domingo, fevereiro 28, 2010

 

Leitura reflectida dos trágicos acontecimentos na Madeira


O violentíssimo e inesperado temporal que se abateu sobre a Ilha da Madeira, no passado dia 20, levando vidas humanas e causando incontáveis prejuízos materiais, tornou-se num forte e sensível apelo à solidariedade que logo deu lugar a um serviço de pronto socorro e de incansável apoio à população afectada física, espiritual e materialmente falando. Mas, foi, também, um convite à reflexão sobre a fragilidade e precaridade da vida humana, porque a ciência e a razão não têm explicação cabal para certos acontecimentos que transcendem a visão da inteligência e da compreensão humana.
Não deixa de ser uma grande interpelação, o facto de, no meio de uma consternação geral, todos se darem as mãos, incluindo a população local, as instituições civis e religiosas, públicas e privadas, de forma espontânea mas organizada, para, o mais rapidamente possível, se acender a luz da esperança no coração dos madeirenses, e se devolver a segurança e a beleza, a possibilidade de circulação e de vida activa à população, bem como de vida feliz a quem nos visita, à procura de beleza, de tranquilidade e de paz.
Tudo o que vemos, ouvimos e lemos, relativo à força interior deste povo, da sua notória atitude de fé e de esperança e à sua indesmentível capacidade de luta em reconstruir o futuro, sem deixar de chorar os que partiram, tudo constitui uma lição de vida, para quem facilmente desanima diante das dificuldades existenciais.
É caso para concluir que, quando a alma de um povo fica ferida, todos se sentem possuídos e dinamizados por capacidades de acção, aparentemente inexistentes, acompanhados por sinais de solidariedade e bem-querer, a evidenciar o espírito do sentimento humano e nacional capaz de pôr de lado discordâncias e querelas partidárias.
Pena é que precisemos de ser abanados tão profundamente, para o nosso coração se abra ao próximo e se una num autêntico abraço de solidariedade e de amor pela defesa da vida, global e integralmente falando, e do bem comum que a todos faz bem sem acepção de pessoas, raças, culturas, credos ou religiões.
Está a ser maravilhoso o espírito de entreajuda verificado nestas horas de aflição e de angústia, que deixaram a nu o sentimento real de impotência, face à força incontrolável dos fenómenos da natureza, mas que nem por isso provocam atitudes de revolta ou de desespero, graças a uma vida iluminada pela fé em Deus Salvador e único Libertador que pacifica o coração dos que sabem atribuir a Deus o que é de Deus e à natureza o que é da natureza.
Por isso, não resisto a enumerar alguns sinais de esperança que um olhar de fé consegue descobrir, neste acontecimento devastador:
1. O facto do temporal ter ocorrido a um sábado: escolas fechadas, menor circulação de pessoas;
2. A real e extraordinária onda de solidariedade e espírito de entreajuda, nas operações de salvamento e a união de esforços nas acções de limpeza e reconstrução dos espaços destruídos, públicos e ou privados;
3. A total cooperação das forças vivas, locais e nacionais, ligada à excelente e inteligente organização, e à incansável dedicação das equipas liderantes das várias acções no terreno;
4. O rápido envolvimento de todos os recursos humanos e técnicos, graças à existência de um Plano de Emergência Local, desde 2003 que foi logo accionado:
5. A protecção de N. Sra de Fátima, cuja imagem peregrina está desde há já alguns meses de visita a todas as freguesias da Madeira, como Mãe a querer falar e abençoar os seus filhos que aí vivem;
6. A miraculosa descoberta da imagem de N.Sra da Conceição, resgatada do meio das lamas, apesar da Capela onde era venerada por toda a população crente, conhecida por Capela da Babosas, ter sido totalmente arrastada e destruída.
7. A existência de heróis que perderam a vida tentando salvar a vida do seu próximo.
8. A exortação à esperança, porque Deus está connosco no meio da adversidade e ouve as nossas súplicas, feita pela Liturgia do 1º Domingo da Quaresma, como se tivesse sido preparada em ordem aos acontecimentos ocorridos. Basta lembrar as palavras do refrão do Salmo: “FICAI CONNOSCO, SENHOR, NO MEIO DA ADVERSIDADE”, refrão que ao ser cantado fez arrepiar o coração dos fiéis reunidos na Celebração Eucarística Vespertina.

Depois de tudo isto, ouso terminar esta reflexão, pedindo, a quem se questione ou duvide da presença salvadora de Deus na existência real da vida, que dedique um momento do seu tempo a reflectir sobre a seguinte proposta:
-Abramos os nossos ouvidos à sua voz de bom Pastor, e os olhos do nosso coração à contemplação das maravilhas que Deus criou e espalhou por todo o lado, como sinais da sua presença amorosa e terna, para nos convidar a optar pelo Belo e pelo Bom que todos ansiamos e procuramos alcançar.

Aproveitemos este tempo da Quaresma, para meditarmos no que é importante e vital, para nós e para a humanidade.

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 26.02.2010

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