sexta-feira, novembro 27, 2009
P. Kondor: Missa do 30º dia
No dia 28 de Novembro, às 10 horas, celebra-se a Missa do 30º dia do falecimento do P. Kondor, na Capela do Seminário do Verbo Divino, em Fátima.
“É assim o coração de um missionário!”
“É assim o coração de um missionário”. Fiquei a pensar nestas palavras do Provincial dos Missionários do Verbo Divino. Estávamos em Fátima, no pátio em frente do Seminário. O momento era de silenciosa comoção. O corpo do Padre Kondor era transladado para a Igreja da Santíssima Trindade, onde uma hora depois decorreria a Missa solene e depois a partida para o cemitério de Fátima, o mesmo que tinha guardado os restos mortais dos Pastorinhos Jacinta e Francisco.
O Padre Kondor descansara aqueles dois dias depois da sua morte na casa dos seus irmãos de religião, a família que ele tinha abraçado em novo. E o silêncio daquelas longas horas de oração convidava a pensar no percurso impressionante deste homem, que viveu a maior parte da sua vida escorraçado da sua Hungria natal.
Assim veio parar a Portugal, uma terra com a qual não tinha qualquer afinidade, de paisagem, cultura, clima ou língua. Guardou aliás, na terna suavidade do seu correctíssimo português, uma pronúncia inconfundível, como um acento de saudade teimosa, que, no entanto, não lhe trazia amargura, nem lhe roubava a alegria e a afabilidade.
Amou tanto esta terra que a fez sua e se fez seu. Marcou de forma indelével a história da Igreja portuguesa: antes de mais, pela paixão missionária com que se entregou à causa da beatificação dos Pastorinhos Jacinta e Francisco Marto, que conduziu a bom termo, contra todas as expectativas de quem o desencorajou pela dificuldade de levar aos altares duas crianças; mas também porque foi um elo de ligação entre realidades eclesiais de todo o mundo, que puderam ser, umas para as outras, testemunho de caridade fraterna, até à partilha concreta dos bens materiais.
Ao vê-lo sair da sua última morada na terra, enquanto pensava na sua peregrinação de homem sem pátria e lembrava a sua doçura, a sua disponibilidade, a sua determinação, ouvi estas palavras ao seu superior: “É assim o coração de um missionário”. Tive, nesse momento a noção de que nada descreveria melhor a vida do Padre Kondor. E foi como se aquela hora de tristeza se iluminasse com uma luz de graça, confirmação e certeza.
O coração do missionário transborda de um amor especialmente desprendido e livre. Ama sem fronteiras, precisamente porque se despojou das fronteiras para amar com mais inteireza. Não tem pátria, para pertencer sem reservas ao lugar onde é enviado e ali radicar-se sem medo de partir de novo, porque a sua pátria é outra e nada menos do que um amor universal lhe preenche o coração.
Fátima confirma e faz crescer a paixão missionária. Porque é missionária a própria Senhora de Fátima que vem do Céu à terra por amor aos homens. Porque Maria fala do Seu Filho, o mais radical Missionário, que se despojou do infinito para se fazer Companheiro da humanidade. Porque são missionárias as crianças a quem Nossa Senhora aparece, que fazem sua a causa do regresso a Deus de todos os homens, a conversão dos pecadores, como em Fátima sempre se diz e reza. Porque, enfim, se tornam irreprimivelmente missionários os que escutam e guardam no seu coração a Mensagem de Fátima, de tal modo lhe reconhecem uma urgência, num mundo órfão e sedento que clama silenciosamente pelo transcendente que renegou.
A grandeza da vocação missionária, entrecruzada com a mensagem terna e poderosa de Maria em Fátima, explicam a figura singular do Padre Kondor. E tal como os Pastorinhos, que de pobres e simples se tornaram alavanca de mudança do mundo e da Igreja, também o jovem Luís Kondor, de húngaro anónimo se tornou interlocutor de cardeais, Papas e santos. “É assim o coração de um missionário!”
Madalena Fontoura
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