sábado, julho 14, 2007

 

Lições do Oceano para uma sociedade em fuga!



O Verão e o seu calor estonteante atraem-nos irresistivelmente para as férias e a praia à procura dum bronze de sonho. É como se o trabalho afinal fosse uma prisão e a cor clara da pele uma condenação. O Verão e as férias tornam-se assim a expressão do nosso descontentamento e a concretização possível dos nossos sonhos e da nossa liberdade.

Neste mundo de sonhos massificados, todos resolveram ter o mesmo sonho. E de repente acordam todos estacionados na mesma estrada, dirigindo-se todos para o mesmo destino: a praia. E a imensidão da praia torna-se exígua para tantos sonhos gémeos. Vai-se para apanhar sol, curtir um tempo de descanso, saborear um banho tranquilo no mar salgado, fugir da confusão... E acorda-se no meio de uma multidão, aos encontrões e em grande confusão, sem lugar para estacionar o carro nem colocar a toalha. Desabituados de estar juntos em família, esposa e esposo, pais e filhos cansam-se rapidamente desta convivência apertada durante as vinte e quatro horas seguidas dum mês de férias. É então que o sonho tantas vezes sonhado começa a gerar um novo sonho utópico: depois disto tenho que tirar ao menos um dia para descansar: sem praia, sem família, sem trabalho, sem confusão!

Há algo de errado em tudo isto! A sociedade parece um rebanho de gente insatisfeita com o que é e com o que faz, sempre a sonhar com a evasão do presente. E nesta fuga de si mesmo resolveram todos fugir para o mesmo lado, desejar as mesmas coisas, encontrar-se sempre nos mesmos lugares, às mesmas horas a desejar a mesma coisa!

É preciso aprender a estar bem connosco. A saborear a beleza única duma relação. A viver o trabalho com espírito de bandeirante. A ter tempo para ouvir a natureza, ver as cores e extasiar-se com o sorriso inocente e puro de uma criança. A estar na vida sem fugas nem sonhos utópicos e alienantes.

Experimentemos levar o Oceano para os 365 dias do ano. E meditemos na sabedoria do mar: é imenso, mas sabe beijar cada praia como se fosse única e com nome próprio. É salgado, mas sabe dar água doce e pura às nuvens do céu. Tem marés baixas e marés altas, tempestades e bonanças, num ciclo de vida normal, sem depressões nem frustrações. É acolhedor e fonte de vida para muitas plantas e animais. Aceita ser ponte entre margens longínquas para barcos grandes e pequenos, para animais e plantas, para povos e culturas.

Aprendamos a meditar como o Oceano a cada instante da vida e descobriremos a alegria de viver cada momento sem fugas nem sonhos. Ouçamos no silêncio da confusão da cidade o som cadenciado das ondas tão semelhante e tão diferente. Deixemos o olhar viajar pelo horizonte do universo e descubramos quão pequeninos somos e quão grandes Deus nos criou! Saboreemos o instante gratuitamente como um ventre marino que deixa a vida existir e sorri à vida.
Descubramos que, por debaixo das ondas e das tempestades da vida, há a profundidade do Oceano que respira tranquilidade e quietude!

Viver em paz. Descansar em Deus. Amar e amar-se com simplicidade e verdade. Rebentar horizontes de egocentrismo. Numa palavra, descobrir uma forma saudável de viver a vida e as relações humanas, sem necessitar de durante todo o ano sonhar com férias e praia!

Comments:
"(...) sabe beijar cada praia como se fosse única e com nome próprio." Taí toda a especialidade da vida: assim é ela especial, assim somos cada um de nós especiais. Você consegue numa frase linda dizer tudo o que realmente importa, o que faz a diferença!
Coisa boa é ler o que escreve. Obrigada.
 

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