sexta-feira, dezembro 21, 2007
Que Seja Natal
Que seja o teu Natal
A luz reposta
Na chama apagada da esperança
Que seja o teu Natal a grande dança
De braços que acolhem e se dão
Que seja o teu Natal o coração
Em jeito de berço e cobertor
Que seja o agasalho de um menino
Que o silêncio traz
Na noite à gente
A luz reposta
Na chama apagada da esperança
Que seja o teu Natal a grande dança
De braços que acolhem e se dão
Que seja o teu Natal o coração
Em jeito de berço e cobertor
Que seja o agasalho de um menino
Que o silêncio traz
Na noite à gente
Tu queres ter um Natal diferente?
Dá o teu amor
Como presente.
Dá o teu amor
Como presente.
(J.M.Cardoso)
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Disfarce
Carlos Drummond de Andrade - (Correio da Manhã - 1960)
Na manjedoura? No presépio?
No chão, diante do pórtico arruinado, como em Siena o pintou Francesco di Giorgio?
Na capelinha torta de São Gonçalo do Rio Abaixo?
Na bigue cesta de natal?
… repousa o infante esperado.
As luzes em que o esculpiram tornam-lhe o corpo dourado.
O Cristo é sempre novo, e na fraqueza deste menino
há um silencioso motor, e uma confidência e um sino.
Nasce a cada dezembro e nasce de mil jeitos.
Temos de pesquisá-lo até na gruta de nossos defeitos.
Ministros, deputados, presidentes de sindicatos
prosternam-se estabelecendo os primeiros contatos.
Preside (oculto) as assembléias de todas as sociedades
anônimas, anônimo ele próprio, nas inumerabilidades
de sua pobretude.
E tenta renascer a cada pessoa e hora em que se distrai nossa polícia, assim como uma flora sem jardineiro apendoa, e sem húmus, no espaço restaura o dinamismo das nuvens.
Sua pureza arma um laço à astúcia terrestre com que todos nos defendemos da segunda face do amor, a face dos extremos.
Inventou ser menino para ser pelo menos contemplado,
senão querido (pois amamos a nosso modo limitado,
e de criança temos pena, porque submersos garotos
ainda fazem boiar em nós seus barcos rotos,
e a tristeza infantil, malva sêca no catecismo, nunca se esquece.)
Assim o Cristo vem, numa cantiga sem dono, mais do que na prece.
Carlos Drummond de Andrade - (Correio da Manhã - 1960)
Na manjedoura? No presépio?
No chão, diante do pórtico arruinado, como em Siena o pintou Francesco di Giorgio?
Na capelinha torta de São Gonçalo do Rio Abaixo?
Na bigue cesta de natal?
… repousa o infante esperado.
As luzes em que o esculpiram tornam-lhe o corpo dourado.
O Cristo é sempre novo, e na fraqueza deste menino
há um silencioso motor, e uma confidência e um sino.
Nasce a cada dezembro e nasce de mil jeitos.
Temos de pesquisá-lo até na gruta de nossos defeitos.
Ministros, deputados, presidentes de sindicatos
prosternam-se estabelecendo os primeiros contatos.
Preside (oculto) as assembléias de todas as sociedades
anônimas, anônimo ele próprio, nas inumerabilidades
de sua pobretude.
E tenta renascer a cada pessoa e hora em que se distrai nossa polícia, assim como uma flora sem jardineiro apendoa, e sem húmus, no espaço restaura o dinamismo das nuvens.
Sua pureza arma um laço à astúcia terrestre com que todos nos defendemos da segunda face do amor, a face dos extremos.
Inventou ser menino para ser pelo menos contemplado,
senão querido (pois amamos a nosso modo limitado,
e de criança temos pena, porque submersos garotos
ainda fazem boiar em nós seus barcos rotos,
e a tristeza infantil, malva sêca no catecismo, nunca se esquece.)
Assim o Cristo vem, numa cantiga sem dono, mais do que na prece.
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