sábado, junho 21, 2008
O dia em que nasci chinês!
Quando nasci há 51 anos atribuíram-me um nome. Este oscilou entre Joaquim e José Augusto. Acabaram por me dar o nome do meu primo, apesar de o padrinho ser o meu tio Joaquim. Gosto de ser José e de ser Augusto. Gostaria de ser como S. José na abertura ao projecto de Deus e na capacidade de servir Jesus. Gostaria de ser “augusto” na santidade e na humildade, mas vou sendo o que sou com um sorriso nos lábios!
Ao longo da vida uns chamam-me Zé, outros Zé Augusto, outros Zé Leitão, outros simplesmente Leitão. O importante não é tanto como nos chamam, mas porque nos chamam.
Esta semana encontrei-me com dois sacerdotes chineses que visitaram Fátima. Estudam moral em Roma. Falámos em inglês e italiano. Quando faltavam as palavras recorríamos ao gesto e ao sorriso como quem diz: “não é necessário compreender tudo para nos entendermos”.
Falámos da China e das dificuldades duma igreja que não pode expressar livremente a sua fé. Revemo-nos numa nova cultura emergente e global que veste jeans e usa internet.
Eles expressaram o que sentiram em Fátima. Gostaram das cores claras e da muita luz no santuário. Para eles, o branco abria-lhes o coração para Deus e eleva-lhes a alma para o céu. Que interessante! Nunca tinha pensado nisso, mas se calhar têm razão!
A conversa foi seguindo e a amizade aproximando-nos. A certa altura perguntam-me o nome. Eu escrevi-o e eles disseram. “Nós vamos pensar num nome chinês para ti”. Fiquei espantado com a ideia e aceitei o desafio com ansiedade. Falamos do nome de S. José Freinademetz, “Fu Shen Fu”. Eles contaram-me como na China usam os seus nomes chineses “Zhang e Zhao” e cristãos: “Pedro e António”.
Antes de partirem, pediram-me para falar comigo. Fomos para o refeitório e ofereci-lhe um chá. Com algum ar de satisfeito, como quem oferece um presente, disseram-me. “Já temos um nome para ti em chinês”. E disseram o nome em chinês. Eu disse-lhe que era melhor escreverem o nome, pois a minha memória era fraca para sons desconhecidos.
Foram escrevendo o nome e como se pronuncia. Depois escreveram o significado de cada som e o outro colega ia dizendo com entusiasmo: “muito interessante”, como que a dizer “é isso mesmo, acertamos”.
Segundo eles, em chinês o meu nome novo é: “Du Tó Hê”. Sendo que “Du” designa “Tudo”; “Tó” significa: “caminho, estrada, verbo, verdade”; “Hê” indica “harmonia, gentileza, comunhão, paz”. Este nome aproxima-se ao mesmo tempo dos sons do meu nome “Duarte Leitão José”, mas também da impressão com que ficaram de mim. Neste sentido a procura dum nome é uma tentativa de presentear o outro com uma bela imagem reflectida.
Por fim, pediram-me para escrever o meu nome em chinês. Não foi fácil desenhar estas letras. Foram pacientes e ajudaram-me com orgulho a escrever o meu novo nome. Também eu fiquei contente com a amizade que me gerou chinês.
Cada vez que aceitamos dialogar com pessoas de cultura ou religião diferente, um novo horizonte se desvela, muros são derrubados e o espanto nos invade num chão comum que nos faz sentir irmãos. Nascemos de novo e saímos diferentes.
Agora compreendo o significado de Is 62,2 “dar-te-ão um nome novo designado pela boca do Senhor”. Há um nascer de novo porque há uma nova realidade de felicidade promovida por Deus. É Deus que gera o amor e a comunicação entre o diferente, que aproxima o longínquo e estabelece o diálogo entre desconhecidos. A palavra, o gesto, o sorriso, o acolhimento e a confiança marcam a procura duma verdade que se esconde na procura silenciosa de cada dia. O nome novo chinês foi apenas o coroar desta procura mútua da verdade do outro.
É preciso marcar este dia: 20 de Junho às 10:00 h, nasceu mais um chinês cuja naturalidade é o mundo e os pais são o diálogo.
Fátima, 21/06/2008
Ao longo da vida uns chamam-me Zé, outros Zé Augusto, outros Zé Leitão, outros simplesmente Leitão. O importante não é tanto como nos chamam, mas porque nos chamam.
Esta semana encontrei-me com dois sacerdotes chineses que visitaram Fátima. Estudam moral em Roma. Falámos em inglês e italiano. Quando faltavam as palavras recorríamos ao gesto e ao sorriso como quem diz: “não é necessário compreender tudo para nos entendermos”.
Falámos da China e das dificuldades duma igreja que não pode expressar livremente a sua fé. Revemo-nos numa nova cultura emergente e global que veste jeans e usa internet.
Eles expressaram o que sentiram em Fátima. Gostaram das cores claras e da muita luz no santuário. Para eles, o branco abria-lhes o coração para Deus e eleva-lhes a alma para o céu. Que interessante! Nunca tinha pensado nisso, mas se calhar têm razão!
A conversa foi seguindo e a amizade aproximando-nos. A certa altura perguntam-me o nome. Eu escrevi-o e eles disseram. “Nós vamos pensar num nome chinês para ti”. Fiquei espantado com a ideia e aceitei o desafio com ansiedade. Falamos do nome de S. José Freinademetz, “Fu Shen Fu”. Eles contaram-me como na China usam os seus nomes chineses “Zhang e Zhao” e cristãos: “Pedro e António”.
Antes de partirem, pediram-me para falar comigo. Fomos para o refeitório e ofereci-lhe um chá. Com algum ar de satisfeito, como quem oferece um presente, disseram-me. “Já temos um nome para ti em chinês”. E disseram o nome em chinês. Eu disse-lhe que era melhor escreverem o nome, pois a minha memória era fraca para sons desconhecidos.
Foram escrevendo o nome e como se pronuncia. Depois escreveram o significado de cada som e o outro colega ia dizendo com entusiasmo: “muito interessante”, como que a dizer “é isso mesmo, acertamos”.
Segundo eles, em chinês o meu nome novo é: “Du Tó Hê”. Sendo que “Du” designa “Tudo”; “Tó” significa: “caminho, estrada, verbo, verdade”; “Hê” indica “harmonia, gentileza, comunhão, paz”. Este nome aproxima-se ao mesmo tempo dos sons do meu nome “Duarte Leitão José”, mas também da impressão com que ficaram de mim. Neste sentido a procura dum nome é uma tentativa de presentear o outro com uma bela imagem reflectida.
Por fim, pediram-me para escrever o meu nome em chinês. Não foi fácil desenhar estas letras. Foram pacientes e ajudaram-me com orgulho a escrever o meu novo nome. Também eu fiquei contente com a amizade que me gerou chinês.
Cada vez que aceitamos dialogar com pessoas de cultura ou religião diferente, um novo horizonte se desvela, muros são derrubados e o espanto nos invade num chão comum que nos faz sentir irmãos. Nascemos de novo e saímos diferentes.
Agora compreendo o significado de Is 62,2 “dar-te-ão um nome novo designado pela boca do Senhor”. Há um nascer de novo porque há uma nova realidade de felicidade promovida por Deus. É Deus que gera o amor e a comunicação entre o diferente, que aproxima o longínquo e estabelece o diálogo entre desconhecidos. A palavra, o gesto, o sorriso, o acolhimento e a confiança marcam a procura duma verdade que se esconde na procura silenciosa de cada dia. O nome novo chinês foi apenas o coroar desta procura mútua da verdade do outro.
É preciso marcar este dia: 20 de Junho às 10:00 h, nasceu mais um chinês cuja naturalidade é o mundo e os pais são o diálogo.
Fátima, 21/06/2008
Comments:
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Parabéns Du Tó Hê pelo seu novo nome (o qual de facto revela um pouco de si).
engraçado como quando se partilha "o essencial" da vida é muito mais fácil compreendermos o outro e conhecê-lo....
e uma das suas grandes virtudes é de facto acolher as pessoas sempre com esse sorriso luminoso...
sorriso de amigo, que nos desarma e nos impele à bondade, à comunhão,à alegria, à harmonia, à paz...
Obrigada pelo seu testemunho!
um abraço amigo mas também de admiração
FR
engraçado como quando se partilha "o essencial" da vida é muito mais fácil compreendermos o outro e conhecê-lo....
e uma das suas grandes virtudes é de facto acolher as pessoas sempre com esse sorriso luminoso...
sorriso de amigo, que nos desarma e nos impele à bondade, à comunhão,à alegria, à harmonia, à paz...
Obrigada pelo seu testemunho!
um abraço amigo mas também de admiração
FR
O nosso nome pode dizer-nos muita coisa, e o seu pode dizer-se que revela um pouco o que é ou o que deve ser.
O meu nome em chinês não sei o que quer dizer, só sei que se escreve assim:
埃德华多
Que Deus nos ajude a ser aquilo que devemos ser.
Um grande abraço,
Eduardo (Corroios)
O meu nome em chinês não sei o que quer dizer, só sei que se escreve assim:
埃德华多
Que Deus nos ajude a ser aquilo que devemos ser.
Um grande abraço,
Eduardo (Corroios)
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