quinta-feira, junho 19, 2008
Tráfico Humano: uma afronta aos direitos humanos!
Arlindo Pereira Dias (Roma – Itália)
Cerca de 50 pessoas de 20 diferentes nacionalidades participaram no dia 17 de junho de uma conferencia sobre o trafico de pessoas no mundo na Casa Geral dos Missionários do Verbo Divino, em Roma. Em 2006, o Capitulo Geral dos Verbitas, que reuniu 160 pessoas de todo o planeta assumiu como resolução “a ampliação das informações sobre o trafico de pessoas e a busca de colaboração com outros para liberar o mundo deste terrível flagelo”.
A conferencista foi a indiana e irmã salesiana Bernadete Sangma. Desde 1999 ela coordena o trabalho de promoção da mulher a partir de seu instituto. A congregação conta com comunidades de assistência às mulheres vitimas do trafico na Itália e na Albânia. A religiosa define como missão do grupo “espalhar informação para que o conhecimento gere medidas de prevenção”. Trata-se de um projeto conjunto entre a USG e UISG (União de Superioras e Superiores Gerais) e a OIM – Organização Internacional para a migração.
O filipino P. Antonio Pernia, Superior Geral dos Verbitas, comenta que até o momento o grupo de religiosas està envolvido nesta missão, mas não conta com colaboração da parte masculina. Para ele, a importância da conferencia esta na oportunidade de “um problema tão grande ser conhecido pelas comunidades, especialmente do ramo masculino. Embora seja uma responsabilidade de todos a questão sensibiliza mais as mulheres e menos os homens. Por isso existe a necessidade que sejamos mais informados do problema”, conclui.
Entre os casos citados pelo dossiê està o de um senhor chinês de nome Ngun Chai que vendeu a sua filha de 13 anos para a prostituição, ao preço de uma televisão e ainda manifestou sentir pena de não a ter vendido por um preço melhor. Outro caso é o da menina Berta, originária da vila de Sapele, um estado que faz fronteira com Edo (Nigéria). Um conhecido contactou-a perguntando-lhe se ela queria trabalhar com a sua irmã num salão de beleza na Alemanha. Em vez disso, Berta encontrou-se na Itália onde lhe deram roupas provocantes e a obrigaram a ir para a estrada.
Quando entramos nos dados a constatação se torna ainda mais escandalosa. Todos os anos, entre 800 mil e dois milhões de pessoas são apanhadas no circulo do tráfico. A maior parte das vítimas vem da Ásia. Em um ano, cerca de 225 mil mulheres são traficadas do Sudeste da Ásia e cerca de 150 da Ásia do Sul. A ex-União Soviética é já considerada uma das maiores fontes de tráfico: as mulheres envolvidas para a exploração sexual são cerca de 100 mil. Todos os anos entre 200 mil e 500 mil mulheres são traficadas da América Latina para os Estados Unidos e a Europa.
Milan Bubak, Coordenador da Dimensão de Justiça e Paz dos Verbitas comenta que um dos motivos da propagação deste flagelo é a “falta de informação e a ingenuidade das pessoas que crêem em falsas promessas”. Ele recorda ainda que o trafico “não està relacionado apenas ao comercio sexual, mas também a outros tipos de abuso, como escravidão de trabalho e até mesmo o assassinato de pessoas para comercialização de órgãos”.
Uma imigração que possa transformar a vida!
Apos a conferencia a Irmã Bernadete nos concedeu a seguinte entrevista:
Como nasceu este compromisso em relação ao combate ao trafico de pessoas?
Os grupos de Justiça e Paz e integridade da Criação (JPIC) fizeram um encontro com a irmã Lea Ackerman, fundadora do grupo Solidariedade com as mulheres desfavorecidas (SOLWODI). O encontro suscitou interesse das congregações religiosas em trabalhar neste campo para combater o trafico. Ao seu interno criou-se um grupo de trabalho especifico sobre o trafico de mulheres e crianças. Na plenária da USG de 2001 o grupo apresentou um documento descrevendo o fenômeno e fatos relatados e as estatísticas do trafico nas diversas partes do mundo. Interpelado pela OIM – Organização Internacional para as migrações o projeto começou a oferecer cursos de formação sobre o tema na Itália. Daí para a frente foram feitos cursos na Nigéria e África do Sul, em Santo Domingos e Brasil, Tailândia e Filipinas, Roma, Albânia e Romania.
Qual foi a experiência mais difícil que teve durante o acompanhamento deste trabalho?
O trafico traz experiências muito duras de todos os lados. È tão desumanisante! A minha experiência mais forte foi acompanhar umas meninas tailandesas que foram traficadas na Itália. Uma delas tinha apenas 17 anos e a encontramos na casa de acolhida. Ela tinha uma cicatriz que ia do ombro à cintura. Ela se jogou do segundo andar porque via chegar homens, também com drogas. Ficou apavorada e se jogou do segundo andar. Ficou cheia de fraturas e ficou por muito tempo no hospital. Estava muito sofrida e dizia que se voltasse à Tailândia não poderia mais sobreviver. A vida ali e os trabalhos são muito duros e a saúde dela não permitia mais trabalho.
Em Manaus constatei que mulheres indígenas são traficadas à Ilha das Margaridas, na Venezuela, uma zona de turismo. O envolvimento do crime organizado é tão forte que as pessoas têm medo até de falar do assunto. As mulheres colombianas são levadas ao Japão para a exploração sexual. Como a cultura e a língua são totalmente diferentes, o trauma que elas sofrem é muito mais forte. No Brasil é comum o trafico interno e em direção à Europa e EUA. Na América Latina muitas mulheres de Santo Domingos e Bolívia são traficadas para a Argentina ou da Bolívia para o Chile. As mulheres peruanas são levadas à Coréia do Sul. Depois da queda de Sucre no Equador houve um fluxo muito forte de imigrantes equatorianos para a Itália, também para o trafico sexual.
O que a sociedade e as Igrejas podem fazer no combate ao trafico de pessoas?
Devemos tecer redes de colaboração para que o fenômeno seja combatido nos paises de origem e nos paises de destinação ou transito. Nos paises de origem uma das medidas a se tomar é lutar contra a pobreza e encontrar alternativas de trabalho não só para as mulheres, mas também para os jovens para que não caiam facilmente nas armadilhas dos traficantes. Ainda não sabemos utilizar nossa força na criação de canais mais seguros de imigração para os jovens que buscam melhoria de vida em outros lugares. Se os traficantes são tão capazes de estabelecer contato entre uma nação e outra para explorar as pessoas porque não podemos criar estratégias que promovam a sua dignidade?
Devemos garantir o direito a uma imigração que de verdade possa transformar a vida. Tudo isto deveria acontecer de modo transversal incluindo a luta contra a discriminação das mulheres e das meninas. Por toda a parte o aspecto da exploração sexual é muito forte. Isto chama em causa a relação de desigualdade entre homem e mulher, entre as mulheres e quem as vende e usa. Nos paises de destino, que coincidem com os paises desenvolvidos, seria necessário mudar a política de migração e combater as políticas econômicas injustas que geram o continuo empobrecimento dos paises pobres. De outro lado deveríamos procurar ver como apoiar as pessoas que caíram nesta armadilha e ajudá-las a reconstruir sua vida.
Cerca de 50 pessoas de 20 diferentes nacionalidades participaram no dia 17 de junho de uma conferencia sobre o trafico de pessoas no mundo na Casa Geral dos Missionários do Verbo Divino, em Roma. Em 2006, o Capitulo Geral dos Verbitas, que reuniu 160 pessoas de todo o planeta assumiu como resolução “a ampliação das informações sobre o trafico de pessoas e a busca de colaboração com outros para liberar o mundo deste terrível flagelo”.
A conferencista foi a indiana e irmã salesiana Bernadete Sangma. Desde 1999 ela coordena o trabalho de promoção da mulher a partir de seu instituto. A congregação conta com comunidades de assistência às mulheres vitimas do trafico na Itália e na Albânia. A religiosa define como missão do grupo “espalhar informação para que o conhecimento gere medidas de prevenção”. Trata-se de um projeto conjunto entre a USG e UISG (União de Superioras e Superiores Gerais) e a OIM – Organização Internacional para a migração.
O filipino P. Antonio Pernia, Superior Geral dos Verbitas, comenta que até o momento o grupo de religiosas està envolvido nesta missão, mas não conta com colaboração da parte masculina. Para ele, a importância da conferencia esta na oportunidade de “um problema tão grande ser conhecido pelas comunidades, especialmente do ramo masculino. Embora seja uma responsabilidade de todos a questão sensibiliza mais as mulheres e menos os homens. Por isso existe a necessidade que sejamos mais informados do problema”, conclui.
Entre os casos citados pelo dossiê està o de um senhor chinês de nome Ngun Chai que vendeu a sua filha de 13 anos para a prostituição, ao preço de uma televisão e ainda manifestou sentir pena de não a ter vendido por um preço melhor. Outro caso é o da menina Berta, originária da vila de Sapele, um estado que faz fronteira com Edo (Nigéria). Um conhecido contactou-a perguntando-lhe se ela queria trabalhar com a sua irmã num salão de beleza na Alemanha. Em vez disso, Berta encontrou-se na Itália onde lhe deram roupas provocantes e a obrigaram a ir para a estrada.
Quando entramos nos dados a constatação se torna ainda mais escandalosa. Todos os anos, entre 800 mil e dois milhões de pessoas são apanhadas no circulo do tráfico. A maior parte das vítimas vem da Ásia. Em um ano, cerca de 225 mil mulheres são traficadas do Sudeste da Ásia e cerca de 150 da Ásia do Sul. A ex-União Soviética é já considerada uma das maiores fontes de tráfico: as mulheres envolvidas para a exploração sexual são cerca de 100 mil. Todos os anos entre 200 mil e 500 mil mulheres são traficadas da América Latina para os Estados Unidos e a Europa.
Milan Bubak, Coordenador da Dimensão de Justiça e Paz dos Verbitas comenta que um dos motivos da propagação deste flagelo é a “falta de informação e a ingenuidade das pessoas que crêem em falsas promessas”. Ele recorda ainda que o trafico “não està relacionado apenas ao comercio sexual, mas também a outros tipos de abuso, como escravidão de trabalho e até mesmo o assassinato de pessoas para comercialização de órgãos”.
Uma imigração que possa transformar a vida!
Apos a conferencia a Irmã Bernadete nos concedeu a seguinte entrevista:
Como nasceu este compromisso em relação ao combate ao trafico de pessoas?
Os grupos de Justiça e Paz e integridade da Criação (JPIC) fizeram um encontro com a irmã Lea Ackerman, fundadora do grupo Solidariedade com as mulheres desfavorecidas (SOLWODI). O encontro suscitou interesse das congregações religiosas em trabalhar neste campo para combater o trafico. Ao seu interno criou-se um grupo de trabalho especifico sobre o trafico de mulheres e crianças. Na plenária da USG de 2001 o grupo apresentou um documento descrevendo o fenômeno e fatos relatados e as estatísticas do trafico nas diversas partes do mundo. Interpelado pela OIM – Organização Internacional para as migrações o projeto começou a oferecer cursos de formação sobre o tema na Itália. Daí para a frente foram feitos cursos na Nigéria e África do Sul, em Santo Domingos e Brasil, Tailândia e Filipinas, Roma, Albânia e Romania.
Qual foi a experiência mais difícil que teve durante o acompanhamento deste trabalho?
O trafico traz experiências muito duras de todos os lados. È tão desumanisante! A minha experiência mais forte foi acompanhar umas meninas tailandesas que foram traficadas na Itália. Uma delas tinha apenas 17 anos e a encontramos na casa de acolhida. Ela tinha uma cicatriz que ia do ombro à cintura. Ela se jogou do segundo andar porque via chegar homens, também com drogas. Ficou apavorada e se jogou do segundo andar. Ficou cheia de fraturas e ficou por muito tempo no hospital. Estava muito sofrida e dizia que se voltasse à Tailândia não poderia mais sobreviver. A vida ali e os trabalhos são muito duros e a saúde dela não permitia mais trabalho.
Em Manaus constatei que mulheres indígenas são traficadas à Ilha das Margaridas, na Venezuela, uma zona de turismo. O envolvimento do crime organizado é tão forte que as pessoas têm medo até de falar do assunto. As mulheres colombianas são levadas ao Japão para a exploração sexual. Como a cultura e a língua são totalmente diferentes, o trauma que elas sofrem é muito mais forte. No Brasil é comum o trafico interno e em direção à Europa e EUA. Na América Latina muitas mulheres de Santo Domingos e Bolívia são traficadas para a Argentina ou da Bolívia para o Chile. As mulheres peruanas são levadas à Coréia do Sul. Depois da queda de Sucre no Equador houve um fluxo muito forte de imigrantes equatorianos para a Itália, também para o trafico sexual.
O que a sociedade e as Igrejas podem fazer no combate ao trafico de pessoas?
Devemos tecer redes de colaboração para que o fenômeno seja combatido nos paises de origem e nos paises de destinação ou transito. Nos paises de origem uma das medidas a se tomar é lutar contra a pobreza e encontrar alternativas de trabalho não só para as mulheres, mas também para os jovens para que não caiam facilmente nas armadilhas dos traficantes. Ainda não sabemos utilizar nossa força na criação de canais mais seguros de imigração para os jovens que buscam melhoria de vida em outros lugares. Se os traficantes são tão capazes de estabelecer contato entre uma nação e outra para explorar as pessoas porque não podemos criar estratégias que promovam a sua dignidade?
Devemos garantir o direito a uma imigração que de verdade possa transformar a vida. Tudo isto deveria acontecer de modo transversal incluindo a luta contra a discriminação das mulheres e das meninas. Por toda a parte o aspecto da exploração sexual é muito forte. Isto chama em causa a relação de desigualdade entre homem e mulher, entre as mulheres e quem as vende e usa. Nos paises de destino, que coincidem com os paises desenvolvidos, seria necessário mudar a política de migração e combater as políticas econômicas injustas que geram o continuo empobrecimento dos paises pobres. De outro lado deveríamos procurar ver como apoiar as pessoas que caíram nesta armadilha e ajudá-las a reconstruir sua vida.
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