domingo, março 31, 2013

 

Domingo de Páscoa


A Ele, que mataram, suspendendo-o de um madeiro, Deus ressuscitou-o. (cf. At 10,34a.37-43)

Deus não abandona o Seu Filho na morte.
Ele é a ternura que acaricia e recria a Vida.
Ressuscita o Seu Filho porque o verdadeiro Amor
ninguém o pode matar e sepultar.
A morte deixa de ser o fim que vence a vida
e passa a ser a passagem para a Vida amante.
Jesus, o Vivente, volta como Bom Pastor
para acompanhar e salvar as ovelhas perdidas
que O mataram e suspenderam na Cruz.
É o Cordeiro que salva o lobo, predador de vida!

Todos celebram a Páscoa, pois é feriado,
mas nem todos celebram a mesma Páscoa.
Uns aproveitam para umas férias de diversão,
outros visitam lugares de tradição religiosa ou gastronómica
porque acham belo e cultural,
outros recolhem-se para participar nas celebrações litúrgicas.
O mais importante é ver como voltamos!
Houve mudança de vida?
Na minha vida deixei passar a Páscoa da Vida Nova?
Fizemos a experiência dum Amor
mais forte do que o nosso pecado?
Ressurgiu em nós a alegria e a esperança?

Senhor do Amor que move montanhas
e abre os túmulos do nosso egoísmo,
ressuscita-nos para uma vida nova.
Envia-nos o Teu Espírito de luz
e grava no nosso coração o desejo de amar
e de Te anunciar a toda a criatura
como Salvador do mundo.

A todos desejo uma Santa Páscoa do Senhor da Vida!

sábado, março 30, 2013

 

Sábado Santo


Sepultaram a Palavra

Cansados de ouvir falar de amor,
crucificaram a Palavra da Verdade,
sepultaram a gramática da Vida.
Hoje o silêncio dói de ausência,
mas a esperança alimenta a solidão.
O mundo arrefeceu de trevas
que as luzes de néon não dissipam.
Só a espera confiante na Palavra
pode acreditar que a semente da Aliança
vai brotar, ao terceiro dia, flor de eternidade
e renascer em nós caridade.

Aumenta, Senhor, a nossa fé,
e abre-nos à promessa da vitória sobre a cruz.
Retira em nós as pedras que nos sepultam
e fazem de nós mortos-vivos em solidão.
Que o nosso silêncio seja fecundo
e a nossa palavra eco do Emanuel.  

sexta-feira, março 29, 2013

 

6ª Feira Santa

Foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. (cf. Is 52,13-53,12)

É tempo de contemplarmos o Amor,
carregando a cruz da frieza do nosso egoísmo,
suportando as dores dum amor traído,
desfigurado pela cegueira dum tempo limitado.
O aspeto é frágil, manso, acolhedor, desfigurado.
Nem parece o Rei do Universo, pelo qual tudo foi criado.
Quase não dá para reconhecer um ser humano,
quanto mais um Filho de Deus, emigrado humanidade!
Mas ao contempla-Lo, transfigura-se o nosso rosto,
cheio de sangue que mata a alegria e a fraternidade,
insensível à injustiça e ao irmão abandonado,
carregado de mentira, ressentimentos e invejas,
que caminha sem norte para a morte.

Como no tempo de Noé, comemos e bebemos,
construímos e destruímos castelos de areia,
sem nos darmos conta que há só uma barca que nos salva
quando o dilúvio da verdade nos surpreende sem remédio.
O tempo especializou-se em artifícios de evasão:
analgésicos e drogas para não sentir a dor,
fones nos ouvidos para não ouvir a realidade,
pão virtual do olhar para sonhar acordado,
festas alcoolizadas de noite para esquecer a dureza do dia.
Assim distraídos, ainda haverá tempo e disposição
para ver o Amor invisível crucificado
que ilumina e desmascara uma vida de fazer de conta?

Senhor Jesus, obrigado por teres carregado os meus pecados.
Obrigado porque antes de nos pedires para sermos Sireneus,
já Tu vais à frente, ajudando-nos a carregar a cruz merecida
pelos muitos pecados que apequenam o nosso coração generoso.
Obrigado porque perante a nossa apatia e rejeição
não foges da Cruz do Amor, nem desistes de nos amar eternamente.
Ensina-nos a ser fieis até ao fim e incondicionalmente,
a amar quando não somos amados,
crucificando em nós respostas que infernizam a alegria.


quinta-feira, março 28, 2013

 

5ª Feira Santa


«Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». (cf. 2Cor 11,23-26)

Jesus é a nova Páscoa da salvação
dos nossos desterros de escravização.
Ele entrega toda a Sua vida
para salvar a ovelha perdida.
Une o Céu e a Terra numa Aliança de sangue,
perfumada de perdão e amor sem condição.
É Deus, com bata de servo, a purificar,
todos os que aceitam deixar-se lavar
na mesa da comunhão e do banquete da inclusão.

Jesus manda-nos fazer memória da sua Ceia,
celebrar a Eucaristia da Páscoa sempre atual.
Sem a celebração comunitária da Sua entrega na Cruz
o cristão perde a memória do Salvador,
esquece o amor que se faz banquete para os perdidos-achados,
afasta-se da família grande que Deus nos deu como irmãos.
Ver a Missa na televisão não compromete pés instalados.
Ir de vez em quando, não cria caminho de vida.
Especializar-se em santuários e procissões,
faz da religião um espetáculo-passatempo.

Senhor Jesus, alimento de fé e de partilha de vida,
ensina-nos a fazer memória de Ti
no lavar os pés ao outro, no acolher a diferença,
no perdoar a quem nos ofende,
na partilha do pão e do tempo com quem precisa.
Faz-nos fieis e alegres na celebração comunitária
da Eucaristia da Tua entrega, em aliança de amor.
Alimenta-nos com o Teu Corpo e Sangue
que nos assimila em Ti e nos enraíza no Amor.
Auxilia os sacerdotes a serem sinais transparentes
do único Sacerdote que nos dá o Pão do Céu.

quarta-feira, março 27, 2013

 

4ª feria da Semana Santa


O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo. (cf. Is 50,4-9a)

Jesus, sendo Filho, faz-se Servo e Discípulo.
Como homem, ouve o Pai com acolhimento,
segue o Seu projeto de salvação com fidelidade,
por isso, fala tanto com a vida como com a palavra.
Tudo Nele é pura transparência do coração de Deus.
Anima os abatidos, é boa nova para os tristes,
perdão para os pecadores, remédio para os doentes...
Apesar disso, muitos O perseguem, O traem,
O rejeitam, O ignoram, O maltratam, O crucificam!
Jesus em tudo se mantém fiel à mansidão e ao amor,
confia no Pai que O conduz pela mão, na noite da dor,
e espera a conversão daqueles que O ofendem cegamente.

Hoje mais do que discípulos, existem fãs de ídolos.
Imitam pormenores externos de pessoas da ribalta,
não interessando a sua estatura moral,
nem a sua maturidade humana
nem a sua beleza e qualidade de vida e de relações.
Ser discípulo é procurar, com a candeia da verdade,
mestres da arte de viver em comunidade e de estar sós,
especialistas em valores que enraízam a paz e a justiça,
profetas da esperança que sabem ver para lá das nuvens,
sorrisos que acolhem e transmitem confiança.
Ser discípulo é não limitar-se a imita-los mimicamente,
mas é ficar com eles e aprender ir à fonte onde bebem
e alimentar-se da mística que os fazem ser tão inspiradores.

Senhor Jesus, Tu és o Mestre que eu procuro,
o Senhor que quero aprender a seguir na arte de viver.
Ajuda-me a não ter medo de ser fiel ao amor,
quando me ridicularizam e perseguem.
Desperta os meus ouvidos para falar como discípulo,
ver a partir do horizonte da eternidade e da esperança,
atuar com a ternura das flores do deserto.
Que o Teu Espírito me ajude a viver esta Semana Santa
com a seriedade confiante do discípulo amado.

terça-feira, março 26, 2013

 

3ª feira da Semana Santa


E eu dizia: «Cansei-me inutilmente, em vão e por nada gastei as minhas forças» (cf. Is 49,1-6)

Deus criou o universo e a humanidade
com um sonho infinito de festa e de amor.
Criou-nos livres porque não nos quer marionetas
e deu-nos o livro de instruções para sermos felizes.
A liberdade enveredou pela experimentação,
longe das instruções do Criador e da gramática da felicidade.
O resultado é: aquilo que podia ter sido um paraíso
transformou-se num inferno de guerras, invejas,
exploração, injustiças, mentiras, infidelidades...
Deus não desistiu de recordar as instruções da vida,
mandou profetas, perdoou aos arrependidos
e por fim enviou o seu Filho e deu-nos o Seu Espírito.
Ao olhar a história, ficamos com a sensação
que Deus gasta-se inutilmente por nós,
porque nós não fazemos caso da Sua luz de aviso.

Cada pessoa precisa de fazer o seu caminho,
fazer as suas opções e aprender a viver.
A história é mais uma forma de Deus nos ensinar
as opções que levam à felicidade e geram vida
e as opções que levam ao trono efémero da morte
As pessoas boas, interessadas na paz e no bem comum,
olham mais além do seu umbigo,
acreditam que a vida está aberta ao futuro
e inspiram-se nAquele que fermenta o Amor.
As pessoas inseguras procuram o poder,
as que não acreditam nos amigos constroem castelos,
as que não confiam no futuro emborracham-se de prazer,
as que não creem em Deus arvoram-se em tiranos tristes.

Senhor Jesus, Bom Pastor que não Te cansas de nós,
nem desanimas de ter de começar tudo de novo
cada vez que nasce mais uma vida.
Obrigado pelo dom da fé, da vocação e da missão.
Ajuda-nos a não desanimar de testemunhar o Teu amor.
Anima-nos quando os resultados da missão são pequenos.
Nós cremos em Ti, nesse amor sem cansaço!
Dá-nos força para gastarmos a vida
pela salvação da humanidade.

segunda-feira, março 25, 2013

 

2ª feira da Semana Santa


Não apagará a torcida que ainda fumega: mas proclamará fielmente a justiça. (cf. Is 42,1-7)

Jesus é o Filho que se faz Servo de Deus,
conduzido pelo Espírito que faz novas todas as coisas,
promove fielmente o projeto salvador de Pai.
Atua segundo a fidelidade e a justiça amorosa,
curando a cana fendida,
avivando a torcida que ainda fumega,
procurando recuperar o perdido
porque Deus quer que todos se salvem.

Habituámo-nos a deitar no lixo o que tem defeito,
a apenas valorizar o calibrado, o belo e forte.
O cavalo ferido ou doente é para abater.
Quem está numa posição de força despreza
ou humilha o que está numa posição de fragilidade.
É o caminho do crescer à custa da desgraça do outro,
a estratégia de procurar o fraco do outro para o vencer.
Neste sistema competitivo, segue-se a lei do mais forte
e há gente que sobra, que fica à margem, considerado lixo!
Este não é o caminho de Jesus nem do cristão.

Senhor Jesus, reconstrutor de ruínas e situações perdidas,
ajuda-nos a aprender a arte de recuperador,
e dá-nos a paciência do restaurador de irmãos perdidos.
Que o Teu Espírito nos faça ver no outro um irmão.
Liberta-nos da tendência predadora de sobrevivência
e faz-nos ser um anjo da guarda do irmão mais fraco.

domingo, março 24, 2013

 

Domingo de Ramos e da Paixão


Jesus seguia à frente dos seus discípulos, subindo para Jerusalém. (cf. Lc 19,28-40)

Jesus é o Filho de Deus, o Rei do universo.
Encarna numa Virgem da Galileia, despido de poder,
embora sirva à maneira de Senhor.
Ele vai à frente, consciente do que lhe vão fazer,
conduzindo os acontecimentos e ensinando os discípulos.
Entra em Jerusalém montado num jumentinho,
pois não precisa da “prótese” dum cavalo de raça
para se sentir Senhor e parecer grande e forte.
Ele sabe que é o Rei da paz que vem do Céu
e a Cruz, que vai acolher com suor de sangue,
é a glória de Deus que brota dum coração aberto.

Às vezes colocamo-nos à frente de Jesus.
Queremos ensina-Lo a ser grande,
ajudando-nos a vencer na vida.
Afastamo-nos de Jerusalém porque é um local perigoso.
Usamos as mesmas armas de ataque e destruição,
criticando a violência dos outros.
Deitamos mão da mentira e da artimanha,
para competir com os que usam estes métodos.
Procuramos conquistar o poder
porque achamos que os que estão no poder,
não o fazem desinteressadamente.
Não perdoamos a quem nos ofende,
porque achamos que quem falha não tem perdão.

Senhor Jesus, Rei do amor que serve a paz,
ensina-nos a seguir-Te com ouvido de discípulo, olhar de fé
e coração disponível para amar incondicionalmente.
Ajuda-nos a aclamar-Te com os ramos da coerência
e as capas que protegem o mais frágil e desprotegido.
Fortalece os nossos pés de fidelidade,
pois não queríamos mais uma vez fugir
quando a cruz aparece e a dor sangra de injustiça.
Aumenta a nossa fé para que quando o Céu escurecer
saibamos que Tu brilhas de amor eterno por nós.

sábado, março 23, 2013

 

ACLAMEMOS JESUS EM JERUSALÉM E NA CRUZ


Ao erguer os nossos ramos,
A Ti Jesus, aclamamos
E louvamos, com ardor,
Porque só em Ti confiamos
E jamais Te abandonamos,
Na Tua hora de dor,
Como Servo Sofredor,
Pelo povo pecador,
Tu, o Santo e Inocente,
Que vens salvar toda a gente!

Que estes ramos que erguemos,
Digam que a Ti pertencemos,
Na alegria e na dor,
Para ficarmos unidos,
À Árvore da Tua Vida,
Alimentados na seiva
Que dá vida à Tua igreja,
E produzirmos bons frutos,
Saborosos e abundantes,
Para todos os irmãos,
Vivendo perto ou distantes,
Em sinal universal
Do amor de Deus presente,
De braços sempre estendidos,
Para a todos abraçar
E ajudar a erguer
Quem se quiser levantar.

Ele, o Príncipe da Paz,
Esta afirmação nos faz:
Mesmo que vos ameacem,
Nunca pareis de cantar,
De bendizer e louvar
Aquele que vos vem salvar.
Porque se vocês se calarem,
Até as pedras do chão
Se erguerão e gritarão!

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 23.3.2013

 

Sábado da 5ª semana da Quaresma


Hei-de purificá-los, para que sejam o meu povo e Eu seja o seu Deus (Ez 37,21-28)

Deus é comunhão de santidade e de amor
e deseja ardentemente estender esta comunhão
ao Seu povo divido em reinos e afetos cegos
num vale de lágrimas procurado e odiado.
Jesus é a nascente da gratuitidade renovadora,
onde o perdido e desorientado se encontra,
o divido e separado se reconcilia,
o medo e a desesperança floresce confiança,
o egoísmo renasce solidariedade fraterna.

A purificação querida por Deus
não se pode limitar a uma confissão de preceito,
como que a dizer: “faço esse jeito a Deus,
mas eu não preciso, pois não me sinto pecador!”
Estas são as confissões por dever e talvez por medo.
O que Deus quer é que aproveitemos 
a Quaresma e a escuta da Palavra de Deus,
para fazer uma séria consulta espiritual
e vejamos como vai a nossa relação com Deus,
que relações alimento e promovo na família,
no trabalho, na escola, entre os amigos,
como cuido da minha saúde corporal e espiritual???
A minha vida neste mundo faz a diferença? Em quê?

Senhor, Pai de bondade e Mãe de vida nova,
obrigado porque não desistes de nos amar,
obrigado porque não te cansas de nos purificar.
Ajuda-nos a não ter medo de nos banharmos na verdade,
e reconhecer que há palavras que magoam,
que há ressentimentos que nos adoecem a vida,
há desejos que nos escravizam a coisas e pessoas,
há comportamentos que nos desfeiam e infernizam,
há projetos que eclipsam Deus e o amor perfumado.
Senhor ajuda-nos a aproveitar esta Quaresma
para nos purificarmos e renascermos em Ti
para uma VIDA mesmo NOVA.

sexta-feira, março 22, 2013

 

6ª feira da 5ª semana da Quaresma


Esperavam que eu desse um passo em falso.(cf. Jr 20,10-13)

Jeremias é um profeta que incomoda,
denuncia o mal e propõe a conversão.
Quem não quer mudar e se sente atingido,
quer calar a verdade, descredibilizando o porta-voz.
Procuram e apontam para o argueiro no olho do outro,
para não tirarem a trave que têm no seu.
A Jesus fizeram e fazemos o mesmo.

Hoje a metodologia de fuga à verdade é a mesma.
Em vez de escutarmos as criticas,
para vermos se são reais e até agradecermos,
tentamos logo ver se podemos calar o outro
procurando também uma fragilidade para o atacar.
A correção fraterna e a denúncia profética
são vistas, pelos visados, como um ataque pessoal
que é preciso combater com a mesma moeda.
Os interesses corporativos, partidários e clubistas
especializam-se na defesa do ataque
e não na renovação e melhoramento
com as contribuições que vêm dos seus contraditórios.

Senhor Jesus, Verdade que salva,
Palavra de conversão que cura a raiz do mal,
abre-nos ao remédio amargo da verdade que nos sara.
Ajuda-nos a aproveitar esta Quaresma,
não para nos especializarmos em detetives dos outros,
mas para nos corrigirmos com humildade e alegria
com as contribuições que recebemos dos outros
e com a força iluminadora da Tua Palavra.

quinta-feira, março 21, 2013

 

5ª feira da 5ª semana da Quaresma


Abrão caiu de rosto por terra e Deus falou-lhe. (cf. Gn 17,3-9)

Deus escolheu um homem sábio de idade
para fazer, por meio dele, uma aliança de eternidade.
Amou a sua humildade prostrada em adoração,
gostou da sua escuta acolhida com confiança,
deleitou-se no seu olhar que o faz caminhar na fé.
Encontrou em Abrão o eco da adesão do coração,
por isso, chamou-o com carinho: Abraão
e fê-lo Pai fecundo de todos os que se prostram em oração.

Hoje a arrogância subiu ao palco da moda.
Todos querem falar alto, botar razão, exigir direitos,
mostrar a sua originalidade ruidosa e altiva,
destronar o Outro e os outros para ser autoridade.
Parecemos uma sociedade adolescente!
Assim é difícil a aliança perpétua de dois amores,
a escuta dialogada de quem quer caminhar juntos,
o eco solidário de quem vê uma mão suplicante,
o abraço compreensivo de quem cura a ferida ofendida,
os joelhos orantes de quem confia no Amor invisível.

Senhor, Deus de Abraão, nosso Pai na fé,
e Pai de Jesus, antes de ser concebido em Nazaré,
obrigado porque nos criaste no útero do amor.
Ajuda-nos a ser eco fiel na escuta da Aliança
e a converter-nos em peregrinos de vidas abraâmicas.
Conduz-nos com o cajado da luz do Teu Espírito,
e ensina-nos a caminhar de mãos dadas
e a descansar prostrados de rosto por terra
para não desfalecermos de desesperança
e podermos ver a porta, invisível a olho nu, do Céu.

quarta-feira, março 20, 2013

 

4ª feira da 5ª semana da Quaresma


Arriscaram a sua vida a fim de não prestarem culto ou adoração a qualquer divindade que não fosse o seu Deus. (cf. Dn 3,14-20.91-92.95)

O mundo está cheio de altares de deuses
promissores de libertação e felicidade.
O único Deus que é verdadeiro
e o fundamento de tudo e de todos
é aquele que não se vê nem faz ruído.
Fala a linguagem do amor e da beleza natural,
vê-se com os óculos da fé e da confiança,
encontra-se com o abraço da misericórdia,
liberta com a verdade e o serviço.

As divindades de ouro e marca humana,
brilham com luz que ofusca e atrai,
enchem-nos de felicidades passageiras
e ameaçam excluir quem não se submeter.
À submissão chama-se fidelização de clientes,
à dependência chama-se direitos
(do fumador, do drogado, do consumidor...)
À fuga da dor chama-se felicidade,
à mentira bem apresentada chama-se verdade,
ao capricho e egoísmo chama-se liberdade.

Senhor, Deus vivo e verdadeiro,
que habitais no meio de nós
como oxigénio que não se vê mas é vital,
como perfume suave que purifica os maus cheiros,
como o orvalho da manhã que beija a natureza,
como dona de casa que nos cuida e põe a mesa,
numa festa permanente de ruído ausente.
Aumenta a nossa fé e confiança em Ti,
abre os nossos olhos à verdade da Tua presença,
e ensina-nos a arriscar e a dar a vida
por um mundo melhor para todos,
uma fraternidade justa e libertadora,
um horizonte de esperança que não cansa.

terça-feira, março 19, 2013

 

3ª feira da 5ª semana da Quaresma, solenidade de S. José


A herança vem pela fé, para que seja dom gratuito de Deus. (Rm 4,13.16-18.22)

Jesus, Filho de Deus, é puro dom gratuito à humanidade.
Para que o dom não pareça fruto humano,
Deus escolheu uma virgem como Mãe
e um noivo justo e fiel como pai.
S. José não diz uma única palavra na Bíblia.
Ele é o homem da escuta, da fé que confia no anjo,
da prática que cuida de Jesus e Maria no silêncio.
É fundamental na estrutura do edifício,
mas aceitou ser coluna invisível que sustenta.

Hoje o mundo sonha ser estrela.
Reclama notoriedade e reconhecimento.
Quer dar nas vistas nem que seja pela negativa.
O importante é a aparecer na televisão, nos jornais,
nas redes sociais, no pódium, nas bocas do mundo.
Chegamos a pensar que quem não aparece não existe,
mas esquecemos que num edifício o mais importante
são os fundamentos, os alicerces, as colunas e vigas.
O resto pertence aos materiais de decoração
que dão a cara e exprimem beleza e conforto,
mas nada são, nem se sustentam, sem a estrutura invisível.
Se todos quiserem ser ostentação para fora
quem sustenta o mundo no seu fundamento?

Senhor, Deus de bondade, do dom e do silêncio,
obrigado pelo “Sim” de José na penumbra do serviço.
Obrigado por José, homem de fé que se pôs a caminho,
sem saber como vai ser nem o que vão dizer,
confia somente e obedece fielmente,
como quem se especializou em viver das surpresas de Deus.
Ensina-nos, José, a entrar nesta aventura da fé
que aprende a sonhar com Deus,
na escuridão da noite, da dúvida e da angústia.
S. José, cuida de nós como cuidaste de Jesus e Maria,
pois sabemos que contigo a a aparência
terá sempre bom fundamento.
Assiste o Papa Francisco no seu serviço à Igreja.

segunda-feira, março 18, 2013

 

2ª feira da 5ª semana da Quaresma


Perverteram a sua mente e desviaram os seus olhos de modo a não olharem para o Céu. (cf. Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62)

Deus não abandona a humanidade,
nem desvia o seu olhar penetrante
do inocente injustamente condenado,
nem do pecador que às escondidas faz o mal.
Deus não julga segundo a raiva e a vingança,
mas segundo a verdade reencontrada e revelada
e o amor paciente e fiel de Deus omnipotente e Pai.

A profecia de Daniel radiografia-nos a realidade.
A justiça só funciona com pessoas justas,
que não desviam o olhar do Céu, donde são vistos,
nem têm interesses pervertidos e sombrios,
mas veem e escutam como peregrinos da verdade
e julgam com mãos limpas e consciência reta.
Os juízes e advogados de mente pervertida
usam redes largas para peixes poderosos
e redes finas para peixes pequeninos e pobres.
A injustiça da justiça, mesmo profissional,
não escapa ao olhar penetrante de Deus-Pai
que sempre se coloca ao lado do mais frágil e inocente.

Senhor, Luz reveladora das doenças escondidas
sob os disfarces da piedade e da justiça,
cura-nos da mentira que contamina as relações,
liberta-nos dos maus desejos que nos pervertem o coração.
Ajuda-nos a aproveitar esta Quaresma para a conversão
e a voltarmos para Ti com olhar puro e mãos limpas
numa cultura que precisa de respirar justiça e verdade,
fé e caridade, atenção e fraternidade, escuta e gratuitidade. 

domingo, março 17, 2013

 

5º Domingo da Quaresma


Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? (cf. Is 43,16-21)

Deus é sempre o mesmo, ontem, hoje e amanhã.
É o mesmo no amor, não na forma sempre nova de nos amar.
A criatividade que surpreende pelo detalhe e fidelidade
é uma caraterística de quem pensa
permanentemente na pessoa que ama.
Para ver o novo que nos surpreende como dom,
é preciso deixar de olhar para o passado,
para a rotina que automatiza o dia,
e passar a fixar o olhar no presente de exílio,
com a confiança dum bebé cansado e assustado,
que adormece tranquilo no colo de sua mãe.

Os tempos atuais fazem-nos idealizar o passado,
invejar a sorte de algumas pessoas e países priveligiados,
desesperar perante uma austeridade não desejada,
procurar soluções mágicas de evasão
para voltarmos ao mesmo de antes sonhado.
A Palavra de Deus desafia-nos a “olhar”,
a estarmos atentos ao novo que está a surgir,
ao renascimento de vida nova que está a acontecer,
baseado na simplicidade, verdade e solidariedade.

Senhor, escritor de romances belos
nas linhas tortas da nossa história desencontrada,
ensina-nos a ler este alfabeto, cada dia renovado,
pela gramática do amor sempre delicado.
Abre o nosso olhar de esperança na tribulação
e dá-nos um coração fraterno nas dificuldades.
Aumenta a nossa fé e confiança em Ti presente
para que possamos descansar e trabalhar tranquilamente.
Conduzidos pela Tua mão amiga e escondida
podemos ver surgir a Primavera que rebenta,
mesmo por detrás das nuvens de borrasca,
que se descarregam sobre a terra abundantemente.

sábado, março 16, 2013

 

ORAR É DEXAR DEUS ENTRAR



Deixemos Deus entrar,
Para a Sua misericórdia
E amor nos transformar,
Libertando-nos do mal,
Num tu- a -Tu com Jesus,
Que nos banha do perdão,
Mais tarde selado na Cruz,
Enquanto quem nos acusa
Atira as pedras ao chão,
Porque o gesto de Jesus
Os enche de confusão.

Também sou uma mulher,
Pecadora como tu, irmão,
Cujo nome só Deus sabe,
Mas nos cobre do Amor
Que é fogo abrasador
Do pecado que nos tolhe
A liberdade interior,
De agirmos em verdade,
Como filhos do Senhor.

Deixemo-nos penetrar,
Pelo Olhar Salvador
De Jesus Nosso Senhor,
Que nos convida a largar
O lixo que nos impede
Caminhar no Seu amor,
Deixar as redes na praia
E na Sua barca entrar,
Para, com Ele, chegar
Às águas do alto mar,
Peixe abundante pescar,
De modo a matar a fome
De quem não têm força nem rede,
Para poder trabalhar.

Se acolhemos o perdão,
Partilhemos, nós também,
Com justiça peixe e pão
À mesa com cada irmão,
Orando a Deus transforme
Nosso pobre coração,
Em forno fornecedor
De pão de vida e amor.

Maria Lina da Silva, fmm - Lisboa,15.3.2013     

 

Sábado da 4ª semana da Quaresma


Eu era como manso cordeiro levado ao matadouro.( cf. Jr 11,18-20)

Deus apresenta-se como Bom Pastor,
que cuida das suas ovelhas, procura a que se perdeu,
cura a doente, conduz o rebanho às boas pastagens.
Jesus defende as suas ovelhas do lobo
e dá a vida por elas, para as salvar.
O profeta Jeremias compreende,
que por ele falar em nome do Senhor, Bom Pastor,
os maus pastores querem matar a sua voz de verdade
e maquinam às ocultas cortar esta árvore viçosa.
Jesus, a Palavra de Deus sem mistura,
sofre o mesmo destino de tentativa de silenciamento
no mundo do ruído das palavras de encantamento.

O empresário que cria e engorda animais,
não o faz por amor desinteressado,
mas por estratégia de negócio e lucro.
Há quem, sob a lã virtual de amigo e bom pastor,
embora com garras de leão escondidas,
engana na internet os mendigos de amor
e conduz as vítimas, como cordeiros ao matador,
iludidos de contente até serem fatalmente apanhados.
Há cordeiros que vão parar aos matadouros da escravidão,
outros aos tráficos da prostituição e da droga,
outros às malhas da máfia e do roubo...
Há cordeiros que aparecem mortos simplesmente
porque falam a verdade e buscam a justiça,
ou professam a sua fé no Deus da vida e do amor.

Senhor Jesus, Cordeiro de Deus imolado por amor,
Liberta-nos dos enganos de encantamento
e protege-nos das garras e tentações do mal.
Conduz-nos com a luz da Tua Palavra de aviso
à fortaleza profética da verdade e da justiça.
Faz de nós anjos da guarda dos frágeis iludidos
e bons pastores das ovelhas perdidas e feridas.

sexta-feira, março 15, 2013

 

6ª feira da 4ª semana da Quaresma


Dizem os ímpios, pensando erradamente: «Armemos ciladas ao justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas obras. (cf. Sab 2,1a.12-22)

Deus vê o íntimo de cada um,
conhece a verdade da justiça que nos habita
e a maldade que nos cega o sentimento.
Vê como rezamos, mas também como convivemos,
como negociamos, como julgamos, como falamos.
A prova da verdade das nossas palavras e representações
revela-se no que fazemos longe do olhar dos outros
e como reagimos no sofrimento e perseguição,
como quem sobe a corrente pois sabe onde é a fonte.
Jesus é o Justo que incomoda o piedoso sem piedade
e prova que nos ama incondicionalmente
quando O rejeitamos e perseguimos
e, podendo pedir ao Pai fogo destruidor sobre os ingratos,
pede antes perdão pelos que não sabem o que fazem!

A vida em sociedade cria pressões culturais
de nivelamento pelo consenso da maioria
e pelo que é etiquetado de moderno e desenvolvido.
É difícil fazer a diferença, caminhar em contracorrente.
É difícil ser casto sob a pressão duma cultura da sensualidade.
É difícil ser justo e verdadeiro
numa cultura fundada na mentira e no salve-se quem puder.
É difícil ser fiel ao amor conjugal e à amizade
numa cultura que exalta a infidelidade e o experimentalismo.
É difícil ser-se cristão e manifestar publicamente a sua fé
numa cultura secularizada, sem confiança no futuro.

Senhor Jesus, Palavra que corresponde à Vida,
numa eternidade fiel, mesmo quando se faz tempo.
Ensina-nos a fidelidade da mansidão na perseguição,
do amor na rejeição, do perdão na ofensa,
da fortaleza na pressão e ridicularização,
da humildade na bem-aventurança,
da paciência na inconstância,
da esperança na doença e na morte.

quinta-feira, março 14, 2013

 

5ª feria da 4ª semana da Quaresma


Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios.(cf. Ex 32,7-14)

O Sinai está cheio de luz e de comunhão.
O ar que se respira entre Javé e Moisés é de Aliança.
Na planície, o povo longe da voz do Profeta
e do olhar luminoso da montanha,
vira-se para o metal que brilha nos bolsos.
Constrói um deus próximo, manipulável, não humano,
que em vez de lhes dar carne, leite e ajuda no trabalho,
exige sacrifícios humanos,
encandeia-lhes a vista com falsas ilusões e mentiras,
e os faz voltar à escravatura em terra de liberdade.
Deus, uma vez mais, vê o seu povo voltar-lhe as costas
e encontra em Moisés um aliado do perdão.

Hoje a situação não é muito diferente.
Deus continua a falar de aliança libertadora
aos Bentos e Franciscos, Moisés do nosso tempo,
mas o povo, na planície da vida quotidiana,
anda preocupado com outros temas
e escravizado pelo medo do amanhã.
Constrói bezerros de ouro a quem chama deus-mercado,
sacrifica pessoas humanas, excluindo-as do acampamento,
pelo desemprego, salário injusto, emigração forçada...
Mata-lhes a esperança e o sonho
em troca de um paraíso em futuro incerto,
em estatísticas de festa e inferno de fraternidade.

Senhor, Deus da Aliança e da libertação,
faz-nos voltar o coração para Ti
e olhar de novo com esperança e verdade
para a Montanha da fé que nos abre horizontes.
Abre os ouvidos do nosso coração
à Palavra libertadora que denuncia os ídolos
que nos anestesiam a fraternidade
e nos impedem de olhar para o alto.
Obrigado pelos Bentos e Franciscos
que nos ajudam a caminhar,
conduzidos pela nuvem da esperança, da verdade e da libertação.

quarta-feira, março 13, 2013

 

4ª feira da 4ª semana da Quaresma

No tempo da graça, Eu te ouvi; no dia da salvação, Eu te ajudei. (cf. Is 49,8-15)

Deus não se esquece nem nos abandona.
Como uma mãe que gera e amamenta o seu filho,
Deus tem connosco uma relação única, atenta e inquebrável.
O que nos custa perceber é o “tempo de Deus”,
o momento em que nos damos conta do “dia da salvação”.
Deus vê o tempo a partir do horizonte da eternidade,
por isso, sabe relativizar o que parece luzir de grande
e valorizar o que parece borralho apagado.
Deus sabe esperar que a fidelidade amadureça
e a fragilidade do pecado floresça conversão.
Deus sabe amar para além das birras e amuos,
e acolher os filhos que trocaram o Pai por uma ilusão.

Hoje o sonho de ilusão tornou-se realidade.
Alimentado por promessas de felicidade adquirida,
em prestações de crédito para toda a vida,
fomos enchendo-nos de coisas e de dívidas,
e esvaziando-nos de Deus, de amor e de sentido na vida.
Deus aparentemente nada fez nesta realidade de sonho,
não nos castigou nem nos mostrou sinais troantes de perigo.
Deus apenas caminhou como sombra que aquece
e esperou pacientemente
que o tempo ganhasse vislumbre de eternidade.
Quanto mais escuro o tempo tropeça,
mais facilmente o ser humano se abre à verdade da vida
e deixa que Deus aconteça o “tempo da graça”
e realize o “tempo da salvação” plena e para todos.
Por isso, esta crise pode tornar-se um tempo de conversão.

Senhor, Amor que não esquece,
entranhas de misericórdia e salvação,
abre os olhos da nossa incredulidade
à luz carinhosa da Tua graça e salvação.
Faz-nos sintonizar com o tempo da Tua mão amiga
que nos conduz, apoia e faz levantar em festa.
Ajuda-nos a aproveitar esta crise para ver melhor,
caminhar na verdade e na sobriedade,
abrir os braços à solidariedade e à justiça,
palmilhar juntos caminhos de fé e de conversão.


terça-feira, março 12, 2013

 

3ª feria da 4ª semana da Quaresma


Todos os meses darão frutos novos, porque as águas vêm do santuário. (cf. Ez 47,1-9.12)

A água salubre é símbolo de vida.
O santuário, nascente dum rio que inunda o universo,
é o símbolo de Deus, fonte de vida,
alimento que gera frutos novos
e purificação de vidas envelhecidas.
No santuário dessedentamos a sede do Deus vivo,
saciamos a fome da Palavra que ilumina e dá esperança,
curamos as feridas da alma que nos entristecem,
encontramos outros irmãos que confirmam a nossa fé.

O batismo é optar por beber apenas da água do Santuário,
que é Cristo Jesus, presente na Sua Igreja.
Apesar disso, gostamos de provar outras águas,
saciar-nos de outros alimentos,
lavar-nos em outras piscinas e praias de sonho.
O resultado são os cristãos não praticantes,
os testemunhos de vida incoerentes,
as crenças religiosas sem identidade definida,
os escândalos escondidos sob a pele de cordeiro
o turismo do misterioso de olhar vendado.

Senhor, Nascente da vida e elixir de eternidade,
fideliza-nos na arte de Te seguirmos.
Faz-nos dar frutos novos na rotina do mesmo.
Torna-nos canais que levam esta água viva
a quem morre de sede e se desidrata no ateísmo
ou no desvario sem rumo e sem horizonte de esperança.
Faz-nos voltar ao compromisso do nosso Batismo.

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