sábado, agosto 31, 2013

 

Sábado da 21ª semana do Tempo Comum

Vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros. (cf. 1 Tes 4,9-11)


Deus é amor interpessoal,
marcado pela paz relacional e pela comunhão de Missão.
É uma relação dinâmica que cria novos seres,
marcados pelo mesmo dinamismo de amor.
Por isso, quem aprendeu a amar na perspetiva do “para sempre”,
não se cansa nem desiste de quem ama,
porque insaciavelmente é “ainda não chega”.
O desamor não gera ódio nem vingança,
mas o Amor sofre dum enamoramento buscador
que mendiga a conquista do coração de quem ama
pela misericórdia libertadora.


Todos sofremos dum “ainda não chega” insaciável.
Há os insaciáveis de poder, de comer, de prazer sensual,
de acumular avaro, de violência agressiva...
este “ainda não chega” alimenta-se de vidas e desertifica,
porque o egoísmo não tem vida em si mesmo.
Há os insaciáveis de paz, de alegria de servir,
de generosidade solidária, de compaixão comprometida,
de busca do infinito em comunhão confiante...
esta “fome de mais” torna-se fonte do que busca
e faz brotar jardins de vida nova à sua volta.
O amor que nasce de Deus é criativo e fecundo,
o egoísmo, que se encurva sobre si mesmo,
é larvar, epidémico, viral e desertificador.


Senhor Jesus, enviado da Fonte de todo o ser
e nascente de vida em abundância para todos,
fecunda-nos e torna-nos geradores de vida
e de paz verdadeira e ajardinada à nossa volta.
Envia-nos o Teu Espírito de Amor
para que possamos aprender contigo a arte de bem-querer
e descubramos em nós a alegria de bem-fazer.
Cura-nos das metástases insaciáveis do pecado
que roubam a vida e a paz a nós e aos outros,

e faz de nós fermento bom que transforma o mal em amor. 

sexta-feira, agosto 30, 2013

 

6ª feira da 21ª semana do Tempo Comum

Saiba cada um de vós conservar o seu corpo em santidade e honra. (cf. 1 Tes 4,1-8)


O corpo comunica e esconde quem somos.
A beleza dum coração pode esconder-se num corpo disforme,
assim como a monstruosidade dum carácter
se pode dissimular num corpo belo e maquilhado.
Só quando entramos em relação é que nos revelamos
e manifestamos qual é o habitante que hospedamos.
Por isso, conservar o corpo em santidade e honra
é aprender a SER santo e puro de coração
nas relações com Deus, comigo mesmo e com os outros.
Só Deus conhece verdadeiramente quem somos
e nos pode ajudar a ser livres das paixões do instante
e a prender a viver, no tempo, a alegria da eternidade.


Hoje vivemos demasiado preocupados com a aparência.
Investe-se muito dinheiro e tempo em elixires de juventude,
em operações plásticas de reconstrução do aspeto,
em dietas, ginásios, maquilhagens, solários, spas...
É importante ter um corpo saudável e leve,
mas mais importante é aprendermos a amadurecer
com o corpo no tempo, desde bebé até à velhice.
A alegria de viver, o sentido de vida com esperança,
a certeza de ser amado e a arte de amar com generosidade,
a beleza da fé que vê o invisível e escuta o silêncio,
o horizonte de eternidade que relativiza o presente...
são pérolas que adornam o ser e fazem o corpo transparecer,
mesmo quando o exterior parece esmorecer.


Senhor Jesus, Imagem visível de Deus invisível,
envia-nos o Teu Espírito de Santidade,
como instrumento de relação e comunhão,
para que possamos comunicar paz,
beleza e felicidade sem prazo.
Ensina-nos a crescer com harmonia,
em estatura, sabedoria e graça, como Jesus.
Como os santos, torna-nos sinal e transparência

da Tua santidade, em relações com sabor a eternidade.

quinta-feira, agosto 29, 2013

 

5ª feira da 21ª semana do Tempo Comum – Martírio de S. João Batista

O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade. (cf. 1 Tes 3,7-13)


A fé em Deus, revelado por Jesus, nosso Senhor,
precisa de crescer em verdade, profundidade
e prática da caridade para com Deus e para com todos.
Deus é amor e alegra-se em ver-nos caminhar
como peregrinos apaixonados duma religião que se faz Aliança
e como irmãos empenhados no bem e na justiça de todos.
Cada um de nós é chamado a ser profeta, como João Batista,
que anuncia o Messias e prepara o caminho da conversão,
ajudando cada um a voltar ao encanto da Aliança
e a acolher a novidade dum amor encarnado na vida.


A amizade do “deixa andar” e do “porreirismo”,
não é um sinal de amor e respeito pelo outro,
assim como, o não podar nem arrancar as ervas daninhas
não é sinal de cuidado benfazejo para a planta.
Crescer no amor é interessar-se pelo outro,
ajuda-lo a crescer na capacidade de doação e compromisso,
liberta-lo do egoísmo, do capricho e da mentira,
devolver-lhe esperança e confiança nas dificuldades.


Senhor Jesus, que Te fizeste nada para assumir Tudo,
cria em nós um dinamismo de crescimento contínuo
na fé, na caridade, na esperança e na comunhão fraterna.
Dá-nos discernimento e arte para sermos profetas da verdade,
sem medo de sermos diferentes e amigos do bem comum.
Neste matagal de valores cheios de direitos,
ensina-nos a saber limpar o acessório prejudicial,
para que possa crescer e frutificar o fundamental.



quarta-feira, agosto 28, 2013

 

4ª feira da 21ª semana do Tempo Comum – S. Agostinho

A palavra de Deus por nós pregada, vós a acolhestes... como ela é realmente, palavra de Deus. (cf. 1 Tes 2,9-13)


Deus fala a linguagem do inefável amor puro,
em elevada frequência de Mistério.
Sem a ação interpretativa do Seu Espírito
e a encarnação missionária do Seu Filho
a Palavra de Deus seria inaudível
e a sua gramática incompreensível.
O profeta e o apóstolo são pessoas capacitadas
para ouvir, em alta frequência, a Voz que parece silêncio
e proclamar, em linguagem humana e compreensível,
a mensagem de luz, de aviso e de alimento
que nos liberta, ama e salva eternamente.
Por isso, quando fala, pronuncia palavras humanas,
mas atua como Palavra de Deus que é realmente.


A evangelização não é uma ação de marketing ou oratória,
por isso, Deus chama Moisés “de boca e língua pesadas” (Ex 4,10),
chama Jeremias “que não sabe falar e é muito jovem (Jr 1,6)
escolhe Pedro que não passa de um pescador da Galileia,
chama Paulo cuja palavra parece fraca e desprezível (cf. 2 Cor 10,10)...
A verdadeira evangelização é feita por místicos e santos
que procuram ser fidelidade entre o que escutam e o que pregam
e ser coerência entre o que celebram e o que vivem.
Há estrelas de palco que movem multidões
e comovem emoções em festivais de milagres,
mas depois o que resta destes seguidores
sem a estrela-gurú que os encandeia?


Senhor Jesus, Palavra fiel ao Coração de Pai,
em linguagem próxima e poderosa,
em cruz de amor incondicional traduzida,
ensina-nos a aprender a linguagem do Mistério
e a seguir o Caminho da Vida da Aliança eterna.
Faz de nós aprendizes atentos da Tua Palavra,
escutada na Bíblia aberta da meditação,
ouvida no sussurro da consciência desperta,
percebida no testemunho e na palavra do irmão.
Cria em nós, frágeis instrumentos por Vós enviados,
bocas proféticas e pés de mensageiro, à maneira de Agostinho,

que se disponibilizam a continuar hoje a Tua Missão.

terça-feira, agosto 27, 2013

 

3ª feira da 21ª semana do Tempo Comum – S. Mónica

Apresentámo-nos no meio de vós com bondade, como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar. (cf.1 Tes 2,1-8)


A história da salvação revela um Deus Pai-Mãe,
que, com amor e paciência nos gerou no coração,
nos ensina a caminhar e orienta os nossos passos na paz,
nos dá o leite da consolação,
mas também o alimento difícil de digerir da provação,
sofre por nos ver perdidos e enfraquecidos,
cuida de cada um de nós e sara as nossas feridas,
com o brilho nos olhos de quem só sabe amar.
O apóstolo é portador da Boa Nova deste Deus,
não só pela fidelidade à mensagem que anuncia,
mas também pela forma como a vive e a anuncia.
Fala mais o testemunho silencioso e perseverante de vida
do que o grito oratório da palavra!


Não pactuar com o mal, não é o mesmo que odiar o pecador.
O fundamentalismo, a intolerância e violência religiosa
negam o Deus e a santidade que queremos defender.
Acreditar no Deus-Amor que está no Céu
é acreditar que só o Amor salva a Terra.
Sem o sabor da justiça, da misericórdia e da fidelidade,
não há evangelização das relações e da cultura.
O cristianismo é um Caminho de vida
e não um compêndio de dogmas abstratos e etéreos.


Senhor Jesus, Caminho, Verdade e Vida,
torna-nos sábios em seguimento fiel
e, não apenas, consumidores de conhecimento religioso
que só nos engorda o orgulho e idolatriza a auto-imagem.
Ensina-nos a ser pai e mãe que geram Cristo para o outro,
numa maternidade paciente, misericordiosa e libertadora.
Faz de nós contemplativos da Tua forma de nos amar e salvar,
para aprendermos a agir da mesma forma em relação aos irmãos.
Como Santa Mónica, ajuda-nos a começar a evangelização

pelos da nossa casa, família, comunidade.

segunda-feira, agosto 26, 2013

 

2ª feira da 21ª semana do Tempo Comum

Recordamos a atividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança. (cf. Tes 1,1-5.8b-10)


A adesão a Jesus leva-nos a conjugar a vida
no plural comunitário e confiante no amor.
É toda uma comunidade que aprende a pulsar Cristo
e a perseverar, pela ação do Espírito Santo,
na prática, profissão e celebração da fé,
no esforço criativo e verdadeiro da caridade
e na firmeza alegre e contagiante da esperança.
É a experiência de sermos ramos unidos à Vide da eternidade,
membros dum Corpo, em comunhão com a Cabeça do Cordeiro,
pedras vivas duma construção espiritual, segundo o projeto de Deus.


A vitalidade de uma comunidade ou Igreja
avalia-se, muitas vezes, pelo número de crentes,
pela quantidade e grandiosidade de obras sociais,
e pela projeção nos meios de comunicação social.
Mas tudo isto, pode não passar de obra meramente humana,
se não respirar e transpirar as três virtudes teologais.
É a fé, a esperança e a caridade que fazem a diferença
entre uma empresa de serviços espirituais e sociais,
e a participação na Missão de Deus, fruto da ação do Seu Espírito.


Senhor Jesus, que lutaste contra as tentações no deserto,
ajuda-nos a discernir e a combater as tentações
dum sucesso a termo, sem continuidade na eternidade.
Dá-nos uma fé que encarne a vida e os valores,
uma caridade que acredite no amor incondicionalmente,

uma esperança que persista viva, mesmo no nevoeiro da fé.

domingo, agosto 25, 2013

 

21º Domingo do Tempo Comum

De todas as nações... trazem a sua oblação em vaso puro ao templo do Senhor. (cf. Is 66,18-21)


No coração de Deus há lugar e amor para todos.
Ele quer reunir todos os seus filhos, de todas as nações,
como a galinha alarga as asas para acolher todos os pintainhos.
Ele quer salvar-nos e fazer de cada um de nós
missionários, salvadores de outros irmãos.
Não interessa o número, mas o vaso puro da oferta,
a santidade de vida, guardada em vasos de barro.
Por isso, Deus anda sempre à nossa procura,
corrigindo-nos como filhos a caminho da conversão,
e a enviar-nos aos outros, como buscadores de irmãos.


Habituámo-nos a olhar-nos cristãos sem Cristo.
Achamos que o cristianismo é uma herança cultural
que se adquire por nascimento e tradição.
Quando muito, construimos um cristianismo
à medida das nossas necessidades e gostos.
Queremos um Cristo à nossa imagem e semelhança
e não nós à medida estreita desta Porta do Céu.
Podemos um dia, quando já não houver tempo,
surpreender-nos demasiado inchados de nós mesmos
para podermos passar pela Porta estreita da Verdade.


Senhor Jesus, Amor missionário em busca de irmãos,
dá-nos um coração novo, que pulse santidade humilde
e bombeie fraternidade inclusiva e evangelizadora.
Ensina-nos a dieta de emagrecimento da vanglória
e da ilusão do brilho solitário de um dia.
Faz de nós um vaso puro e autentico,
peregrino em busca de Ti e dos irmãos,

perfumado de santidade e amor fraterno.

sábado, agosto 24, 2013

 

PROFETAS DA ALEGRIA E DA ESPERANÇA

Neste mundo dividido,
Sem esperança nem paz,
Fala, Senhor, que eu escuto,
Pois Tua palavra me torna
Mais serena e mais audaz,
Para Te anunciar
E testemunhar sem medo,
Não apenas em segredo,
Como Deus que a todos ama
E a todos quer salvar,
Para que, ao saberem quem és,
Se rendam ao Teu amor
E ajoelhem a Teus pés,
Como Deus que é salvador,
Digno e merecedor
De toda a honra e louvor.

Faz que eu aprenda e cresça,
Na alegria da pertença,
De modo a respirar
Paz, amor e confiança,
Ao passar, no dia-a-dia,
A porta estreita da vida,
Coerentemente vivida,
Em total fidelidade
À justiça e à verdade,
Ao perdão e à caridade,
Numa relação com todos
De amor e proximidade,
Sem nunca me acomodar,
Porque a Fé que é celebrada,
Rezada e assimilada,
Precisa ser revelada
Por acções e por palavras,
Onde Deus me colocar.

A Fé é dom de Deus
Que cresce com a adesão
De alma, mente e coração,
Pois quem acredita em Deus,
Com Ele quer construir
Nova Terra e Novos céus,
Onde todos sejam felizes,
Porque todos são filhos Seus.

Maria Lina da Silva, fmm

Lisboa,24.8.2013  

 

S. Bartolomeu, Apóstolo (24 de agosto)

A muralha da cidade tinha na base... os doze Apóstolos do Cordeiro. (cf. Ap 21,9b-14)


Somos uma Igreja apostólica, escolhida e enviada por Jesus
a dar testemunho do que ouviu e viu,
da Fonte da Vida que salva o deserto da morte.
Jesus escolheu doze apóstolos como alicerces do novo povo,
mas o Cordeiro Vivente e o Seu Espírito continuam a chamar
novas testemunhas autorizadas para continuar a missão
de anunciar a verdade, evangelizar a esperança,
coordenar a caridade e a comunhão,
combater o mal e curar o perdão,
celebrar a Aliança e a nossa Páscoa.
S. Bartolomeu é um destes alicerces, escondidos na base,
que continua a falar e a testemunhar:
«Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel!».


A festa popular de S. Bartolomeu, em alguns lugares,
está associada a práticas de exorcismos,
pois diz-se que nesse dia o Diabo anda à solta.
O problema é quando se acha que o mal só atua durante um dia,
pois esquecemos a recomendação do Senhor,
que nos alerta para vivermos em vigilância permanente
e rezarmos: “não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal”.


Senhor Jesus, Cordeiro vencedor de todo o mal,
cura-nos e liberta-nos da cegueira do pecado
e do medo que nos paralisa a esperança e a confiança.
Ajuda-nos a viver sem fingimento, como Natanael,
em coerência apostólica entre a vida e a fé professada.
Faz de nós apóstolos para mundo de hoje,
que vivem a intimidade dum amor eterno

e testemunham a valentia duma fé perseverante.  

sexta-feira, agosto 23, 2013

 

6ª feira da 20ª semana do Tempo Comum

Irei para onde fores e viverei onde viveres. (cf. Rute 1, 1-2a.3-6.14b-16.22)


Deus escolheu um povo, mas ama todos os povos.
Rute é o exemplo de uma moabita que sabe amar
e ser fiel ao marido e depois à sua sogra Noémí.
Quando as duas ficam viúvas, permanecem unidas,
não há religião, nem nacionalidade que as separe.
Esta fidelidade fez de Rute, uma moabita,
uma ascendente do rei David e do Messias.
É uma migração bem sucedida que nasce da fome de pão,
se concretiza num encontro de culturas e de povos
e floresce no mais belo amor de família intercultural.


A mobilidade humana, por diversas razões,
tem motivado o encontro de culturas e religiões,
o enriquecimento mútuo, fruto da miscigenação de povos,
e o melhor conhecimento do outro, que esvazia preconceitos.
O outro deixa de ser uma caricatura abstrata
e passa a ter um rosto, um nome e um coração concreto.
Deixa-se de falar nos africanos, asiáticos, muçulmanos...
e passa-se a falar do meu vizinho, do meu amigo, do meu colega...
Deixamos de olhar para os atributos externos
e passamos a fixar-nos na essência única de cada pessoa humana.


Senhor Jesus, obrigado porque migraste do Céu para a Terra,
não para fugires à fome donde vieste,
mas para conduzir os homens à abundância feliz do Céu,
para onde queres que desejemos migrar.
Ensina-nos o caminho do encontro que nos redescobre irmãos
e ajuda-nos a fazer da terra uma ante-câmara do Céu.
Dá-nos a Tua paz e move-nos para o outro diferente,
para caminharmos para uma globalização do amor,
do diálogo, da solidariedade, da justiça e da comunhão.
Pai nosso que estais nos Céus,

dá-nos hoje o pão da fraternidade e do encontro.

quinta-feira, agosto 22, 2013

 

5ª feira da 20ª semana do Tempo Comum – Virgem Santa Maria, Rainha

Eu tomei um compromisso diante do Senhor e não posso voltar atrás. (cf. Jz 11,29-39a)


Deus chama Jefté, como Juiz, para combater os amonitas.
Jefté promete a Deus, se voltar são e salvo,
a sacrificar a primeira pessoa que sair da sua casa
e vier ao seu encontro, no regresso das suas batalhas.
Trocou a oferta da sua vida pela da sua filha única,
que foi quem veio ao seu encontro para celebrar a vitória.
Deus não quer sacrifícios humanos,
pois não se alimenta de sangue humano ou animal,
nem necessita do nosso dinheiro,
mas quer a total entrega de amor e fidelidade à Aliança.


Muitas pessoas, em horas de aflição, fazem promessas a Deus,
a maioria das vezes, por meio da intercessão de algum santo.
Deus não deve gostar do teor de muitas destas promessas,
apesar de tudo, não deixa de atender ao aflito que suplica.
Prometer colocar dinheiro numa imagem, durante a procissão,
é uma idolatria, pois dá a entender
que a graça foi motivada pelo dinheiro prometido e oferecido.
No final, não fica claro se devemos adorar a Deus ou o dinheiro!
Precisamos de purificar a nossa fé e as nossas promessas
e de dar importância aos votos que Deus aprecia:
as promessas de vida nova em Cristo no Batismo,
o “não voltar a pecar” da confissão,
o “ámen” da comunhão com e em Cristo, na Eucaristia,
o “ser-te fiel todos os dias da minha vida” do matrimónio,
o “prometo fidelidade e obediência” do sacerdócio,
o “amar o próximo como Jesus nos amou” de todo o cristão...


Pai omnipotente, Senhor de tudo e de todos,
tudo vos pertence e nada quereis de nós,
a não ser o nosso amor e a nossa fidelidade,
ajuda-nos a fazer da nossa vida uma oferta agradável,
perfume suave e aprazível a Deus e aos outros.
Liberta-nos do medo que nos distrai das verdadeiras promessas
e faz da nossa vida um compromisso fiel
que se consome em doação permanente por amor.
Como Maria, ensina-nos a ser Rainha, humilde serva,

e a fazer da nossa vida um “faça-se a Tua vontade!”

quarta-feira, agosto 21, 2013

 

4ª feira da 20ª semana do tempo Comum

Disseram ao espinheiro: ‘Vem tu reinar sobre nós’ (cf. Jz 9,6-15)


No deserto o povo fez um bezerro de ouro
e adorou-o como seu deus e salvador.
Na terra prometida, a assembleia de Siquém
elegeu Abimelec, a ganância violenta, para ser seu rei.
Trocaram a Nuvem que protege e ilumina
por um espinheiro que mata e oprime os seus irmãos
e governa com a arma do medo e da injustiça.
À sombra de um espinheiro, a Aliança morre de insolação.


Hoje, perante o esquecimento de Deus e a crise,
muitos procuram soluções mágicas em desnorte:
roubo e corrupção, confiança em políticos sem palavra,
jogos de azar ou lotarias de sorte,
rituais de magia e religiões mistéricas...
Trocam a busca de Deus e o discernimento do bem,
que exigem perseverança para semear e esperar os frutos,
por soluções imediatas, saídas das mãos de um ilusionista.


Senhor Jesus que nos ensinaste a rezar:
“Pai, venha a nós o Vosso Reino”,
alarga o espaço da nossa tenda e purifica-nos da idolatria,
para que haja acolhimento dum novo Céu e uma nova terra,
onde habite a liberdade, o amor e a justiça.
Une-nos na confiança filial no Deus da Aliança e da misericórdia
para nos tornarmos servidores do teu Reino de paz e fraternidade.
Liberta-nos da ilusão das soluções sem cruz nem esforço

e fortalece a valentia da nossa perseverança no bem.

terça-feira, agosto 20, 2013

 

3ª feira da 20ª semana do Tempo Comum

«O Senhor está contigo, valente guerreiro» (Jz 6,11-24a)


Deus vem ao encontro dos últimos,
na valorização humana e nos critérios culturais,
pois Ele vê o interior e conhece a sua valentia.
Foi assim a vocação de Gedeão,
filho de família humilde e o mais novo da sua família,
é assim, hoje e sempre, com cada um de nós.
Deus toma a iniciativa, chama para uma missão,
e orienta as energias escondidas para o bem comum.
Gedeão manifesta-se um buscador de Deus,
em diálogo humilde e orante de fé e da razão.
Uma vez confirmado no discernimento vocacional,
Gedeão deixa tudo e segue o Senhor.


A sociedade está organizada
para que os direitos de herança se sobreponham
às caraterísticas únicas que é cada pessoa.
Os filhos dos marginalizados e pobres
têm a tendência a herdar essa condição.
Os filhos da nobreza e dos ricos
têm a tendência a continuar nessa condição.
A democratização do ensino veio, em parte,
furar este esquema fechado e bloqueador,
que nega a liberdade e a valentia, escondida entre farrapos.
Precisamos de aprender a olhar como Deus,
para além da condição social, cultura ou nacionalidade.


Senhor, que nos conheceis até à raiz do nosso ser,
e nos chamais a colocar a nossa força e valentia
ao serviço do bem comum e da paz,
revela-nos quem somos e, com a Tua ajuda,
prepara-nos para as missões que quiseres.
Faz de nós anjos que fazem os outros grandes
e os desafiam a crescer e a desabrochar

em sabedoria e arte ao serviço do bem comum.

segunda-feira, agosto 19, 2013

 

2ª feira da 20ª semana do Tempo Comum

Depressa se desviaram do caminho que seus pais tinham seguido. (Jz 2,11-19)


A humanidade está numa permanente adolescência,
baloiçando entre a submissão momentânea e interesseira
e a rebeldia crónica e descomprometida.
Deus sofre por ver o seu povo sofrer.
Podendo ser um povo parceiro da Aliança,
opta por se submeter aos ídolos que lhe sugam a vida.
A época do Juízes está marcada pelo desnorte do povo
e as aflições de Deus que vai suscitando Juízes,
para os conduzir, como Gedeão, Débora e Sansão.
É uma época atribulada, pois cada tribo luta por si,
falta a união entre todos e a fidelidade ao Senhor.


Para evitar cristãos em adolescência permanecente,
a Igreja investiu na formação, exigindo cursos específicos:
há cursos de preparação para o batismo,
a catequese para a 1ª comunhão, confissão e crisma,
cursos de preparação para o matrimónio,
curso teológico e espiritual para a preparação da ordenação...
No entanto, as pessoas querem os sacramentos,
mas não querem ser sacramento de fé e sinal da Aliança.
Por isso, muitos destes cursos são para picar o ponto
e não uma oportunidade propícia de conversão.


Senhor nosso Deus e nosso Pai,
Educador paciente e Pastor fiel,
ajuda-nos a crescer para a maturidade na fé
e a fidelidade nas provações da abundância e da miséria.
Cria em nós o sentido do bem comum,
para que não queiramos salvar-nos sozinhos,
mas aprendamos a dar as mãos solidárias

e elevar o olhar em atitude de louvor ao Criador.

domingo, agosto 18, 2013

 

Domingo 20º do Tempo Comum

Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado. (cf. Heb 12,1-4)


Jesus não vem consagrar a paz dos senhores de turno.
Ele vem anunciar o Reino de Deus,
em verdade e justiça, curativo do pecado,
libertador do mal e misericórdia em renovação.
A sua Palavra é profética,
espada afiada que fere a mentira e protege o frágil.
Porque não busca o seu próprio interesse,
mas a fidelidade a Deus e à Sua vontade,
é perseguido e pressionado a ser silêncio pactuante com o mal.
A perseverança nas perseguições e a fidelidade à verdade,
mesmo quando a vida é torturada numa cruz ou numa cisterna,
são a marca da autenticidade profética.


Hoje há muitos cristãos perseguidos no mundo.
Igrejas queimadas, pessoas descriminadas, cristãos mortos...
É o medo e a ameaça a querer silenciar a verdade
e a destruir a diferença na expressão religiosa e na justiça.
Ao lado destes cristãos dispostos a dar a vida pela sua fé,
há os cristãos insonsos e insensíveis,
sempre ao lado de quem vence e lhes assegura o interesse,
decididos a trocar Cristo e a própria consciência
para ter a glória de um dia e a paz da mentira.


Senhor Jesus, misericórdia profética em fidelidade doada,
liberta-nos do medo de perder-nos,
e converte-nos em círio pascal que se consome livremente
para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte.
Aumenta a nossa fé e cria em nós identidade cristã,
para que sejamos profecia viva na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença, na perseguição e na aclamação,

em todos os dias e situações da nossa vida.

sábado, agosto 17, 2013

 

Sábado da 19ª semana do Tempo Comum

Escolhei hoje a quem quereis servir. (cf. Jos 24,14-29)


As escolhas, para criarem raízes e darem frutos,
necessitam de ser atualizadas cada hoje.
Josué sabe que a fidelidade é volátil
e assemelha-se ao camaleão, em adaptação mimética,
por isso, leva o povo a decidir-se
sobre quem querem servir.
O povo responde que escolheu servir o Senhor da Aliança,
mas a palavra é mais fácil de pronunciar
do que atualizar no quotidiano das opções diárias.


Apesar do ideal de liberdade imperar,
acabamos por servir sempre a algum senhor.
Há os senhores que elevam os servos à condição de amigos
e há senhores que escravizam os seus servos,
com promessas ilusórias e desumanizadoras.
Servir o poder e o sucesso obsessivo,
cria escravos da ribalta e da mentira.
Servir a ganância materialista,
cria escravos do consumismo
e máquinas de trabalho sem horário nem Domingo.
Servir a felicidade induzida e momentânea,
acorrenta dependências que cavam anemia
de ressaca em ressaca.


Senhor Jesus, Rei dos reis,
que Te fizeste servo até dar a vida,
para que pudéssemos ser filhos da libertação,
fideliza-nos na arte de Te servir,
para podermos ser livres para amar.
Liberta-nos do comodismo do camaleão
e dá-nos uma fé vertebrada e profética,

marcada pelo testemunho evangélico.

sexta-feira, agosto 16, 2013

 

6ª feira da 19ª semana do Tempo Comum

Assim vos salvei das suas mãos. (cf. Jos 24,1-13)


O esquecimento é a raíz da ingratidão e da idolatria,
por isso, Josué, após a conquista da Palestina,
reúne os responsáveis das doze tribos em Siquém.
A Palavra do Senhor faz-se memória da história da salvação,
e recorda como Deus tomou a iniciativa de chamar Abraão,
as promessas que lhe fez e repetiu aos seus descendentes
e de como elas se foram realizando no tempo e no espaço.
É um credo em forma de narrativa histórica,
que recorda e revela as respostas às questões vitais:
quem somos, donde vimos, como chegámos aqui,
como nos devemos comportar,
quem foi o verdadeiro suporte da nossa vida e felicidade?


Vive-se o presente sem passado nem futuro.
Por isso, rareiam vocábulos como:
gratidão, compromisso, ideal, esperança,
palavra de honra, celebração e memória histórica,
exame de consciência, avaliação de vida, fé, valores...
O esquecimento é uma doença grave da nossa sociedade.
Há pais que esquecem os filhos em casa ou no carro,
há filhos que esquecem os pais em casa, nos lares ou no hospital,
há esposos que esquecem que estão unidos pelo matrimónio,
há consagrados e sacerdotes que esquecem a sua vocação e missão,
há cristãos que esquecem que se comprometeram a seguir Cristo,
há pessoas que esquecem que o outro é meu irmão...


Senhor Jesus, memória viva duma aliança eterna
e verdade plena duma fidelidade sem ruturas,
ajuda-nos a parar para ver a nossa história,
com o olhar da fé e a memória do amor estrutural.
Liberta-nos da doença da esclerose seletiva e míope
que nos impede de ver para além do horizonte
e nos fixa no medo, na raiva e na superficialidade do instante.
Ajuda-nos a encontrar momentos para reavivar a história
e a dar continuidade a compromissos,
a viver com coerência e verdade as relações,
a dar graças e a louvar, a fortalecer a fé e a esperança.
Ensina-nos a conjugar de novo a vida a caminho

no presente, no pretérito e no futuro.

quinta-feira, agosto 15, 2013

 

Assunção da Virgem Santa Maria

Em Cristo serão todos restituídos à vida. (cf. 1 Cor 15,20-27)


Cristo entrou no mundo pela porta de Maria.
Ele encarnou em Maria e Maria deixou-se moldar por Cristo.
Conforme ia ajudando Jesus a viver como homem,
ia aprendendo com Jesus a viver como filha de Deus.
É a cátedra da intimidade, enraizada no amor,
que a faz peregrina na fé, envolvida pela nuvem do Mistério.
Ela corre, muitas vezes sem entender,
e guarda no coração a paciência de esperar,
porque confia e acolhe as maravilhas que Deus quer operar.
Não olha para a humildade da sua serva,
mas para a grande misericórdia e graça do Seu Senhor.


A maior parte das paróquias têm Maria, como padroeira.
Ela não eclipsa Jesus como único salvador.
Ao olhar para Ela vemos a transfiguração da Igreja:
vemos Maria de Nazaré transfigurada em Mãe de Deus
e a Igreja feita de homens frágeis e pecadores,
salvos na fé, pela misericórdia que brota da Cruz.
É pela fé em Jesus que todos nos salvamos,
mas é pelos “Sins” de Maria e da Igreja a Deus,
que Jesus quer salvar a humanidade.


Senhor Jesus, Porta do Céu e Caminho de Vida divina,
ensina-nos a fazer da utopia da santidade uma realidade,
ao contemplarmos Maria, simples e humilde,
a viver da fé, em diálogo confiante e expectante.
Que o Teu Espírito nos conduza pelos caminhos da fé
e, como Maria, saibamos correr para a montanha do encontro
e partilhar a alegria em magnificates eucarísticos

e servir a vida em disponibilidade solidária e missionária.

quarta-feira, agosto 14, 2013

 

4ª feira da 19ª semana do Tempo Comum

Foi ali, na terra de Moab, que morreu Moisés, servo do Senhor. (cf. Dt 34,1-12)


Moisés morreu como viveu: “servo do Senhor”.
Foi um grande profeta, místico e líder,
mas, apesar disso, só pôde ver a Terra da promissão.
Deus quis que fosse um discípulo, Josué,
a quem impôs as mãos e moldou o espírito,
que conquistasse a terra prometida a Abraão.
A promessa realiza-se no tempo, ao ritmo da eternidade,
quando encontra “servos de Deus” abertos
à aventura da fé e à fidelidade à Aliança.


O progresso não significa apenas inovação tecnológica.
A energia atómica, quando nas mãos dum cientista do bem,
torna-se numa fonte de energia ecológica e sustentável,
mas quando está em poder de mentes maléficas,
transforma-se numa arma de destruição massiva e permanente.
O progresso sem “servos de Deus” e ética do bem e da justiça
é perverso e semeia o medo e a divisão para dominar.
Servir o Senhor e praticar a Aliança é progredir na libertação.


Senhor, venha a nós o vosso Reino
e faz de nós servos fieis da Lei do Amor.
Dá-nos o Teu Espírito de sabedoria
para que sejamos agentes de progresso da humanidade
até à estatura e beleza do Homem Novo,
à imagem e dignidade do Filho de Deus.
Ensina-nos arte de servir a Liberdade

e faz de nós místicos e profetas da libertação.

terça-feira, agosto 13, 2013

 

3ª feira da 19ª semana do Tempo Comum

Sede fortes, sede valorosos... O Senhor, vosso Deus, irá convosco. (cf. Dt 31,1-8)


É Deus quem salva por meio de Moisés, Araão, Josué...
São instrumentos de missões limitadas e definidas.
Uns, como Moisés, libertam da escravidão e medeiam a Aliança,
outros, como Josué, conquistam a terra prometida.
O fundamental é que sejam fieis ao projeto de Deus
e sejam fortes na fé para confiarem mais em Deus,
Companheiro-Pastor invisível e operante,
do que nas próprias forças e capacidades.
Quem perde a fé fica possuído pelo medo
e treme mesmo perante a sombra do adversário.


A vida é como uma corrida de estafeta
em que cada um confia ao outro o seu testemunho.
Quem corre e ganha é a equipa no seu conjunto,
e não pessoas individuais, por melhores que sejam.
Se alguém tiver medo de entregar o seu testemunho ao outro,
é a equipa toda que perde a corrida.
É o medo de confiar em Deus e no outro
que leva muitos, que confiam demasiado em si mesmos,
a terem dificuldade em deixar os seus cargos e lideranças.
É preciso aprender com Moisés a confiar em Josué,
preparando os jovens para assumirem responsabilidades.
O pouco investimento na formação
e a dificuldade em delegar e trabalhar em equipa,
comprometem o futuro e criam descontinuidades.


Senhor Jesus, que entregaste nas nossas mãos
o tesouro da Tua Missão e a salvação da humanidade,
ajuda-nos a ser fieis, fortes e capazes
para que, com humildade e dedicação,
respondamos com generosidade à nossa vocação.
Liberta-nos da cegueira do poder que nos instala
e do medo de delegar que nos definha
e quebra a corrente que assegura o futuro.
Ajuda-nos a confiar em Ti e a avançar sem medo

quando tentamos responder ao desafio da Nova Evangelização.

segunda-feira, agosto 12, 2013

 

2ª feira da 19ª semana do tempo Comum

Ele ama o estrangeiro... Amai, portanto, o estrangeiro. (cf. Dt 10,12-22)


Deus não faz aceção de pessoas, ama a todos.
Nós, se queremos parecer-nos com este Pai,
devemos também amar a todos e fazer aos outros
o que gostaríamos que nos fizessem a nós.
A situação de fragilidade do estrangeiro,
não pode ser uma ocasião de exploração e servidão,
mas uma oportunidade para amar e acolher como irmão.


Estamos na Semana da Mobilidade Humana.
Há uns que se movem para descanso e turismo,
outros por necessidades económicas e laborais,
outros por fuga e refúgio político ou religioso.
Há os que são obrigados a sair da sua terra,
outros que o fazem por vontade própria e aventura,
outros por ideal missionário e vocação religiosa.
Todos manifestam a nossa condição de peregrinos
em busca insaciável da felicidade e da justiça,
duma fraternidade sem fronteiras,
dum Deus apátrida, peregrino connosco e hóspede neles.


Senhor Jesus, que Te identificaste com o estrangeiro
e nos desafias a acolhe-lo como se fosse o Filho de Deus,
ensina-nos a arte da hospitalidade que nos surpreende irmãos.
Modela-nos segundo a Tua Aliança
e torna-nos peregrinos dum mundo novo,
capaz de olhar o Céu com esperança e confiança

e de olhar o outro com o coração, concebendo-o irmão.

domingo, agosto 11, 2013

 

19º Domingo do Tempo Comum

A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem. (cf. Heb 11,1-2.8-19)


A fé nasce da confiança em Deus e na sua Palavra,
mais do que da confiança em nós
e na evidência do que vemos ou comprovamos.
É aprender a caminhar na noite dos sentidos
e deixar-se conduzir por mediações
que apontam a aurora, mas não definem a hora.
A história da salvação está cheia de peregrinos da fé
que souberam esperar promessas,
que nasceram na eternidade
e se concretizaram em calendários para além do solar.
São as horas de Deus, em cartas de amor, sem data anunciada.


Vivemos numa dualidade discordante:
aceitamos apenas no que experimentamos
e por isso perdemos a paciência com Deus,
e depois acreditamos piamente
na trama ilusória do marketing que quer vender e
nas promessas utópicas de quem nos quer comprar o voto.
Perdemos o sentido crítico e a capacidade de analisar a história,
para sabermos distinguir a rocha da verdade que permanece
do embrulho vistoso que esconde a mentira e desaparece.
O resultado são pessoas inseguras e descrentes,
em busca cega dum porto seguro e duma âncora firme.


Senhor Jesus, Esposo escondido que nos provas a fidelidade,
ensina-nos a confiar e a saber esperar a Tua hora de salvação.
Manifesta-Te como Luz na noites dos nossos pesadelos
e dá-nos a paz de quem se sente envolvido pelo amor
que bate eternidade e paixão paciente e misericordiosa.
Revela-nos a gramática da fé que sabe ler a vida
e, entre cabeçadas e birras de quem só pensa em si,
ajuda-nos a descobrir o Pai que espera um abraço de perdão,
o Irmão que está disposto da dar de novo a vida por nós,
o Espírito da Verdade que nos faz ver o invisível

e faz novas todas as coisas no fogo do amor.

sábado, agosto 10, 2013

 

NÃO TENHAIS MEDO!

Neste tempo de agitação,
De stress e inquietação,
Quem pára, para pensar,
Reflectir e ponderar,
É, hoje, considerado
Bem pouco esperto, coitado,
Pois parece indiferente
Aos bens que são do “mais forte”,
De quem neles põe seu norte,
Mas sempre mui descontente.

Coitado, diria Jesus,
É quem se sente inseguro
E anda sempre incomodado,
Por tudo ambicionar
E o que tem amontoado,
Teme lhe seja roubado.

“Não temais”, disse Jesus
A quem n’Ele acredita,
Pois Ele é Luz que nos guia,
Quer de noite, quer de dia,
De modo a viver vigilante,
A toda a hora e instante,
E até transformar o medo
Em oração confiante
Que nos revela o segredo
Da Fé que se faz Luz e Vida,
De paz e amor sem medida,
Como Luz que se acende
E aumenta a confiança
No Deus da eterna Aliança,
Que era e que é, hoje e sempre!

Embora “pequeno rebanho”,
Jesus nos garante o empenho
De Deus em nos revelar
Os segredos do Seu Reino,
Se permanecermos fiéis,
Atentos e cumpridores
Da vontade de Deus Pai,
Vivendo preocupados
Com os valores do Reino,
Inspirados no Amor
De Jesus Nosso Senhor.

Maria Lina da Silva, fmm

Lisboa, 10.8.2013  

 

Sábado da 18ª semana do Tempo Comum - S. Lourenço

Deus ama aquele que dá com alegria. (cf. 2 Cor 9,6-10)


Deus é dom, em alegre e permanente doação.
O Seu Ser manifesta-se em amor criador e redentor.
As Suas criaturas, para serem semelhantes ao Criador,
devem aprender a alegria de doar-se generosamente,
pois a vida é dom circular, que quando retido, morre
e torna-se lixo que intoxica a felicidade.
O dom para gerar alegria e abrir o outro ao desejo da reciprocidade,
não deve ser presente ou esmola carrancuda que humilha,
mas sinal dum amor que faz o outro único e aperfilha.


S. Lourenço, diácono de Roma, no séc. III,
era amado por Deus e por todos,
porque dava com alegria e cuidava com amor os pobres.
Eles eram o seu tesouro no qual servia a Cristo.
O dinheiro e a administração da caixa comum da diocese,
não o corromperam nem o submeteram ao ídolo
da arrogância, da ganância, da soberba, da avareza e do poder.
Foi capaz de dar a vida pelo seu único tesouro:
a fé em Jesus e o amor à Igreja e aos pobres.
É uma coerência feliz de vida que interpela
os políticos, os administradores, os chefes... todos nós.


Senhor Jesus, que sendo rico Te fizeste pobre,
em doação feliz até à cruz da entrega total,
faz de nós teus discípulos fieis
no contágio do dom e da alegria de servir sem medida.
Ensina-nos o segredo da alegria de fazer da vida uma oferta
e generoso amor sensível a quem definha
esquecido e marginalizado na festa da vida.
Como S. Lourenço, da-nos o dom de viver da fé
que nos liberta das amarras da avareza

e nos torna livres para amar e servir, de sorriso no coração.

sexta-feira, agosto 09, 2013

 

Festa de S. Teresa Benedita da Cruz, virgem e mártir, Padroeira da Europa

Hei-de conduzir Israel ao deserto e falar-lhe ao coração. (cf. Os 2,16b.17b,21-22)


O povo instala-se e acomoda-se,
esquece que é um peregrino da liberdade;
sedentariza-se física e espiritualmente.
A escravidão não tem apenas um nome ou um lugar,
umas vezes chama-se Egito, outras Babilónia,
outras Israel, outras nazismo, outras máfia,
outras dependência, outras pecado....
O Deus de ontem, de hoje e de sempre, quer ver-nos livres
e reconquistar-nos o coração, em aliança de amor.


Edith Stein, filósofa judia, encontrou na cruz de Jesus
o caminho que a conduziu ao deserto da libertação.
Ela descobriu que um cristão não é contra ninguém,
apesar da sua família a ter visto como traidora,
mas é alguém que, em Cristo, se revela irmã de todos
e no deserto da cruz e no êxodo da fé,
se deixa conquistar pelo amor e pela bondade de Deus.
Mesmo no terror absurdo do campo de concentração,
o silêncio de Deus continua a falar e a iluminar
a esperança solidária duma Páscoa de libertação.


Senhor, Esposo enamorado de corações acomodados,
conquista o tesouro das nossa almas
e conduz-nos ao deserto da nossa conversão à Aliança.
Faz de nós peregrinos inquietos da Verdade e do Amor.
Ajuda-nos a acertar o nosso passo com o de Cristo,
para que seja um namoro fiel e virgem,

livre do peso do engano e das amarras dos ídolos.

quinta-feira, agosto 08, 2013

 

5ª feira da 18ª semana do Tempo Comum – S. Domingos

«Escutai, rebeldes. Poderemos nós fazer brotar água deste rochedo?» (cf. Num 20,1-13)


A fome e a sede põem as seguranças em estado de alarme.
O povo desidrata-se de água e de fé,
por isso, murmura contra Deus e a sua bondade.
Moisés e Araão refugiam-se no Senhor,
mas Deus também coloca à prova a sua fé,
pedindo-lhes que, na frente de todos,
façam brotar água dum rochedo.
Moisés e Araão duvidaram e murmuram contra o povo.
Foi preciso tocar duas vezes com a vara,
para que o rochedo se revelasse nascente de vida.
Apesar da rebeldia do povo e da descrença dos líderes,
Deus manifestou a Sua santidade e fidelidade.


Hoje vivemos uma profunda crise de confiança.
Todas as seguranças caíram como baralho de cartas.
Os líderes políticos enchem-nos de promessas vazias,
os professores ensinam teorias que não funcionam na prática,
os mercados deambulam desregulados e instáveis,
a liberdade anda divorciada da verdade e da responsabilidade,
a própria Igreja, que devia ser luz do mundo e oásis de santidade,
escandaliza-nos com o pecado de alguns dos seus ministros...
Qual é hoje a rocha que pode fazer brotar a vida
e alicerçar a fé e a confiança, contra toda a esperança?


Senhor Jesus, manancial donde brota a vida para todos,
rocha firme que se abre em coração aberto,
sacia-nos com a Água Viva que brota da Cruz
e alimenta a nossa pouca fé com o Pão da Aliança.
Ajuda-nos a aproveitar esta crise para purificar a nossa fé
e fortalecer a nossa confiança na Tua Palavra libertadora.
Que nos desertos de pão e água não caiamos em desespero,
mas saibamos procurar a Tenda da Reunião
e prostrar-nos em busca confiante

de quem confia em nós, numa Aliança para sempre.

quarta-feira, agosto 07, 2013

 

4ª feira da 18ª semana do Tempo Comum

É de facto uma terra onde corre leite e mel (…) Mas o povo que o habita é poderoso. (cf. Num 13, 1-2.25 – 14, 1.26-29.34-35)


Deus quer dar a terra de Canaã ao seu povo,
mas mostra-lhes que este dom precisa de ser conquistado.
Porque é uma terra fértil e bem situada
já está habitada e as suas cidades fortificadas.
O povo, ao dar-se conta de que não é um dom sem esforço,
chora e murmura contra Deus, como uma criança,
em vez de estudar a melhor forma de a conquistar.
Precisou de quarenta anos para nascer uma geração nova,
habituada a vencer o deserto e a perder o medo,
moldada pela fé e pela confiança em Deus.


A providência de Deus é tão habitual
que quase não nos damos conta dela:
o dom da vida, o dom da inteligência, o dom da saúde,
o dom da amizade, o dom da natureza e dos seus frutos...
Deus protege-nos e agracia-nos, mas quer ver-nos crescer,
maduros para lutar, fieis para resistir,
companheiros para ajudar e apoiar,
espertos como as serpentes e simples como as pombas.
Deus não é apenas um médico de urgências,
nem um bombeiro apaga fogos,
nem um polícia que protege e castiga.
Ele quer que cresçamos até à estatura do Seu Filho,
capazes de dar a vida por uma causa boa,
de confiar e acreditar em Deus, mesmo na escuridão da morte.


Senhor Jesus, fidelidade madura e confiança incondicional,
liberta-nos do medo que nos deforma a visão
e da mão estendida de braços cruzados e paralisados.
Ensina-nos a arte de tudo fazermos
como se tudo dependesse de nós,
sabendo e acreditando que tudo realmente depende de Vós.
Perante este mundo que precisa de evangelizar a esperança,
faz de nós testemunhos maduros e fieis
que colaboram nesta missão de amadurecer a humanidade

na fé adulta e no amor verdadeiro ao Deus da vida.

terça-feira, agosto 06, 2013

 

Festa da Transfiguração do Senhor

Não foi seguindo fábulas ilusórias (…) mas por termos sido testemunhas. (2 Ped 1,16-19)


Pedro anuncia Jesus como Senhor da vida,
a partir do que viu e ouviu, antes e depois da Páscoa,
e do que confirmou pela palavra dos profetas.
É uma experiência que o envolve na nuvem do Mistério
e esconde a majestade divina na humanidade crucificada,
surpreendentemente confirmada e amada por Deus.
Para ver e ouvir a voz dum Pai que alimenta o amor
é preciso subir à montanha da oração e da escuta
que nos faz ver para além da estrelas
que não iluminam as trevas em que caminhamos.


A vida da fé decorre entre as Nazarés do quotidiano
e as Jerusaléns do Templo e do Calvário.
Pelo meio, há uns lampejos de Tabor,
umas auroras de estrelas da manhã
que transfiguram o sem sentido
e revelam a história, como o fotógrafo revela o negativo.
A transfiguração brota da fé em Jesus que salva pela cruz
e não dum messias domesticado e à nossa imagem,
que faz milagres em espetáculos de massa
e nos ilude com felicidades a termo e reinos deste mundo.


Senhor, Filho de Deus, revelado e escondido,
pela palavra e vida de Jesus de Nazaré,
cura a cegueira da nossa fé e a surdes da nossa rebeldia,
para que Te possamos ver e ouvir hoje
nos montes da contemplação, da oração e da escuta da Palavra.
Aumenta a nossa fé quando celebramos os sacramentos,
para que o rito se transfigure em revelação
e a hóstia branca em Pão de divina filiação.
Faz que também a Igreja, Teu Corpo em peregrinação,
possa transfigurar a beleza e a santidade

escondida na humana fragilidade.

segunda-feira, agosto 05, 2013

 

2ª feira da 18ª semana do Tempo Comum

Toma este povo nos braços, como a ama leva a criança ao colo. (cf. Num 11,4b-15)


Deus pede a Moisés que conduza o Seu povo
com sentimentos maternos e coração de pastor.
O povo, perante a monotonia do Maná de cada dia,
chora de saudades do peixe e das cebolas escravas do Egito.
É como criança birrenta que está disposta
a trocar a liberdade por uma panela cheia da carne.
Perante a tirania do deus do ventre que lacrimeja saudades,
Moisés fica desesperado e pede ajuda ao Deus libertador.


A libertação de dependências supõe o sofrimento
trazido pelo síndrome de abstinência.
A tentação é voltar atrás para apaziguar o mal-estar,
trocando a libertação pela desfastio momentâneo.
É assim com as drogas, é assim com o pecado.
Vivemos num mundo despreparado para suportar o sofrimento,
a rotina, o jejum, a abstinência, o silêncio, a doença...
Não há ressurreição sem passar pela cruz e pela morte.


Senhor Jesus, Pão da Vida que liberta
e Palavra de Luz que salva,
ensina-nos a ser fieis na dor e no fracasso
para Te seguirmos no caminho da Páscoa.
Liberta-nos de todo o tipo de dependências
e das saudades compensatórias dos impulsos cegos.
Fortalece em nós o desejo de liberdade e de ousadia,
para que saibamos crescer até à libertação total

e ajudar os desanimados a carregar a sua cruz, sem fugas.

domingo, agosto 04, 2013

 

Domingo 18º do Tempo Comum

Nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade. (cf. Co (Ecle) 1, 2; 2, 21-23)


Deus fez de nós seus colaboradores na Criação.
Deu-nos força e engenho para que, pelo trabalho,
possamos semear, construir e transformar a natureza.
É belo ver o homem voar sem asas,
nadar sem barbatanas, comunicar à distância,
conseguir ver para lá do horizonte e para cá do visível...
O problema é quando se deixa dominar pela vaidade,
e de colaborador passa a ver-se senhor da terra e do tempo,
e começa a acumular apenas para si e contra os outros,
e esquece que está de passagem e em aprendizagem
a viver a eternidade dum amor semelhante ao de Deus.


Temos cada vez mais eletrodomésticos ao nosso serviço
e menos tempo para descansar e estar com os outros.
O acumular novidades passou a ser o nosso tesouro.
Para o alcançar usamos a ciência para destruir a concorrência,
retiramos tempo ao descanso para aumentar a eficiência,
secundarizamos as relações e a gratuidade do encontro,
perdemos a fé e a abertura da vida à eternidade.
É uma vaidade ilusória que o funeral desmascara.
Quem não acumulou para Deus, exercitando-se na arte de amar,
perdeu o tempo e vai estar eternamente perdido na eternidade.


Senhor Jesus, Mestre na arte de viver para sempre,
liberta-nos da idolatria da avareza e do poder presente,
que nos eclipsa a generosidade e a alegria de construir juntos.
Ensina-nos a usar todas as nossas energias e inteligência
para melhorar a ecologia da natureza a pensar no futuro,
para educar as novas gerações para a justiça e o bem comum,
para antecipar o Céu na convivência fraterna entre diferentes.
Envia-nos o Teu Espírito de verdade e caridade
para nos ensine a ver na fé que só Tu és o Caminho
que nos traz a paz e nos alegra em servir a felicidade

a quem fez da sua vida um pesadelo contínuo.

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