segunda-feira, novembro 30, 2009

 

SENHOR FAZ QUE EU VEJA


Senhor, faz com que eu veja
As belezas que criaste
E o bem que semeaste
Aqui e em toda a parte,
Com amor, ternura e arte,
Como expressão cativante
De um Deus que a todo o instante
Me transporta, com enlevo,
A descobrir o encanto
Da simples folha de trevo
Ou do matiz do rochedo,
Esbatido ou em relevo.

Senhor, faz com que eu veja
Tua presença amorosa,
Atenuando a dureza
Existente nos espinhos
Que brotam do próprio caule,
Para defender a rosa
Das mãos que, sem ser por mal,
Amachuquem a beleza
Desta flor linda e mimosa,
Perfumada e colorida,
Que transforma em primavera
O jardim da nossa vida.

Concede-me um olhar de fé,
Que não fica na aparência,
Nem mesmo conveniência,
Para que eu veja e contemple
A vida nova latente,
No rio silencioso,
Fecundo e poderoso,
Que corre dentro da gente
E que, sem ondulação,
Embala e alimenta
Alma, mente e coração.

Ensina-me, a colocar
Energia positiva,
No simples acto de olhar
As coisas normais da vida,
Para fazer germinar
A semente adormecida
Do belo e do bem impresso
Na alma do Universo.

Maria Lina da Silva, fmm, Lisboa, 26.11.09

sexta-feira, novembro 27, 2009

 

P. Kondor: Missa do 30º dia


No dia 28 de Novembro, às 10 horas, celebra-se a Missa do 30º dia do falecimento do P. Kondor, na Capela do Seminário do Verbo Divino, em Fátima.


“É assim o coração de um missionário!”


“É assim o coração de um missionário”. Fiquei a pensar nestas palavras do Provincial dos Missionários do Verbo Divino. Estávamos em Fátima, no pátio em frente do Seminário. O momento era de silenciosa comoção. O corpo do Padre Kondor era transladado para a Igreja da Santíssima Trindade, onde uma hora depois decorreria a Missa solene e depois a partida para o cemitério de Fátima, o mesmo que tinha guardado os restos mortais dos Pastorinhos Jacinta e Francisco.
O Padre Kondor descansara aqueles dois dias depois da sua morte na casa dos seus irmãos de religião, a família que ele tinha abraçado em novo. E o silêncio daquelas longas horas de oração convidava a pensar no percurso impressionante deste homem, que viveu a maior parte da sua vida escorraçado da sua Hungria natal.
Assim veio parar a Portugal, uma terra com a qual não tinha qualquer afinidade, de paisagem, cultura, clima ou língua. Guardou aliás, na terna suavidade do seu correctíssimo português, uma pronúncia inconfundível, como um acento de saudade teimosa, que, no entanto, não lhe trazia amargura, nem lhe roubava a alegria e a afabilidade.
Amou tanto esta terra que a fez sua e se fez seu. Marcou de forma indelével a história da Igreja portuguesa: antes de mais, pela paixão missionária com que se entregou à causa da beatificação dos Pastorinhos Jacinta e Francisco Marto, que conduziu a bom termo, contra todas as expectativas de quem o desencorajou pela dificuldade de levar aos altares duas crianças; mas também porque foi um elo de ligação entre realidades eclesiais de todo o mundo, que puderam ser, umas para as outras, testemunho de caridade fraterna, até à partilha concreta dos bens materiais.
Ao vê-lo sair da sua última morada na terra, enquanto pensava na sua peregrinação de homem sem pátria e lembrava a sua doçura, a sua disponibilidade, a sua determinação, ouvi estas palavras ao seu superior: “É assim o coração de um missionário”. Tive, nesse momento a noção de que nada descreveria melhor a vida do Padre Kondor. E foi como se aquela hora de tristeza se iluminasse com uma luz de graça, confirmação e certeza.
O coração do missionário transborda de um amor especialmente desprendido e livre. Ama sem fronteiras, precisamente porque se despojou das fronteiras para amar com mais inteireza. Não tem pátria, para pertencer sem reservas ao lugar onde é enviado e ali radicar-se sem medo de partir de novo, porque a sua pátria é outra e nada menos do que um amor universal lhe preenche o coração.
Fátima confirma e faz crescer a paixão missionária. Porque é missionária a própria Senhora de Fátima que vem do Céu à terra por amor aos homens. Porque Maria fala do Seu Filho, o mais radical Missionário, que se despojou do infinito para se fazer Companheiro da humanidade. Porque são missionárias as crianças a quem Nossa Senhora aparece, que fazem sua a causa do regresso a Deus de todos os homens, a conversão dos pecadores, como em Fátima sempre se diz e reza. Porque, enfim, se tornam irreprimivelmente missionários os que escutam e guardam no seu coração a Mensagem de Fátima, de tal modo lhe reconhecem uma urgência, num mundo órfão e sedento que clama silenciosamente pelo transcendente que renegou.
A grandeza da vocação missionária, entrecruzada com a mensagem terna e poderosa de Maria em Fátima, explicam a figura singular do Padre Kondor. E tal como os Pastorinhos, que de pobres e simples se tornaram alavanca de mudança do mundo e da Igreja, também o jovem Luís Kondor, de húngaro anónimo se tornou interlocutor de cardeais, Papas e santos. “É assim o coração de um missionário!”
Madalena Fontoura

sábado, novembro 14, 2009

 

Visão de sonho


Louvado sejas, Senhor,
Pelo dia que amanhece,
Cheio de luz e de cor,
Como um convite a orar
E a fazer da vida prece!

Em cada folha de Outono
De mil cores matizada,
Transformada em flor alada,
A esvoaçar no espaço,
Ou estendida no chão,
Conforme a arte do vento
Que a leva a descansar,
Ou lhe imprime o movimento
De uma nuvem a dançar,
Sinto um sonho acordar,
Na alma e no pensamento,
Que me chama a contemplar,
Com o olhar do coração,
Toda a beleza contida
Nas coisas simples da vida.

São lindas lições, por ler,
Escritas na natureza
A propor paz e beleza
A quem der valor à vida,
Pois estão em linguagem
Clara e bela que cativa
E que qualquer um entende,
Se souber ver na paisagem
A riqueza da mensagem
Própria de um Deus Poeta
E Autor/Criador da Vida
Em tudo bem manifesta,
Convidando-nos à festa
Do Seu Amor sem medida.

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 10.11.09

quarta-feira, novembro 11, 2009

 

O Segredo do amor conjugal


Meus amigos separados não cansam de perguntar como consegui ficar casado 30 anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo...Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista no ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém aguenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento - a única diferença é que casei três vezes com a mesma mulher! Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu...O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher.

O segredo, no fundo, é renovar o mesmo casamento e não procurar um novo casamento. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal.De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção? Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento...Mulher e marido que se separam perdem 10 kg em um único mês... Por que vocês não podem conseguir o mesmo?.
Faça de conta que você está de caso novo...Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a frequentar lugares novos e desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo, a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.Vamos ser honestos: ninguém aguenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está ficando chata e mofada, é você! São seus próprios móveis, com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação.Quem se separa, se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo circuito de amigos. Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso, obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento.Mas se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior. Não existe essa tal "estabilidade do casamento" nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos..
A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensado em fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto, descubra a nova mulher ou o novo homem que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo interessante par. Tenho certeza que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos, apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando, é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par...

Arnaldo Jabor

domingo, novembro 08, 2009

 

Deus não quis inventar moldes


A ânsia de felicidade,
Que o coração inquieta,
Nos impele à descoberta
Da nossa identidade,
Que é única e original,
À imagem do Deus Amor,
Criador e escultor
De uma obra irrepetível
Que, sendo humana e falível,
Possui uma sede incrível
De vencer a finitude
E atingir a plenitude
Da Justiça e da Verdade,
Nas asas da Caridade.

Que coisa maravilhosa!
Deus não quis inventar moldes,
Para usar na Criação.
Preferiu moldar a rosa
E o humano coração,
Com a Sua própria mão,
Dando um toque de beleza
E de originalidade
Aos demais seres criados.

É tal a diversidade
Que nos deixa extasiados!

Como Artista dos artistas,
Tudo faz novo e diferente,
Surpreendendo-nos sempre
Com criações nunca vistas.

A mesma variedade
Existe na santidade,
Vocação universal
Do homem e da mulher,
Que, de forma original,
Afinam o coração
Pela harpa do Amor
Que, em Jesus, encarnou
E como Caminho ficou,
Para quem quiser segui-Lo,
Com amor/fidelidade
E em total liberdade,
Por uma escolha que é sempre
Uma opção consciente,
Tendo bem vivo e presente
O Deus que o bem quer propor
E nem impõe Seu Amor.


Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 04.11.09

quinta-feira, novembro 05, 2009

 

P. Kondor, uma paixão pela mensagem de Fátima


Quando vamos para Fátima?”
Esta era a questão que colocava insistentemente no hospital e na casa onde faleceu. Fátima para ele era o Secretariado dos Pastorinhos. Os acontecimentos que começaram em 1916 com as aparições do Anjo e continuaram em 1917 com as aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos na Cova da Iria, assim, como as visões de Lúcia em Tuy e Pontevedra, tomaram conta da sua vida. Correu mundo, publicou e traduziu as Memórias da Irmã Lúcia, assim como o Boletim para levar a boa nova da santidade e da inteligência da fé manifestada na vida destas crianças. Fora da casa do Secretariado da Vice-postulação sentia-se estranho. Para ele, ser fatimense era mais importante do que ser húngaro por nascimento, austríaco por adopção ou português por eleição.

Qual é o programa?”
Ao chegar a Fátima, após um longo período de internamento no Hospital de Leiria, apesar de debilitado pela leucemia e o tumor na bexiga, perguntou às empregadas: “qual é o programa?” Durante quase toda a sua vida viveu sozinho, com uma agenda preenchida de contactos, projectos e relações sociais. Tudo tinha que passar pelo crivo da sua decisão e da sua assinatura. Agora estava numa cama, sem conseguir andar, dependente da ajuda de todos, numa casa da Postulação (embora para ele lhe parecesse estranha). As empregadas, incansáveis ao longo deste período de convalescença, ainda lhe fizeram uma folha A4 com o “programa” das refeições e higiene diária. Foi com muita dificuldade que foi aceitando delegar tarefas e entregar a responsabilidade da Vice-Postulação. Agora perdia tudo: a sua privacidade, os seus rituais, horários, comidas e direcção de projectos. Estava totalmente dependente dos outros, sem programa. Por fim, dizia: “estou aqui até quando Deus quiser. Só posso rezar.”

Quando é que vou aprender a andar?”
A fragilidade do corpo e o longo período de acamamento, fizeram-no perder o andar. O Dr. Garcia do hospital de Leiria tudo fez para o pôr a caminhar, mas não conseguiu. As irmãs Concepcionistas disponibilizaram a sua fisioterapeuta para ir a casa fazer-lhe fisioterapia. Ao ver o andarilho que lhe compramos disse: “graças a Deus”. Mas a realidade era cruel e nem sequer aguentava muito tempo sentado no cadeirão, quando as senhoras do Centro Social de Boleiros lhe vinham fazer a higiene diária. Por fim, tudo era feito na cama. Aí teve que reaprender a andar sem pernas!
Tinha escrito uma Via Sacra da adoração reparadora que o Secretariado dos Pastorinhos publicou em Setembro deste ano. Escreveu um livro sobre a mensagem de Fátima que ainda não foi publicado. Na teoria, tudo estava claro, mas foi na cama que aprendeu a andar nos caminhos do oferecimento e da adoração reparadora pelos pecadores, por amor a Deus e ao Imaculado Coração de Maria. Terá sofrido muito, mas nunca se queixou de nada. Quando lhe perguntávamos como estava, sempre respondia com um sorriso: “Estou óptimo!”. No entanto, tudo o que fosse mudá-lo de posição, fazer-lhe higiene ou dar-lhe de comer, transparecia um desconforto que ele procurava disfarçar, embora difícil de conter.

Traz lá a comunhão? Graças a Deus!”
O momento da comunhão era aguardado com ansiedade cada dia. Era a plenitude da sua adoração reparadora, seguindo o exemplo dos pastorinhos. Ganhava forças para rezar e receber o Senhor Jesus. No final, rezávamos a oração do Anjo: “Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-vos...”. Ao dar-lhe a bênção final, despedia-se e continuava em silêncio: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-vos profundamente e ofereço-vos o preciosíssimo Corpo, Sangue Alma e Divindade de Jesus Cristo...”

Há novidades?”
Apesar de ter vivido a maior parte da sua vida sozinho na casa da Vice-Postulação, a sua ligação à Congregação do Verbo Divino nunca foi cortada. Várias vezes o vi falar com entusiasmo da Congregação e preocupar-se com as vocações. Gostava de estar informado do que ia acontecendo e lia com interesse as notícias do Provincial e do Geral. Sentiu-se e quis ser missionário do Verbo Divino até ao fim.

A reunião acabou!
A Dra Branca adoptou-o voluntariamente como seu doente. Visitava-o periodicamente, vinda de Coimbra. Este acompanhamento completava o da Ir. Ângela e do primo Bela, ambos médicos. Nos últimos dias a febre não o deixava. No dia 28 de Outubro, a Dra Branca fez-lhe a sua última visita. O diagnóstico era crítico. Pelas 12 horas, antes de se despedirem, o P. Kondor disse-lhe: “a reunião acabou”. Ela não percebeu ou fez que não percebeu e disse-lhe até amanhã. Comeu normalmente e pediu ao seu primo médico: “Bela, um sumo de laranja,”. Às 14 horas o coração parou. Acabou esta reunião e começou o encontro da festa. Agora já estava pronto para andar sem pernas e voar sem asas. Acabou esta reunião de sofrimento e fragilidade e começou a comunhão plena com os seus amores: a Santíssima Trindade, Nossa Senhora e os pastorinhos. O velório e o funeral decorreram num ambiente de oração e de acção de graças. Agora só sofre de amor pela salvação dos pecadores, como todos no Céu. Morreu como pedia na sua Via Sacra da adoração reparadora: “Ajudai-nos a morrer como o Vosso Filho e a dizer: ‘Pai, nas Vossa mãos entrego o meu espírito’. Assim, se transforme, também, a hora da nossa morte, como a do Vosso Filho e a do ladrão do Seu lado direito, na grande hora da Vossa adoração” (12ª estação, p. 31).

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