segunda-feira, dezembro 07, 2009
Palavra de Deus: sujeito que move a história
Intervenção do Papa no Ângelus de hoje
CIDADE DO VATICANO, domingo, 6 de Dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos as palavras de Bento XVI neste segundo domingo do Advento, ao rezar a oração mariana do Ângelus junto a milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, do Vaticano.
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Queridos irmãos e irmãs:
Neste segundo domingo do Advento, a liturgia apresenta a passagem evangélica em que São Lucas, por assim dizer, prepara a cena na qual Jesus está a ponto de aparecer e iniciar sua missão pública (cf. Lc 3, 1-6). O evangelista concentra a atenção sobre João baptista, precursor do Messias, e traça com grande precisão as coordenadas espaço-temporais da sua pregação.
Lucas escreve: “No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto” (Lc 3, 1-2). Dois elementos chamam a atenção. O primeiro é a abundância de referências a todas as autoridades políticas e religiosas da Palestina, no ano 27/28 d.C. Evidentemente, o evangelista quer mostrar a quem lê ou escuta que o Evangelho não é uma lenda, mas a narração de uma história verdadeira, que Jesus de Nazaré é um personagem histórico integrado naquele contexto preciso. O segundo elemento digno de ser sublinhado é que, depois desta ampla introdução histórica, o sujeito passa a ser “a Palavra de Deus”, apresentada como uma força que vem do alto e desce sobre João Batista.
Amanhã celebraremos a memória litúrgica de Santo Ambrósio, grande bispo de Milão. Tomo dele um comentário a esta passagem evangélica: “O Filho de Deus, antes de reunir a Igreja, age antes de mais nada em seu humilde servo. Por este motivo, São Lucas diz que a Palavra de Deus desceu sobre João, filho de Zacarias no deserto, pois a Igreja não começou com os homens, mas com a Palavra” (Exposição do Evangelho de Lucas, 2, 67). Este é, então, o significado: a Palavra de Deus é o sujeito que move a história, inspira os profetas, prepara o caminho do Messias, convoca a Igreja. O próprio Jesus é a Palavra divina que se fez carne no seio virginal de Maria: n’Ele, Deus se revelou plenamente, deu-nos e disse-nos tudo, abrindo-nos os tesouros da sua verdade e misericórdia. Santo Ambrósio continua assim seu comentário: “A Palavra desceu para que a terra, que antes era um deserto, produzisse frutos para nós” (ibidem).
Queridos amigos: a flor mais bela brotada da Palavra de Deus é a Virgem Maria. Ela é a primícia da Igreja, jardim de Deus na terra. Mas, enquanto Maria é Imaculada – assim a celebraremos depois de amanhã –, a Igreja tem necessidade contínua de purificação, porque o pecado atinge todos os seus membros. Na Igreja tem lugar sempre uma luta entre o deserto e o jardim, entre o pecado que resseca a terra e a graça que a rega para que produza frutos abundantes de santidade. Peçamos à Mãe do Senhor, portanto, que nos ajude, neste tempo do Advento, a “aplanar” nossos caminhos, deixando-nos guiar pela Palavra de Deus.
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]
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