteve em Oies, Val Badia, no dia 5 de agosto, à tarde. O Papa deixou Bressanone para prestar homenagem, na sua casa natal, a São José Freinademetz, um missionário verbita na China.
Bento XVI recordou José Freinademetz como “um santo de profunda actualidade”. A China “mostra ter um papel importante na vida política, económica e também a nível ideológico”. É importante que este “grande país se abra ao Evangelho”.
São José Freinademetz mostra que a fé não é uma alienação em nenhuma cultura, por nenhum povo, pois todas as culturas esperam Cristo”. Bento XVI recordou que este homem queria viver e morrer como chinês, “mas também permanecer chinês”. São Freinademetz identificou-se com o povo chinês, “na certeza que isso levaria Cristo ao Oriente”.
Assim, o Papa pediu que a vida deste santo “sirva de encorajamento para todos, para que possamos viver, neste tempo, a vida com fé, pois só Cristo pode unir os povos e as culturas”.
Bento XVI expressou também que o testemunho deste santo chegue a “muitos jovens, para que, corajosamente, dediquem a sua vida ao Evangelho”.
Ainda na igreja, o Papa manifestou o seu agradecimento pelo “caloroso acolhimento que recebi”.
(Cf. www.ecclesia.pt)

 

Bento XVI presta homenagem a S. José Freinademetz, missionário na China

O Papa esteve no dia 5 de Agosto, Terça-feira, em Val Badia para prestar homenagem a São José Freinademetz, missionário do Verbo Divino em terras chinesas no Séc. XIX. Esta será a primeira visita oficial, desde que Bento XVI chegou, a 28 de Julho a Bressanone, para um descanso de duas semanas.
O padre Federico Lombardi, porta voz da Sala de Imprensa do Vaticano, refere à Rádio Vaticano a importância desta visita. “Freinademetz é um grande santo da terra, dos tempos modernos. Os católicos têm grande devoção a esta figura, porque partindo desta terra, da montanha de Dolomiti, conseguiu chegar longe, levando a palavra de Deus à China”. O porta voz reconheceu um “caminho espiritual profundo, do ponto de vista da virtude”, mas também sob uma perspectiva cultural”.
Nesta homenagem todos os fiéis vã poder participar. “Não será uma homenagem privada de Bento XVI, mas também para toda a população”, referiu o Pe. Lombardi.
Bento XVI vai chegar de helicóptero junto à casa natal de Giuseppe Freinademetz, em Oies (Bolzano), um pequeno aglomerado de casas nas Dolomitas. Depois, o Papa entrará numa igreja, perto da casa, onde poderá dizer algumas palavras. “Será um breve momento, simples mas certamente uma grande festa para Val Badìa”.
Nesta mesma semana, após o Angelus de Domingo, Bento XVI dirigiu uma mensagem para todos os participantes nos Jogos Olímpicos de Pequim. Hoje presta homenagem a um missionário em terras chinesas. Para o Pe. Frederico Lombardi, a China está presente em “toda a Igreja universal, não apenas no pensamento do Papa”.
“Os chineses são um povo importante para toda a humanidade. A figura de Freinademetz fez um caminho de conhecimento e aprendizagem da cultura chinesa, ao ponto de ser amado pelos orientais”. O Pe. Lombardi referiu ainda ser uma figura “da compreensão, do diálogo, do anúncio de uma mensagem espiritual dirigida à China, no pleno respeito da sua extraordinária cultura”.
(Cf. www.ecclesia.pt)

sábado, agosto 02, 2008

 

SILÊNCIO ATENTO

Feliz quem sabe escutar
A música do silêncio
Atento e perscrutante
Dessa Voz que, sem palavras,
Torna perto o som distante
Que desfaz a acção do tempo,
E, por isso, inscreve pausas
Na pauta de cada instante,
Para calar os ruídos
Trazidos pelos sentidos
E poder dar atenção
À Paz que é revelação
Sentida a partir de dentro,
Do nosso ser escolhido
Por Deus Pai para Seu templo.

Há notas que são segredos
Sussurrados no silêncio
Que nos fazem descobrir
Caminhos novos abertos
A atitudes de vida
Simples mas comprometida,
Com gestos de amor concretos
Que deixam marcas no tempo,
Se acolhermos como graça
O próprio vento que passa
E que, após a insegurança,
Acaba por libertar
O lixo do pensamento,
Enterrando, no passado,
Todo o medo suscitado
Pelo vento em movimento.

A música do silêncio
Perscrutante e atento,
Faz-nos serenar por dentro,
Ao mergulhar-nos na Paz
De uma harmonia sem par,
Comparável à de um templo
Que nos revela o Tesouro
Mais precioso que o ouro,
Mas impossível comprar,
Pois só Deus o pode dar.

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 29.07.08

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