sexta-feira, agosto 31, 2012

 

A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o noivo, ide ao seu encontro! (cf. Mt 25,1-13)

A vida é a preparação da grande festa do encontro
com Aquele que nos fez uma declaração eterna de amor.
Preparar-se para o encontro
é seguir o caminho da prudência,
pois não sabemos o dia nem a hora.
Ser prudente é equipar-se com uma boa reserva de azeite
para alimentar a luz da esperança
durante a noite e os tempos de adormecimento.

Há muitas coisas que nos adormecem o amor por Deus:
a vontade de poder e vencer nesta vida,
a submissão ao deus do dinheiro e da fama,
o culto ao eu, maquilhagem da imagem e realização pessoal,
o império dos sentidos e a fuga à reflexão e discernimento...
A Fé passa por uma verdadeira noite de adormecimento
quando o coração se ocupa em amores
que o divorciam do Amor primeiro e único eterno.

Reservas de azeite que alimentam a esperança
é introduzir neste rodopio da vida ocupadíssima,
alguns rituais que regam a raiz da fé:
momentos, nem que sejam breves, de oração diária,
leitura e escuta da Palavra de Deus,
participação habitual na Eucaristia,
momentos de perdão e reconciliação,
gestos gratuitos de amor com o próximo,
exercícios que despertem a solidariedade e a compaixão,
exame de consciência que avalie os frutos do nosso cansaço...

Senhor Jesus, Amor que anseias por ser amado,
ajuda-nos a aprender a difícil arte da prudência,
que no meio de tantos convites para banquetes,
saibamos alimentar a esperança e a alegria do encontro
para o banquete final e permanente da Fonte do Amor.


quinta-feira, agosto 30, 2012

 

Se um mau servo disser consigo mesmo: 'O meu senhor está a demorar’, e começar a bater nos seus companheiros, a comer e a beber com os ébrios, o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e à hora que ele desconhece; vai afastá-lo e dar-lhe um lugar com os hipócritas. (cf. Mt 24,42-51)

Deus esconde-se, para que cada um seja o que é.
Somos vistos com um olhar penetrante
sem termos a sensação nem as consequências punitivas
de sermos vigiados ou controlados.
Por isso, precisamos de estar vigilantes,
para não nos acomodarmos à imitação da massa,
não regredirmos na prática do bem.
É um Amor Livre e invisível que nos envolve
e nos faz crescer como brisa suave e orvalho da manhã
até à maturidade das opções
que contribuem para um mundo mais justo e fraterno.

Se fizermos más opções de vida
e atentarmos contra a vida e a justiça,
nenhum sinal do céu nos marca a cabeça
como prevaricador, ladrão ou violento.
Deus sofre silenciosamente ao ver seus filhos queridos
terem todas as condições para serem livres
e fazerem os outros felizes,
e se deixarem-se comandar pelo mal,
num redopio triste dum inferno antecipado.

Deus não desiste de procurar formas inspiradoras
que nos despertem para o caminho da vida.
No final, com o coração a sangrar,
Deus respeita quem optou por florir espinheiro
e continuar eternamente o inferno que viveu.

Senhor Jesus como sois bom!
Quanto ainda temos que crescer
nesse amor que liberta e nos faz autênticos
na arte de amar e servir com alegria.
Ajuda-nos a viver despertos e vigilantes,
pois queremos florir fraternidade e alegria
numa comunhão invisível mas real,
do Teu abraço de Pai e Salvador.

quarta-feira, agosto 29, 2012

 

Martírio de S. João Batista
O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» (Cf. Mc 6,17-29)

A nossa relação com as coisas e as pessoas,
que julgamos pertencerem-nos, é a de reis e senhores.

Cortamos a cabeça ao equilíbrio ecológico,
impermeabilizando e desertificando as terras,
fazendo dos rios e mares lixeiras a céu aberto,
lançando para a atmosfera
fumos e gazes tóxicos com efeitos de estufa,
usando e abusando da natureza, “pois tudo me pertence”!

Corta-se a cabeça da oposição com campanhas difamatórias.
Corta-se a cabeça do concorrente, adversário ou inimigo
em legítima defesa.
Corta-se a cabeça de um ou mais empregados
para salvar a empresa.
Corta-se a cabeça ao que se opõe ao roubo e à corrupção
no reinado do Eu-Poder sem ética, a não ser a do mais forte.
Corta-se a cabeça à amizade e ao amor conjugal
em nome da liberdade e realização pessoal.
Corta-se a cabeça do filho antes de nascer
pois sou dona do meu corpo e do que nela houver.
Corta-se a cabeça dos profetas
com voz dissonante e verdade acutilante.
É um mundo desumanizado,
onde atuo como se tudo e todos me pertencessem
e os instrumentalizo ao sabor dos meus devaneios.

Senhor Jesus abre o nosso coração
à dignidade do outro e ao respeito pela Criação.
Liberta-nos da ética do mais forte
e ajuda-nos a viver a ética da fraternidade
e dum futuro com esperança para todos.
Faz de nós profetas perante as injustiças de hoje
com a tempera e a coragem de João Batista.

terça-feira, agosto 28, 2012

 

S. Agostinho


Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. (cf. Mt 23,23-26)

A Lei e os Mandamentos delimitam balizas,
alertam para perigos, apontam caminhos
que nos ajudam a alcançar metas e ideais nobres e eternos.
Se a meta é Deus, comunhão de Três Pessoas,
o caminho só pode passar pelo amor de relação,
pela justiça fraterna, pelo perdão misericordioso,
pelo empenhamento no bem comum,
pela fidelidade a Deus e à sua aliança.
Os dízimos, rituais, jejuns, compromissos eclesiais...
são apenas expressões humanas e reais
que sustentam o caminho para essa Meta Grande.

O que nos move é o Amor
e não o medo ou o escrúpulo.
O que pretendemos é aprender a amar concretamente,
em todas as situações da vida,
mesmo quando reina a injustiça,
gela a misericórdia e fraqueja a fidelidade.

Tudo o que é orgulho de méritos pelas práticas,
desprezo dos fracos de quem não me sinto irmão,
intolerância à misericórdia de quem peca,
insensibilidade humana na aplicação da justiça,
nega, na prática, a validade deste caminho,
e afasta-nos da Meta que é Deus Amor.

Senhor Jesus, ajuda-nos a viver e a entender
o que significa o que S. Agostinho experimentou:
Ama e faz o que quiseres.
Se calares, calarás com amor;
se gritares, gritarás com amor;
se corrigires, corrigirás com amor;
se perdoares, perdoarás com amor.
Se tiveres o amor enraizado em ti,
nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.

segunda-feira, agosto 27, 2012

 

«Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer. (cf. Mt 23,13-22)

Jesus critica os doutores da Lei e fariseus de então
por se fixarem no secundário e deixarem o essencial.
Os doutores da lei e fariseus de hoje
são os que dirigem, ensinam e praticam a fé cristã.
Também nós seremos guias de cegos
que nos distraímos com o acessório e esquecemos o essencial?

Os que estão de fora, acusam-nos muitas vezes,
de incoerência de vida e de celebrações tristes.
Há muita boa gente que perde a paz e a caridade,
por causa de prescrições rituais e litúrgicas:
se pode ou não comungar na mão,
se celebra em latim ou vernáculo,
virado para o povo ou de costas,
se veste batina, hábito ou outra roupa...

Não estaremos a perder tempo com coisas secundárias
e a deixar o essencial para trás?
O que o Senhor quer
é que entremos primeiro no Reino de Deus
para depois podermos convidar outros
a fazerem esta experiência de vida nova.

Entrar no Reino de Deus é pulsar de caridade
ao ponto de comungar o irmão;
é louvar a Deus, em espírito e verdade,
fazendo da vida uma sementeira do bem,
numa mesma atitude de oferta ao Senhor,
que se alimenta na liturgia e se prolonga no quotidiano;
é respirar a justiça e a misericórdia com pés de peregrino,
em gestos humildes, construtores de um mundo melhor;
é ter um olhar onde brilha a esperança,
alargando horizontes de infinito
e fazendo despertar o que de melhor
Deus colocou no coração do ser humano.

Senhor Jesus,
porta segura para entrarmos no Reino de Deus,
concentra todo o nosso coração
para Te seguirmos com fidelidade
e não nos distrairmos do cumprimento da Tua vontade.

domingo, agosto 26, 2012

 

21º Domingo do Tempo Comum


Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» (cf. Jo 6,60-69)

Jesus não obriga ninguém a segui-lo
nem amarra a si aquele que murmura.
Não ameaça nem castiga os que O abandonam,
porque não compreendem o Seu mistério
de proximidade divina, misericordiosa e livre.
Continua a enviar o sol para os bons e maus,
e procurar formas de salvar da morte
todos aqueles que caminham sem Norte
e se definham em vazios de sentido
e teimosias de senhores de nada!

Jesus faz apenas perguntas e interroga corações
para nos despertar para o discernimento
e nos levar a procurar o caminho da verdadeira Vida.

Hoje o mundo caminha a grande velocidade,
porque dói parar para pensar e refletir,
sobre a mentira duma felicidade instante
que, quando termina, só traz ressaca
e o gosto amargo e estonteante
de uma bela experiência dos sentidos que terminou.
Por isso, é preciso encher a vida de ruídos,
de luzes e arco-íris artificiais,
de sonhos consumistas e virtuais
que nos adormeçam finalmente de cansaço.

Senhor Jesus, só Tu tens palavras de Vida eterna.
Servir e amar Aquele que nos ama na liberdade,
custa a suportar, mas depois traz felicidade sem acabar.
Ajuda-nos a entrar nesta aventura com horizontes de eternidade
e sustentabilidade de felicidade.

sábado, agosto 25, 2012

 

Opção de vida, por fé e amor


“A quem iremos, Senhor,
Se só Tu nos revelas
Palavras de Vida e a Amor?”
Eis a pergunta de Pedro,
Que nos mostra a grande opção,
Consciente e decidida,
Por Jesus, em quem encontra
A razão apaixonante
Que motiva a sua vida
E faz dele, pescador,
Um dedicado Pastor.

A quem tiremos, Senhor?
Pergunta que vira opção,
Após uma livre escolha
Da mente e do coração,
Por um sonho que nos mova
A seguir, com fé e amor,
As pegadas de Jesus,
Fielmente, até à Cruz.

Dia-a-dia, a nossa vida
Precisa ser opção de amor,
À Luz da graça divina,
Que, a Paz e o Bem, nos ensina,
E a Força da Palavra,
Feita bordão/segurança,
Firmeza e confiança,
Para orar, com coerência
E dizer, em consciência:
SÓ A TI SIGO, SENHOR!

AUMENTA, SENHOR, MINHA FÉ,
PARA A PALAVRA ENTENDER
E O ALCANCE PERCEBER
DOS GESTOS DO BOM JESUS,
CARREGADOS PELO AMOR
QUE, NA CRUZ, SE FEZ PERDÃO,
NOSSA PAZ E SALVAÇÃO!
OBRIGADA, BOM JESUS,
POR ESTA TUA OPÇÃO!

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 25.08.2012

 

Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem. (cf. Mt 23,1-12)

O saber teórico ganhou autonomia
da vida concreta dos doutores e mestres.
O médico recomenda ao doente deixar de fumar,
mas ele continua a esfumar-se na dependência.
O professor ensina ao aluno relações humanas,
mas ele não consegue diálogo na família.
Os pais enviam os filhos à missa e à catequese,
mas eles não praticam nem acreditam em Deus.
Os catequistas ensinam as crianças na catequese,
mas na sua vida praticam outra doutrina.
Os sacerdotes pregam o Evangelho de Jesus,
mas na sua vida ainda há muita incoerência.
Os consagrados prometem seguir
as constituições comuns do instituto,
mas depois cada um vive uma consagração
à sua medida, gosto e interesse.
É assim, no domínio da vida privada,
onde cada um é doutor e mestre de si mesmo,
na sociedade anónima do subjetivismo e do relativismo.

Jesus diz-nos que o verdadeiro mestre
é o que sabe viver como irmão.
O verdadeiro doutor é o que sabe ser feliz,
perfumando de felicidade e alegria
o ambiente onde vive e ensina.
O verdadeiro pai e mãe são os que vivem o amor
fertilizando o crescimento do bem e da justiça.

Senhor Jesus, que vives o que ensinas,
ajuda-nos a descobrir a alegria de Te seguir
e a beleza prática do teu Evangelho.
Nós cremos em Ti, mas aumenta em nós a confiança,
em que é seguindo o Teu caminho,
que podemos chegar à felicidade presente e eterna
e contribuirmos para um mundo mais justo e fraterno.

sexta-feira, agosto 24, 2012

 

Festa de S. Bartolomeu, apóstolo


Disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» (cf. Jo 1,45-51)

Perante o paralaxe do preconceito,
não adianta discutir nem argumentar.
A única solução curativa para tal cegueira
é aceitar fazer a experiência e verificar,
aberta ao novo da pessoa única que se esconde
por baixo da máscara da raça, da cor, da nacionalidade,
da cultura, da condição social, da aparência e da religião.
Os meios de comunicação fazem do Globo uma bola,
acessível ao toque de um dedo,
mas o preconceito e o desconhecimento mútuo
fazem do próximo um cigano, um negro, um pobre,
um analfabeto, um preso, um deficiente...
sem rosto nem coração,
igual a todos os outros do mesmo género.

A proposta de Filipe é a mesma que Jesus lhe fez:
“Vem e verás”: faz a prova e experimenta,
depois fala e julga, pois cada pessoa é única e irrepetível,
feita à imagem e semelhança de Deus como todos.

O mesmo acontece com a fé em Jesus.
Muitos vivem do preconceito religioso,
do medo de serem enganados por miragens espirituais,
bloqueados por desvios históricos na Igreja
ou escândalos de alguns lobos matreiros
que se escondem sob a pele de cordeiros santos.
É preciso deixar de fugir, ter medo, de mergulhar.
Só fazendo a experiência pessoal de Jesus,
O podemos conhecer, amar e seguir,
livres do preconceito, do temor e da dislexia espiritual.

Mostra-nos o Teu verdadeiro rosto, Senhor
e liberta-nos de tudo o que nos impede
de Te conhecer, Te amar e servir.
Liberta-nos da miopia do etnocentrismo e do racismo,
para que possamos conhecer sem pre-julgar,
acolher sem rejeitar, o próximo como irmão. 

quinta-feira, agosto 23, 2012

 

'O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos.
Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’
(cf. Mt 22,1-14)

Deus quis fazer uma aliança de amor com Israel,
mas o Seu Povo amava mais os seus negócios,
os seus campos, os seus projetos e os seus métodos violentos,
do que a Deus, as Suas festas de culto
e os Seus preceitos de justiça.
Quiseram matar o Filho do Amor,
mas o Amor Fundante passou na prova
e agora vive com amor mais puro e eterno.
Deus abriu a aliança de amor a todos os povos,
enviou os seus servos missionários
a convidar todos os que encontrar
para a Boda das Núpcias do Cordeiro, Seu Filho.

Hoje, como naquele tempo,
as pessoas andam demasiado distraídas e ausentes
ocupadas com o amor de si e o gozo da vida,
com as suas propriedades e sonhos de consumo,
com os seus critérios e métodos de vida,
com os seus deuses a quem servem, gemendo,
apoiados com muitas drogas de ilusão,
antidepressivos, calmantes e estimulantes.

O Amor só quer ser amado
e o coração não ama porque já está ocupado!

Senhor Jesus, Esposo da minha alma,
quão cheio anda meu coração,
para ter tempo, gosto e vontade
para estar contigo gozozamente, na intimidade.
Rezo e estou ausente,
porque o coração não está totalmente presente.
Nas relações com os outros,
comporto-me indiferente,
porque o coração não Te ama neles presente,
e só pensa em si autisticamente.
Dá-nos Senhor um coração novo!

quarta-feira, agosto 22, 2012

 

Virgem Santa Maria Rainha


O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim. (cf. Lc 1,26-38)

A obediência da Maria
fê-la Mãe do Rei do Céu e da Terra.

A realeza de Jesus concretizou-se
em fazer a vontade do Pai
e dar a vida para que todos tenham vida.

A grandeza de Maria
foi aceitar ser discípula do Seu Filho
e segui-Lo até à cruz da Aliança,
altar do amor incondicional.

A realeza de Maria no Céu
é um Dom festivo da Trindade
que se revê na sua virgindade,
como Amor sem hesitações nem medo.

A beleza de Maria, Rainha,
é a sintonia circulante da graça
que vive a missão apaixonada de Deus
de propor aos humanos que deixem de ser apenas criaturas
e passem a viver como Filhos e irmãos,

à imagem do seu Filho, Rei e Servo Eterno.

Rainha, Serva livre do Reino do Amor,
neste império dos sentidos
e escravatura do reinado da minha vontade,
ensina-nos a ser livres para amar
e a ser grandes servindo.

terça-feira, agosto 21, 2012

 

Muitos dos primeiros serão os últimos, e muitos dos últimos serão os primeiros. (cf. Mt 19,23-30)

A nobreza anda vestida de adereços,
de títulos de propriedade, de linhagem e académicos,
no palco da ostentação e da gente famosa,
fingindo ser mais e desprezando a ralé,
neste céu artificialmente criado para alguns.
Mas a nobreza autêntica deve passar
pelo crivo da verdade desnudada,
quando nada esconde o que não se é,
e o que resta é válido para a eternidade.

É o encontro com a Luz do Amor Penetrante,
que raioxiza a nossa vida,
seja nesta vida ou na outra,
e nos revela a nobreza interior
que sustenta e programa a nossa existência.

Quem gasta a vida em parecer,
perde-se na vida do Ser.
Quem empenha toda a sua vida em Ser
Filho de Deus na humildade dum peregrino,
e investe na busca de sentido e discernimento,
encontra paz e alegria na simplicidade,
riqueza por baixo dos trapos de um pobre,
beleza escondida na deficiência e demência,
sabedoria na criança, no idoso e no analfabeto.

Senhor Jesus ajuda-nos a viver de forma sensata,
a investir no amor, na justiça e na verdade,
pois queremos ser dos primeiros para a eternidade.

segunda-feira, agosto 20, 2012

 

Aproximou-se de Jesus um jovem que Lhe perguntou: «Mestre, que hei-de fazer de bom, para alcançar a vida eterna?» (cf. Mt 19,16-21)

A vida eterna não é uma conquista
que se “compra” com atos ou palavras boas e mágicas,
pois o que é engolido pelas areias movediças
precisa da ajuda de alguém que está em terreno firme
para se salvar e ser retirado da sepultura viva da perdição.
Esse Alguém só pode ser Eterno e Bom,
que no Seu Amor escuta os gemidos de desespero,
se aproxima e propõe a ajuda dos mandamentos,
incute um Espírito Novo que faz caminhar nas alturas
seguindo Jesus, rocha firme da santidade,
caminho e porta da vida eterna.

A vida eterna é dom e caminho de vida
que começa pelo acolhimento dos mandamentos,
evitando o mal: “não matar, não cometer adultério,
não roubar, não levantar falso testemunho, não...”,
prossegue pela via da prática do bem,
amando o próximo como a si mesmo,
e encaminha-se para a perfeição da santidade,
seguindo Jesus, à luz do Seu Espírito,
trocando o ídolo da segurança material
pela liberdade da solidariedade com o pobre
e a entrega de vida ao Deus do Amor.

Senhor Jesus, liberta-nos e salva-nos
duma vida sem horizontes de eternidade.
Cura-nos das miragens dos oásis privados
sem ética nem valores solidários.
Guindasta-nos das areias movediças
das seguranças materiais e da glória humana,
para estarmos totalmente disponíveis
para vivermos como Filhos de Deus,
divinamente humanos.

domingo, agosto 19, 2012

 

20º Domingo do tempo Comum


Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. (cf. Jo 6,51-58)

A comunhão eucarística é um rito de fé,
um sinal de vontade de seguimento de Jesus.

Comungar Jesus é alimentar-se da sua Palavra,
do Seu jeito de viver e de se relacionar.
Comer a Sua Carne e beber o Seu Sangue
é desejar assimilar a Sua Vida em nós
e deixar que Jesus seja tudo em nós,
numa comunhão de vidas e sentimentos.

Participar na Eucaristia
é entrar no mistério duma presença
em que a fragilidade é uma aparência
e a Sua força transformadora uma realidade,
que só experimentando se vive e aprende.

Participar na Mesa do Senhor
é descobrir que todos os encontros são sagrados,
e somos feitos para a comunhão de vidas
que se reforçam mutuamente
numa comunhão de amor circulante.

Senhor, Tu és o Pão da Vida escondido,
abre os nossos olhos da fé à Tua presença,
e faz das nossas vidas anémicas e autistas,
sacrários transparentes e mensageiros,
que semeiam vida normalmente,
em jeito de refeição para toda a gente.

sábado, agosto 18, 2012

 

JESUS, O PÃO DESCIDO DOS CÉUS


Feliz quem come este Pão
Que nos dá o próprio Deus,
O Pão descido dos céus,
Em Jesus, seu filho amado,
Pão, no Amor, amassado,
Pão que é Vida e Salvação,
Para ser assimilado
E partilhado, em amor,
Compreensão e perdão,
Até gerar comunhão,
Com quem vive ao nosso lado!

Jesus, que é o Pão da Vida
E o Vinho da Salvação,
Nos convida a viver n’Ele,
Por Ele e como Ele,
Não só em data festiva,
Mas sempre e a todo o momento,
Alma, vida e pensamento,
Buscando o querer de Deus,
Como fermento de Vida,
A unir fé e acção.

Mestre e Guia, permanente,
Na sua Sabedoria,
Ele nos dá a ciência
Que vence toda a aparência,
Para mergulhar na essência,
Fonte de paz e harmonia,
Na vida do dia-a-dia,
Graças ao Pão que dá Vida
E gozo à humanidade,
Que nos faz provar, na terra,
Delícias da eternidade.

Quando poderei, eu, dizer,
Com a audácia de São Paulo,
Que é Cristo que vive em mim,
Tu em mim e eu em Ti,
Quando ajo, rezo ou falo?!

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 17.8.2012

 

Jesus disse-lhes: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» (cf. Mt 19,13-15)

Em nome da liberdade de escolha,
há pais que não batizam os filhos,
nem os colocam na catequese,
nem os introduzem na prática religiosa.
Isto não é promover a liberdade de escolha,
mas impedi-los de conhecerem Jesus
para um dia poderem optar ou não por Ele.
Manifesta mais as convicções religiosas dos pais!
Na verdade, os pais ainda bem pequeninos,
procuram influenciar a afeição por um clube de futebol,
inscrevem-nos na música ou na dança,
num curso de línguas ou outra atividade extra-curricular,
sem esperarem a idade adulta para optarem.

Jesus ama as crianças e
pede que não as impeçamos de se aproximarem dele.
Ele quer abençoa-las e ajuda-las a crescer
como filhos e filhas de Deus.
Jesus deseja fazê-las amadurecer
livres para amar e fortes para resistir às tentações,
disponíveis para servir e sensíveis para a solidariedade,
construtores responsáveis de um mundo melhor.
Impedir as crianças de se aproximarem de Jesus,
é uma má aposta no futuro e felicidade dos seus filhos.

Senhor Jesus, pedagogo da liberdade e do amor,
ensina-nos a educar as nossas crianças
na difícil arte de crescerem como filhas de Deus.

sexta-feira, agosto 17, 2012

 

«É permitido a um homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo?» (cf. Mt 19,3-12)

Anda o amor desnorteado à procura dum lar seguro,
pois a relação tornou-se volátil
e os contratos matrimoniais a termo incerto.
As alicerces da união são tão frágeis
que “qualquer motivo” de pequena tempestade,
é suficiente para derrubar um compromisso
que foi feito para ser eterno.
O medo de ser perderem mutuamente
acaba por unir mais do que o amor de corações
que agrafam vidas diferentes.

O namoro tornou-se passatempo de desejos,
que queimam etapas de aprofundamento
e conhecimento mútuo,
num flirt romântico e utópico,
alimentado pelo medo de perder o outro.

E porque só colhemos o que semeamos,
há casais que casam e descasam
como quem muda de camisa.
Há casais que nem têm coragem de casar
porque filhos de pais divorciados,
criados na insegurança do vínculo
e alimentados pelo leite da violência e da infidelidade.
E porque nos assustam relações humanas tão inseguras,
inventámos o estratagema de chamar “moderno”
a esta fragilidade que se instalou na sociedade.

No princípio não era assim!
Deus criou-nos para o amor que une o diferente,
e nos compromete solidariamente,
tanto na primavera das flores e no verão quente dos frutos,
como no outono da diminuição das forças
e no inverno da doença e da fragilidade da velhice.
É o encontro de duas almas gémeas
que quanto mais se conhecem, mais se amam,
e quanto mais enfrentam desafios,
mais se unem numa complementaridade
que sorri ao futuro com esperança.

Senhor, Deus família que nos criaste à Tua imagem,
faz raiar a aurora do amor verdadeiro,
naqueles que se preparam ou já vivem
o projeto de serem unidades de vida fecunda,
em lares de compromisso comum,
que se ajudam mutuamente a podar o egoísmo,
para que o amor possa florir e perfumar o lar,
com a frescura da alegria e a segurança do futuro.

quinta-feira, agosto 16, 2012

 

Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ (cf. Mt 18,21-35.19,1)

O ideal de perfeição caminha lado a lado
com a realidade nua e crua da imperfeição.
Custa-nos a aceitar,
mas às vezes somos nós que ofendemos o próximo,
com palavras, gestos, silêncios e omissões.
Gostamos que nos compreendam e perdoem,
que nos deem uma nova oportunidade de reabilitação.
Quando isso acontece, ficamos felizes e reconhecidos.

Quando trocamos de papeis
e somos nós os ofendidos,
a ferida interior sangra de raiva
e a dor de injustiça clama por vingança.
Ressentidos, como podemos esquecer?
Perdoar é difícil quando estamos armados
com as armas da raiva, da vingança e do ódio.

Jesus ensina-nos a reconhecer
que não passamos de pedintes
que esmolam perdão toda a nossa vida.
É a alegria de sermos perdoados
que nos deve levar a ser misericordiosos,
quando somos ofendidos.
É aprender a fazer ao outro
o que gostaríamos que nos fizessem a nós.
É sentir-nos todos peregrinos da perfeição,
em tentativas, nem sempre conseguidas,
de ultrapassarmos os nossos desacertos na relação.

Senhor Jesus,
obrigado porque estás sempre pronto a perdoar.
Dá-nos um coração bom e misericordioso
que, quando ferido, sangre amor e paz
e semeie perdão e reconciliação.

quarta-feira, agosto 15, 2012

 

Assunção da Virgem Santa Maria


O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. (cf. Lc 1,39-56)

Maria dá graças ao Senhor
e exalta o Seu Santo Nome,
porque Ele fez em si maravilhas.
É porque Ela soube ser humilde e serva
que Deus a exaltou e a escolheu
para ser a Mãe do seu Filho e a Mãe da Igreja.
Ela é a estrela Polar da esperança
que nos faz caminhar com confiança
no seguimento de Jesus,
fruto fecundo das suas entranhas.

Ao contempla-la no Céu,
acarinhada pelo amor trinitário,
animamo-nos a palmilhar o caminho estreito
da obediência à vontade de Deus,
a prosseguir orientados pelo código do peregrino
da Palavra de Deus e da consciência reta,
a vigiar e a proteger-nos dos perigos
com as armas da oração e da fé,
a correr com alegria humilde
pois somos portadores de centelhas do Céu
que vamos semeando por aqueles que encontramos
em gestos de amor e solidariedade,
em sorrisos de paz e perdão,
em olhares acolhedores, perfumados de irmão!

Senhora da Assunção, ensina-nos a subir para Deus,
pelo caminho que desce ao irmão
e de tão pequenino e humilde,
purificados pelo Teu jeito de servir e amar,
a Deus, o Altíssimo, possamos encontrar
e de forma tão natural e habitual
O possamos viver e anunciar! 


terça-feira, agosto 14, 2012

 

Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, veem constantemente a face de meu Pai que está no Céu. (cf. Mt 18,1-5.10.12-14)

Os animais quando nascem,
já vêm com as instruções de sobrevivência
gravadas na memória genética.
O bebé humano é o único que quando nasce,
sabe apenas respirar e chorar.
Tudo o resto vai-o aprendendo pouco a pouco,
na escola do carinho e do embalar.

Deus fez tudo bem feito!
Ter um filho biológico é fácil,
adotar um filho afetivamente,
exige muitas horas de entrega,
doação, contacto físico, troca de carícias...
É um banco de horas incontáveis,
cujo preço é o nascimento de uma mãe e de um pai,
e a descoberta dum cordão umbilical invisível
que une para sempre o filho a estes dois corações.

Nesta sociedade de serviços pagos,
em que a criança cresce
sem grande contacto com os pais,
corre-se o risco de não se ter oportunidade,
de ter tempo para adotar o filho afetivamente.
Talvez por isso os pais abandonam os filhos tão facilmente,
seja em processos de divórcio,
seja por razões de trabalho ou carreira profissional.
Mais grave ainda é quando os filhos
são abusados sexualmente
ou traficados como mão de obra barata.

Senhor Jesus ensina-nos a ser crianças,
aprendizes permanentes da vida divina
e a sermos filhos do Pai celestial, como Tu.
Ajuda-nos a ser anjos da guarda das crianças,
para nos parecermos cada vez mais com o Pai do Céu
e continuarmos a Tua missão.

segunda-feira, agosto 13, 2012

 

«O vosso Mestre não paga o imposto?» Ele respondeu: «Paga, sim» (cf. Mt 17,22-27)

Viver em sociedade gera deveres e direitos.
Um país é uma associação de cidadãos
que se comprometem a contribuir para uma caixa comum
que deve sustentar um conjunto de bens comuns.
Para gerir o bem e os bens comuns,
elegem pessoas ou associações de pessoas de bem,
com sentido do bem comum e dos membros mais frágeis
e capacidade de administração.
Quando algo falha nesta associação contratual,
todos sofrem e ficam mal.

Um cristão é um peregrino que sabe
que não tem aqui morada permanente,
no entanto, enquanto aqui peregrinar,
deve ser um cidadão exemplar,
seja como contribuinte, seja como eleitor,
seja como elegido e administrador,
seja como reivindicador da ética e da justiça
ao serviço do bem de TODOS.
O cristão deve fazer a diferença
pela excelência, qualidade e verdade.

Senhor Jesus, neste tempo de crise,
em que o bem das finanças públicas
muitas vezes se sobrepõe ao bem comum de todos
e o bem individual muitas vezes
foge às responsabilidades comuns,
ajuda-nos a ser cidadãos exemplares,
guiados pela justiça, solidariedade e verdade.


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