quarta-feira, janeiro 30, 2008

 

Parábola do semeador

Como num sonho de felicidade, um jovem entrou numa loja onde um anjo era o vendedor. Perguntou o que é que ali se vendia. O anjo respondeu-lhe que se vendia de tudo. Então o jovem pediu que lhe servisse o fim das guerras, a fraternidade entre todos os seres humanos, o amor nas famílias, a união de todas as Igrejas...
“Desculpa, jovem – disse-lhe o anjo - aqui não vendemos frutos, vendemos apenas sementes”.

Agenda Biblica, Ed. Verbo Divino, 2008

Comments:
22.1.08
Querido Amigo,
Acabei de ler um texto escrito pelo José Rui Teixeira após peregrinação a Compostela. Também aqui as sementes são das melhores, e germinam, e seus frutos são bons:

A poucos dias de mais um Caminho, deixo aqui um abraço de gratidão para todos os peregrinos que têm partilhado comigo o sabor das amoras, a alegria do mundo...

Esta é uma história que começou muito antes de nós.

Aqui nos encontrámos um dia; por pouco nos encontrámos. Um dia fizemos um Caminho. Muitos o percorreram; mas só alguns o ganharam… como se ganha a vida, para sempre.

Aprendemos a abrir asas esplêndidas e a projectarmo-nos sobre o Obradoiro como se caíssemos desamparados no céu, algo mais puro ainda. Arremessamo-nos sobre o Caminho como quem luta pela sua vida ou como quem deposita no chão as armas e as máscaras, para sempre.

Aprendemos a densidade telúrica dos abraços, a verdade anatómica de habitarmos um espaço tão próximo, como se Deus nos amasse mais ainda. No Caminho aprendemos a conjugar o verbo “amar” no presente do indicativo, para sempre.

Eu disse-te: “És o sal da terra e a luz do mundo”.
Por esses dias aprendemos o sabor das amoras.
Disse-te que o Caminho era um lugar soteriológico, um espaço-tempo fora do espaço e do tempo, uma epifania do real; um lugar onde a luz das estrelas e o pó da terra se unem de um modo intenso e indescritível; um acontecimento estrutural em que eu regresso a uma condição de nomadismo espiritual, à verdade profunda de ser eu próprio, discípulo-do-Caminho em configuração com Cristo.

No Caminho reencontrámo-nos, reconhecemo-nos. Na Catedral de Compostela vive para sempre uma parte de nós, como se a luz que eu trago comigo fosse aí mais intensa, como se a luz que trazes contigo tivesse aí um brilho indescritível.
Eu disse-te: “Entra apenas, permanece até ao fim e sai mudado”.
Por esses dias aprendemos o sabor das amoras, a alegria do mundo.

Eu acredito que, mesmo que faça sobre a terra a minha morada e aqui me realize e seja feliz, eu sou do Caminho; e mesmo quando me sinto parado, eu nunca me esqueço que sou do Caminho, até pertencer definitivamente a Deus.
E sempre que me sentir a caminhar, tu estarás comigo. E quando eu for definitivamente de Deus, tu estarás comigo.
Eu disse-te que houve um tempo em que os homens sabiam que a imagem do caminho é a figura da própria existência; disse-te que todos os labirintos começam e terminam no nosso coração, mas este tem vastidões que ignoramos, desertos que só pressentimos, silêncios maiores que todo o silêncio, aberturas para muito longe.
Contigo redescobri pelo apagamento a verdade do que sou; experimentei na pobreza o sentido do que possuo; reinventei na errância o endereço das cons­truções sedentárias que me motivam; medi no eterno a direcção do provisório.Tu entendeste o que eu te disse, mesmo quando nos quiseram fazer mal. E, no nosso abraço, o Obradoiro foi por instantes o centro do mundo.
Por esses dias aprendemos o sabor das amoras, aprendemos a alegria...

Eu nunca me esqueço que sou do Caminho, mas não para sempre. Rumo para Casa, para junto de Deus, com um canto nos lábios e uma estrela na fronte. Vemo-nos em Sião, mas foi no Caminho que aprendemos o sabor das amoras, a alegria do mundo.
 

Enviar um comentário





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?