terça-feira, junho 26, 2007

 

Silêncio



De silêncio me revesti
De palavras me despojei
De ruídos me quis desnudar,
Pensamentos e desejos
abandonei.

E fiquei só e livre,
Num vai e vai tumultuoso
De ruídos e silêncios.

(Dá medo ficar a sós, assim de repente!
No silêncio, novos ruídos,
pensamentos e desejos adormecidos renascem.
Escutam-se vozes fracas e persistentes,
Abafadas pelos ruídos normais ou procurados.)

Quem sou eu afinal?
Quem sou o eu real?

Surpreendido acolhi,
Com amor aceitei
As vozes surdas que clamam,
Anseios esquecidos e oprimidos.

Pacificado com o eu desconhecido em mim,
No silêncio encontrei
A gruta que sempre procurei,
Ventre onde engendrei
A vida que sempre sonhei.

Na solidão descobri-me acompanhado,
Uma presença silenciosa que fala
E me enche plenamente,
Num misto de fonte e de companheiro de jornada
Que dá sentido à vida,
Num suave murmúrio delicado,
Oferecendo a mão segura e livre
Que me faz crescer e servir
E no amor realizar sem instante!

quarta-feira, junho 13, 2007

 

Poema à vida

Um dia no tempo,
brilhou o Infinito.

Do pó das estrelas,
artisticamente amado,
a vida floriu
num choro de espanto
e de liberdade.

Infinitamente grato,
contemplo o Infinito
e celebro o “big bang” da Criação
no primeiro choro que se ouviu,
no infinitamente perdido
duma serra do interior
a beijar o céu.

Não sei o que mais me espanta:
Se a grandeza da estrela
que se consome em luz e calor,
Se o sorriso frágil duma criança
suspirando por um colo de amor,
Se o Criador de infinitos a morar entre nós
sem se apequenar,
Se hoje poder pensar
e a vida celebrar!

Cinquenta anos de Sol
a namorar a Terra,
caminho lento
à procura do Infinito!
Cada passo é um ano de luz
de doação,
se o coração e a razão
caminham juntos
enamorados de tanta luz.

 

Vida com sabor e com sentido!


Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo” (Jesus de Nazaré)

O sal e a luz, duas imagens que resumem muito bem os aspectos da vida.
Viver é encontrar-lhe o sentido (luz) e o gosto (sal). Viver com saber e sabor.
Se encontramos sentido para a vida, mas não encontramos o gosto, viveremos demasiadamente, mas tristes.
Se vivemos com gosto, mas não lhe encontramos o sentido profundo, viveremos divertidos, mas vazios.
Viver com saber é viver com sentido, saber porque se vive.
Viver com sabor é viver com gosto, encontrar como se deve viver.

(Agenda bíblica 2007, Verbo Divino, Estella)

domingo, junho 10, 2007

 

Carta de amigo muçulmano ao sacerdote caldeu assassinado no Iraque


(ZENIT.org) Publicamos a comovedora carta de um amigo muçulmano ao Pe. Ragheed Aziz Ganni, o sacerdote caldeu assassinado no domingo passado em Mosul, Iraque, junto a três subdiáconos.


* * *
Em nome de Deus, clemente e misericordioso, Ragheed, irmão meu
Eu te peço perdão, irmão, por não ter estado ao teu lado quando os criminosos abriram fogo contra ti e teus irmãos, mas as balas que transpassaram teu corpo puro e inocente me transpassaram também o coração e a alma.
Foste uma das primeiras pessoas que conheci ao chegar a Roma, nos passeios do «Angelicum» [a Universidade Pontifícia de Santo Tomás, ndr], onde nos conhecemos e onde bebíamos juntos nosso «capuchino» na cafeteria da universidade.
Tu me havias impressionado por tua inocência, tua alegria, teu sorriso terno e puro que não te abandonava nunca. Eu não posso deixar de imaginar-te sorrindo, feliz, cheio de alegria de viver.
Ragheed para mim é a inocência feita pessoa, uma inocência sábia, que leva em seu coração as preocupações de seu povo infeliz.
Recordo um dia no restaurante da universidade, quando o Iraque estava sob embargo e tu me disseste que o preço de um só «capuchino» teria podido sanar as necessidades de uma família iraquiana durante todo um dia, como se te sentisses de algum modo culpado de estar distante de teu povo assediado e de não compartilhar seus sofrimentos...
Depois voltaste ao Iraque, não só para compartilhar com as pessoas seu destino de sofrimentos, mas também para unir teu sangue ao de milhares de iraquianos que morrem a cada dia. Não poderei nunca esquecer o dia de tua ordenação na Universidade Urbaniana... Com lágrimas nos olhos, tu me disseste: «Hoje morri para mim»... uma frase muito dura. Imediatamente não a compreendi bem, ou talvez não a levei a sério como deveria...
Mas hoje, através de teu martírio, compreendi esta frase... Tu morreste em tua alma e em teu corpo para ressuscitar em teu bem-amado e em teu mestre, e para que Cristo ressuscite em ti, apesar dos sofrimentos e das tristezas, apesar do caos e da loucura.
Em nome de que deus da morte te mataram? Em nome de que paganismo te crucificaram? ... Sabiam verdadeiramente o que faziam? Ó Deus, nós não vos pedimos vingança ou represália, mas vitória... vitória do justo sobre o falso, da vida sobre a morte, da inocência sobre a perfídia, do sangue sobre a espada...
Teu sangue não terá sido derramado em vão, querido Ragheed, porque santificaste a terra de teu país... e teu sorriso terno continuará iluminando desde o céu as trevas de nossas noites e anunciando-nos um amanhã melhor.
Eu te peço perdão, irmão, mas quando os vivos se encontram, crêem que têm todo o tempo para conversar, visitar-se e dizer os próprios sentimentos e os próprios pensamentos...
Tu me havias convidado ao Iraque... Eu sonhava sempre com isso... visitar tua casa, teus pais, teu escritório... Não teria nunca pensado que seria teu túmulo o que um dia visitaria ou que teriam sido os versículos de meu Corão os que recitaria para o repouso de tua alma...
Um dia, eu te acompanhei a comprar objetos de lembrança e presentes para a tua família nas vésperas de tua primeira visita ao Iraque após uma longa ausência. Tu me havias falado de teu trabalho futuro: «Queria reinar sobre as pessoas sobre a base da caridade antes que da justiça», me havias dito. Então me era difícil imaginar-te como «juiz» canônico...
Mas hoje teu sangue e teu martírio pronunciaram sua palavra, veredito de fidelidade e de paciência, de esperança contra todo sofrimento e de sobrevivência, apesar da morte, apesar do nada.
Irmão, teu sangue não foi derramado em vão... e o altar de tua igreja não era uma farsa... Tu assumiste teu papel com profunda seriedade, até o final, com um sorriso que nada poderá apagar... nunca.
Teu irmão que te ama: Adnan Mokrani Roma,

4 de junho de 2007 Professor de Islã no Instituto de Estudos das Religiões e das Civilizações, Universidade Pontifícia Gregoriana, Roma. [Tradução realizada por Zenit] ZP07060732

quinta-feira, junho 07, 2007

 

Angola: Papa cria duas novas dioceses e nomeia seus primeiros bispos

Bento XVI erigiu nessa quarta-feira a diocese de Viana e a diocese de Caxito (Angola), com território desmembrado da arquidiocese de Luanda, nomeando seus primeiros bispos. Para a diocese de Viana, o Sumo Pontífice nomeou como bispo a Dom Joaquim Ferreira Lopes, O.F.M.Cap., até agora bispos de Dundo; e como primeiro bispo de Caxito, nomeou ao Padre António Francisco Jaca, S.V.D., Superior Provincial dos Padres Verbitas em Angola.

A nova diocese de Viana faz fronteira ao norte com a arquidiocese de Luanda e ao leste e sul com a diocese de Sumbe. Fazem parte da nova diocese de Viana as seguintes cidades: Palanca, Bom Jesus, Calumbo, Catete, Barra de Kuanza, Cabo Ledo, Mumbondo, Kilamba Kiaxi, Demba Chio, Muxima e Massangano. Possui uma área de 17.206 quilômetros quadrados e 1.659.000 habitantes, dos quais, aproximadamente 500.000 são católicos. Conta com 9 paróquias, 2 sacerdotes diocesanos, 3 sacerdotes Fidei donum, 32 sacerdotes religiosos e 20 seminaristas maiores. A igreja paroquial de São Francisco, em Viana tornou-se a catedral da nova diocese.


A nova diocese de Caxito faz fronteira ao norte com as dioceses de Manza Congo e Uije, e a leste com a diocese de Ndalatando, e a oeste com a arquidiocese de Luanda. Dessa nova diocese fazem parte as seguintes cidades: Ambriz, Bula Atumba, Dande, Dembos, Nambuangongo, Pango Aluquém, Cacuaco, e Kikolo. Possui uma área de 25.133 quilômetros quadrados e 500.000 habitantes, dos quais, aproximadamente 214.000 são católicos. Conta com 6 paróquias, 1 sacerdote diocesano, 1 sacerdote Fidei donum, 12 sacerdotes religiosos e 2 seminaristas maiores. A igreja paroquial de Santa Ana, de Caxito, tornou-se a catedral da nova diocese.

Após o desmembramento, a Arquidiocese de Luanda passa a ter 1.074 quilómetros quadrados de área, em que estão distribuídos 3.184.681 habitantes, dos quais 2.341.000 aproximadamente são católicos. Conta com 19 paróquias, 10 sacerdotes diocesanos, 8 sacerdotes Fidei donum, 60 sacerdotes religiosos e 51 seminaristas maiores.

(CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 6 de junho de 2007 (ZENIT.org).

 

Papa põe luta contra a pobreza no centro da reunião do G-8


Em uma carta dirigida à chanceler alemã, Angela Merkel, Bento XVI pediu ao G-8 (os sete países mais industrializados do mundo e Rússia) que assuma como prioridade a luta contra a pobreza, durante a reunião que começou hoje em Heligendamm, Alemanha.


«Alcançar o objectivo da eliminação da pobreza extrema antes do ano 2015 é uma das tarefas mais importantes de nosso tempo», assegura o pontífice na carta.


«Esta meta está ligada indissoluvelmente à paz e à segurança no mundo», declara em sua mensagem.


O Papa pede criar e garantir para os países pobres «de maneira confiável e duradoura, condições comerciais favoráveis que incluam sobretudo um acesso amplo e sem reservas aos mercados».


Desta forma, exige «medidas a favor de um rápido cancelamento completo e incondicional da dívida externa dos países pobres altamente endividados e dos países menos desenvolvidos».


«Hão de tomar-se medidas para que estes países não acabem de novo em uma situação de dívida insustentável», indica.


O Santo Padre exige aos «países industrializados» que cumpram com «os compromissos que assumiram no âmbito das ajudas ao desenvolvimento e cumpri-los plenamente».


Desta forma, pede «importantes investimentos no campo da pesquisa e do desenvolvimento de medicamentos para o tratamento da sida, da tuberculose, da malária e de outras doenças tropicais».


«Os países industrializados têm de enfrentar a urgente tarefa científica de criar finalmente uma vacina contra a malária», reconhece.


Por último, a carta do Papa alenta a comunidade internacional a seguir trabalhando «por uma redução significativa do comércio de armas, legal ou ilegal, do tráfico ilegal de matérias-primas preciosas e da fuga de capitais dos países pobres».


Amplia este compromisso à «eliminação tanto de práticas de lavagem de dinheiro como da corrupção dos funcionários nos países pobres».


(6 de junho de 2007 (ZENIT.org).

terça-feira, junho 05, 2007

 

A imagem do ser Humano!


Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja Poesias, nº 8 "Alma, buscar-te-ás em mim"


Alma, busca-te em Mim

E a Mim busca-me em ti.

Tão fielmente pôde o Amor


Alma, em Mim, te retratar

Que nenhum sábio pintor

Tua imagem figurar.

Foste, por amor, criada


Formosa, bela e assim

Dentro do Meu ser pintada.

Se te perderes, minha amada,

Alma, procura-te em Mim.


Porque Eu sei que te acharás

Em Meu peito retratada,

Tão ao vivo figurada

Que ao ver-te folgarás

Por te veres tão bem pintada.


E se acaso não souberes

Em que lugar Me perdi,

Não andes dali para aqui

Porque se encontrar Me quiseres

A Mim, Me acharás em ti!

Em ti, que és meu aposento

És minha casa e morada.


Aí busco, cada momento,

Em que do teu pensamento

Encontro a porta fechada.


Só em ti há que buscar-Me,

Que de ti nunca fugi;

Nada mais do que chamar-Me

E logo irei, sem tardar-Me,

E a Mim, me acharás, em ti!

domingo, junho 03, 2007

 

Deus Trindade


Procuro encontrar-me,
na verdade conhecer-me!

Em mim só,
me perdi.

No espelho dos outros,
me confundi!

Em Deus,
me projectei
num mistério sem limites!

Na sua eternidade
me libertei do instante.

No seu amor
me descobri filho amado.

Na sua comunhão trinitária
identifiquei
a vida comunitária e a família
ideal:
seres únicos em comunhão;
diversos, mas unidos
na mesma raiz fraterna e solidária.

Anseio por viver em Ti,
Amor sem condições,
Respeito humilde,
Desejo de salvação para todos,
Amor de procura e doação.

sábado, junho 02, 2007

 

Poema a Maria


Dizer teu nome, ó Maria,
é dizer que a pobreza
compra os olhos de Deus.

Dizer teu nome, ó Maria,
é dizer que a nossa carne
veste o silêncio do Verbo.

Dizer teu nome, ó Maria,
é dizer que o Reino vem
caminhando na história.

Dizer teu nome, ó Maria,
é dizer-te toda tua,
causa da nossa alegria.

D. Pedro Casaldáliga
(In Agenda Bíblica, Verbo Divino, 2007)

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