segunda-feira, março 31, 2014
2ª feira da 4ª semana da Quaresma
Não mais se
recordará o passado, nem voltará de novo ao pensamento. (cf.
Is 65,17-21)
Deus
recria cada dia com a novidade da eternidade.
A
rotina, o automático, o “vira o disco e toca ao mesmo”,
não
fazem parte da gramática dinâmica do Céu.
O
amor divino é criativo, é personalizado, é inclusivo,
tende
para a perfeição e a surpresa do eterno desconhecido.
Por
isso, a Igreja vive da fé e pede “vem, Senhor, Jesus”
porque
temos saudades do novo céu e da nova terra
que
entrevemos, mas ainda não possuímos plenamente.
Há
pessoas que vivem da saudade do passado.
Perante
a agressividade do vento e a frieza das relações
querem
regressar ao aconchego do seio materno
e
ao colinho terno e protetor da mamã e do papá,
querem
elixiar a força e a saúde dos anos tenros,
param
no tempo a chorar a perda de amores perdidos...
O
vício, as dependências, o pecado, os ressentimentos,
são
outras formas de passado a que ficámos acorrentados.
Mas
viver no passado é um impeditivo para acontecer o novo,
no
presente e no futuro grávidos de criatividade.
Senhor
da aurora sem ocaso e do amor criativo,
liberta-nos
do perfecionismo do mesmo de sempre,
do
tudo exatamente programado como manda a tradição,
das
vistas limitadas e formatadas que escondem a eternidade.
Ajuda-nos
a viver confiantes que tudo podeis recriar e curar,
mesmo
quando nos instalamos no passado da desesperança.
Abre-nos
à novidade da Tua graça e presença renovadora
e
ajuda-nos a introduzir amor criativo e surpresa em flor,
em
todas as relações e rotinas calcificadas.
domingo, março 30, 2014
4º Domingo da Quaresma
Outrora vós éreis
trevas, mas agora sois luz no Senhor.
(cf. Ef 5,8-14)
O
Sol de Justiça enviou-nos a Luz a caminhar connosco.
As
trevas do mal e a cegueira da confusão
têm
agora uma mão de fogo, que ilumina a aurora da esperança.
Pelo
Batismo podemos começar de novo,
iluminados
pela Luz de Cristo que nos recria filhos da luz.
Os
frutos desta luz batismal são o Círio pascal a iluminar a vida,
a
bondade vestida de avental, a justiça servida como pão,
a
verdade de mãos dadas com a caridade.
A
globalização do conhecimento revelou a complexidade da vida.
Isto
incomoda, porque exige opções, diálogo com o contraditório.
Para
simplificar os contrastes, eletrifica-se a noite,
escurece-se
o dia com persianas e óculos de sol,
reduz-se
o ângulo de visão com viseiras ideológicas
veiculadas
pela comunicação social, a cultura, a especialização...
Para
que não haja tempo para refletir e discernir,
põe-se
as pessoas a correr sem parar,
torturam-nas
com vigílias de diversão que não as deixam descansar,
ocupam-lhes
todos os intervalos com hobbies de embalar.
O
resultado são seres humanos adormecidos, acríticos,
virtualizados,
divididos, cansados, associais, robotizados...
Senhor
Jesus, Luz sem ocaso e candeia da eternidade,
desperta-nos
das trevas do nosso pecado que nos cegam a fé
e
cura-nos das rotinas que nos limitam a capacidade de amar.
Faz
da nossa vida um Círio de esperança que ilumina o mundo
e o
desperta para a bondade, a justiça e a verdade na caridade.
Reacende
a fecundidade do nosso Batismo em sociedade
para
que sejamos os mesmos na Igreja e no lar,
à
luz do dia e no segredo da noite, na saúde e na doença...
sábado, março 29, 2014
COMO BONS FILHOS DA LUZ
Como bons
filhos da Luz,
Faz-nos ser “seres de luz,”
Reflectindo-Te, Senhor,
A Ti, que és Luz sem ocaso,
A iluminar as nações,
As mentes e os corações,
Abertos à Tua Luz,
Para, em gestos e acções,
Irradiarmos, no mundo,
Tua Luz, brilho e calor,
Realçando o essencial,
Que é profundo e real,
Visível ao Teu olhar,
Que sonda nosso interior,
Perscrutando o coração
E até a nossa intenção,
Porque, a Ti, nada é oculto,
Como nós pobres mortais,
Que olhamos à aparência,
Por simples conveniência,
Com base no acidental,
Sem valor nem competência,
Para uma missão ideal.
Ajuda-nos a bem optar,
Vendo tudo à Tua luz,
Sempre ao jeito de Jesus,
Indo às periferias
E, ao contrário do mundo,
Escolhamos os mais fracos,
Segundo o plano de Deus
Que é quem os capacita,
Para confundir os fortes,
A exemplo de David
Que, com grande valentia,
Venceu o próprio Golias.
Com um olhar de esperança,
De fé e de confiança,
Tudo será bem melhor.
Os sonhos de Deus Amor,
Para esta humanidade,
Far-se-ão realidade.
A justiça florescerá
E a paz, então, surgirá,
Porque próprio Bom Pastor
Por amor nos guiará
Até ao prado verdejante
De água fresca abundante,
Reconfortando quem O ama,
Sem condição nem medida,
Todos os dias da vida.
Maria Lina da Silva, fmm- Lisboa, 29.3.2014
Sábado da 3ª semana da Quaresma
Eu quero a
misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus, mais
que os holocaustos. (cf. Os
6,1-6)
Deus
é um oceano de amor insondável.
Mergulhar
nele é uma bela aventura de vida abraçada,
que
nos deixa voar e cair, sem se cansar de nos curar
das
feridas e ruturas que provocamos em nós e nos outros.
Voltar-nos
para Ele, acolhe-lo como treinador de justiça,
conhecer
as suas receitas de felicidade e de santidade,
aprender
a nadar neste oceano de amor incondicional...
são
os grandes desafios da encarnação do mistério pascal.
A
oração é um encontro desigual com Deus, o Altíssimo,
que
se faz Amigo e se inclina para nos acolher
e
nos envolver na sua aliança misericordiosa e graciosa.
Se
chegamos de nariz empinado e mascarados de gigantones,
acabamos
por não ver a Deus que se abaixou para nos receber.
Então
falamos sozinhos, olhamos tudo do alto do nosso orgulho,
justificamos
a tacanhez da nossa fraternidade,
exaltamos
os méritos dos nossos sacrifícios e boas obras,
mostramos
que não precisamos de Deus nem dos outros.
Senhor
Jesus, abismo de humildade pastoral e redentora,
ensina-nos
a alegria de descer dos nossos pedestais de vanglória
e
a servir-vos em espírito e verdade, fazendo crescer o irmão.
Liberta-nos
do amor por medida, que se refugia no cumprir o dever,
mas
não se enraíza na compaixão, nem floresce bondade fertilizante.
Que
o Teu Espírito recrie, em nós, a ternura do olhar,
a
intimidade na oração que nos faz ajoelhar e chorar,
a
força da Palavra que nos esvazia de ruídos estonteantes,
a
sinfonia do amor que nos faz bailar com ritmos de fraternidade.
sexta-feira, março 28, 2014
6ª feira da 3ª semana da Quaresma
São rectos os
caminhos do Senhor: por eles caminham os justos e neles tropeçam os
pecadores. (cf. Os 14,2-10)
Deus
é a compaixão a fazer história de salvação.
Convida
a voltar, promete perdão, envolve-nos com amor,
cura-nos
dum passado desgraçado e caído,
torna-nos
fecundos e abre-nos horizontes de esperança.
Deus
apresenta-nos caminhos retos e justos,
mas
a miopia do pecado faz-nos tropeçar na ilusão
e
confiar na força do cavalo e no poder da violência.
A
surdez à Sua Palavra faz de nós errantes a tropeçar,
ingénuos
hipnotizados, sem liberdade, a ser enganados.
Hoje
temos livre acesso à Palavra de Deus,
está
na Bíblia, na internet, na televisão, na rádio, no telemóvel...
Mas
também temos livre acesso à anti-Palavra de Deus,
que
faz da ciência uma religião, do consumir a felicidade,
do
capricho um direito, do trabalho um sacrifício,
do
prazer um ídolo, da aparência virtual uma realidade,
da
mentira um estratagema de salvação,
dum
minuto de glória a salvação.
Senhor,
Deus do amor generoso e dom de salvação,
abre-nos
os ouvidos à Tua Palavra de justiça fraterna
e
dá-nos a inteligência da eternidade dum amor com futuro.
Liberta-nos
da prisão da ansiedade de querer ter tudo na mão.
Avisa-nos
e livra-nos do encanto das sereias
que
nos afogam no mar das dependências e da ilusão.
Dá-nos
a Tua mão, fortalece a nossa confiança,
e
conduz-nos pelo caminho da Tua Palavra à conversão.
quinta-feira, março 27, 2014
5ª feira da 3ª semana da Quaresma
Voltaram-Me as
costas, em vez de caminharem para Mim.
(Jer 7,23-28)
Deus
virou-se para nós ao ponto de ser um Deus-connosco.
Ao
criar-nos deu-nos um beijo com a marca do eterno.
Quando,
pelo pecado, lhe voltámos as costas,
veio
à nossa procura e abriu-nos os braços de misericórdia.
Ocupados
com as más inclinações do nosso coração,
não
escutámos a sua voz de aviso e de “volta amado”,
mas
Ele continuou por nós virado e a propor-nos a aliança.
Enviou-nos
o próprio Filho a caminhar com “os costas voltados”
para
nos curar o rumo com o bisturi do Espírito de comunhão.
Quaresma
é tempo de ver para onde andamos voltados.
O
homem moderno parece um carro elétrico, em feira de diversão,
corre
por correr, diverte-se a embater, não vai a nenhum lado,
até
o tempo de diversão terminar ou a energia que o move faltar.
Virar
as costas é deixar de amar e recusar-se a escutar.
Mas
só podemos estar virados para um lado!
Se
nos viramos para Deus, caminhamos para o Amor
e
descobrimos que temos irmãos a cuidar e a escutar,
e
aprendemos a arte de ser jardineiros dum planeta a sustentar.
Senhor,
nosso Pai-Mãe, obrigado pela eternidade fiel do Teu amor,
que
Te mantém para nós virado, apesar de Te darmos as costas do pecado.
Obrigado
pelos profetas enviados que nos despertam da distração autista.
Obrigado
pelo envio do teu Filho, em carne de pecado,
a
ser Caminho e Porta do viver permanentemente para Ti virados.
Obrigado
pelo envio do Teu Espírito de luz e de verdade,
que
mais do que viver a nosso lado, nos tornou por Deus habitados.
Ajuda-nos,
nesta Quaresma, a reaprender a estar sempre contigo
e
a caminhar sempre para Ti virados e, em ti, irmãos encontrados.
quarta-feira, março 26, 2014
4ª feira da 3ª semana da Quaresma
Agora, Israel,
escuta os preceitos que vos dou a conhecer e põe-nos em prática.(cf.
Deut 4,1.5-9)
Deus
aproxima-se quando nos afastamos,
faz-se
farol quando andamos à deriva e sem norte,
dá-nos
a mão e ensina-nos a caminhar com o olhar dum Pai-Mãe,
envia-nos
profetas e conduz-nos à felicidade prometida.
É
o Eterno a encarnar o “agora” e a enche-lo de esperança,
em
busca de interlocutores confiantes que escutem, acolham,
ponham
em prática, criem raízes de cultura e educação de liberdade.
Quaresma
é tempo de escuta dos conselhos de Deus,
de
revisão de sínteses de sabedoria de viver,
de
coragem para expurgar cartilhas que ensinam a fazer o mal.
Nunca
como hoje o leque de opções esteve tão acessível.
Tudo
se pode encontrar no livre e global mercado:
conhecimentos,
produtos, doutrinas, teorias, imagens, drogas...
Nunca
como hoje foi tão necessário um crivo pessoal,
com
critérios claros do bem e do mal, ascese de curiosidade,
perseverança
e força de vontade para remar contra a corrente.
É
como quando chegamos a uma encruzilhada onde há excesso
e,
às vezes contradição, na informação sinalética
e,
ou ficamos imobilizados e hesitantes sem saber o que escolher
ou
avançamos para experimentar, sem saber aonde vai dar.
No
meio de tanta gente que se quer aproveitar,
a
solução é seguir os conselhos de Quem fala por nos amar.
Senhor,
Pai de bondade e fonte da verdadeira liberdade,
dá-nos
o Teu Espírito e faz de nós especialistas do bem,
discípulos
obedientes do Maestro do amor e da justiça.
Liberta-nos
da anarquia e do capricho que gera confusão
e
faz da vida uma “cabra-cega” conduzida pelas vozes de ilusão.
Ajuda-nos
a começar de novo, guiados pela Tua Mão.
terça-feira, março 25, 2014
Anunciação do Senhor
Eis-Me aqui: Eu
venho para fazer a tua vontade.(cf.
Heb 10,4-10)
Deus
sorriu de amor e pronunciou a eterna Palavra
e
o diálogo gerou o Filho e o Espírito de comunhão fecundada.
E
quanto mais Deus comunicava e o diálogo acontecia,
mais
novos seres criava e a beleza da paz nos habitava.
Bastava
Deus dizer: “Faça-se” e o “Sim” belo acontecia!
Até
que o ser humano teve medo de ser fecundado,
criou
portões de defesa e tampões de surdez à Palavra
e
quis falar sozinho e mandar, fechado na sua esterilidade.
Mas
a Palavra continuava a amar e desejava mostrar
como
é viver humano, em diálogo confiante e filiação escutada.
Maria
abriu-se ao diálogo e disse sim à encarnação da Palavra.
A
paternidade responsável é diferente do controle de natalidade.
A
paternidade responsável abre-se ao diálogo e à fecundidade,
e
aprende a ler na natureza a beleza do dom e da liberdade.
O
controle de natalidade vive de cálculos financeiros,
adiamentos
temerosos, sexualidade sem diálogo amoroso,
métodos
contracetivos, abortos corretivos e subsidiados...
O
mundo está a envelhecer, em crise de renovação,
porque
andamos surdos e distraídos a criar castelos de nós mesmos,
com
medo que o diálogo nos fecunde e nos faça vida nova gerar.
Senhor,
Palavra viva e eterna em diálogo de aliança,
dá-nos
um coração virgem e acolhedor como o de Maria.
Cura-nos
do egoísmo que nos fecha à esperança
e
nos vicia em pílulas contracetivas de amuo, de agressividade,
de
individualismo, de auto-prazer, de realização pessoal...
Senhor,
fecunda-nos com a Tua palavra de Amor
e
faz de nós instrumentos de renovação fecunda da vida.
segunda-feira, março 24, 2014
2ª feira da 3ª semana da Quaresma
Ele te diz apenas:
‘Vai banhar-te e ficarás limpo. (cf.
2 Reis 5,1-15a)
O
que cura Naamã, não são as águas do rio Jordão,
mas
a obediência à Palavra do profeta Eliseu,
que,
por sua vez, é o sinal visível da presença de Deus.
O
que nos faz renascer de novo no Batismo,
não
é a magia de um rito com um pouco de água na cabeça,
mas
é a fé em Jesus salvador, a vontade de ser Filho de Deus,
a
ousadia de deixar o Espírito divino em nós habitar
a
convicção de sermos curados das nossas lepras de pecado.
Banhar-se
nesta Nascente que nos purifica a alma
é
aceitar a novidade de Deus que se manifesta tão simples!
A
diminuição da importância da fé para quem pede o Batismo,
faz
aumentar a complexidade e o luxo com que este se reveste:
concha
de prata, roupas especiais, reportagem profissional,
convidados
ao desbarato, banquete de reis, banhos de álcool...
Aceitar
um encontro de preparação é um frete revoltado;
preparar-se
para renovar o seu próprio Batismo,
com
uma boa confissão e propósito de conversão
é
algo que não há tempo nesta grande confusão.
Tudo
é feito como eu tinha pensado e parece bonito
e
não como Deus me pede e conduz à renovação.
Senhor
Jesus, Fonte medicinal onde se cura a alma,
águas
amnióticas onde se regenera e nasce de novo
o
pecador incurável em busca da eterna libertação,
faz
desta Quaresma um retiro de verdadeira conversão.
Desperta-nos
para a Tua Palavra e para a confiança da fé
para
deixarmos de ser comandantes de nós mesmos
e
nos tornarmos filhos-servos à Tua imagem e doação.
Pedimo
por todos os que se preparam para o Batismo,
para
que não se distraiam com o marginal e o teatral,
mas
descubram a simplicidade e a fidelidade de ser discípulo,
escutando
a Tua Palavra e seguindo os Teus passos.
domingo, março 23, 2014
3º Domingo da Quaresma
Baterás no rochedo
e dele sairá água; então o povo poderá beber. (cf.
Ex 17,3-7)
Deus
é Fonte que jorra generosamente recriando a vida.
A
fé é o caminho que nos conduz à Nascente,
à
Rocha da nossa salvação no Horeb do Calvário,
apoiados
no cajado do Seu Espírito que ilumina a confiança.
É
uma Rocha que pede água, sedenta de se dar,
em
diálogo que abre a mina atulhada que quer jorrar
e
fazer de cada coração petrificado uma fonte boa
que
vai ao encontro de quem tem sede para o saciar.
A
evangelização não é preparar um kit de salvação,
envolvido-o
em marketing de emoção e de argumentação,
para
depois o entregar sem grande diálogo de aceitação.
A
evangelização, segundo Jesus, é peregrinar no pino do dia,
sentar-se
no poço onde as pessoas buscam consolação
e
entrar como pedinte, em diálogo que abre o coração,
até
que seja o outro, religioso ou não, a pedir dessa água viva
e
a conduzir outros para esta Fonte que conhece o passado
e
nos põe a todos em busca desta Rocha de Salvação.
Senhor
Jesus, Rocha peregrina e mendiga, sedenta de se dar,
faz
desta Quaresma o poço do encontro e do diálogo contigo,
que
surpreende a rotina do adultério inconsciente e consentido.
Ajuda-nos
a descobrir a boa nova do sacramento da confissão
Àquele
que conhece o nosso passado de pecado, sem nos humilhar,
e
nos surpreende com o dom da água viva do Seu Espírito e perdão
e
faz de nós suas fontes a indicar a Nascente onde nos podemos saciar.
Conduz
a Igreja às periferias das samarias adversas de hoje
e
ensina-nos a continuar a Tua missão de evangelizar.
sábado, março 22, 2014
JESUS, FONTE DA ÁGUA VIVA
Quem
tem sede, venha e beba,
Da Fonte da Água viva,
Que jorra, abundantemente,
Do coração de Jesus,
E sacia toda a gente,
Sem ser preciso subir
Até ao Monte Horeb,
Tirar água do rochedo,
Porque a Fonte de água viva,
Já não constitui segredo,
É Jesus que nos cativa
E, por amor ao Seu Povo,
Até peregrina connosco,
A refrescar nossa vida
Sem precisão de ir ao poço.
Fonte a quem tem acesso
A humanidade inteira,
Que atormentada de sede
Chega a esta Fonte e bebe,
Da água que Jesus lhe der
Pois quem beber desta Água,
Que a sede da alma mata,
Vai querer dela beber,
Onde quer que estiver.
FAZ-ME OUTRA SAMARITANA,
QUE DE TI SAIBA FALAR,
COM FÉ E AMOR PROFUNDO,
TAMBÉM QUEIRER TE ESCUTAR
PARA, CRENDO, DESCOBRIR
QUE ÉS O SAVADOR DO MUNDO,
SEM POR OUTRO ESPERAR,
PORQUE TU ÉS O MESSIAS
QUE NOS VIESTE SALVAR
E MATAR A NOSSA SEDE,
BEM COMO A FOME INTERIOR
DE VIVER, SER E AMAR,
DE JUSTIÇA E PERDÃO,
PARA UMA SÃ RELAÇÃO,
SEM FRONTEIRAS NEM BARREIRAS,
NA MENTE E NO CORAÇÃO.
Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 22.3.2014
Sábado da 2ª semana da Quaresma
Qual é o deus
semelhante a Vós que perdoa o pecado e absolve a culpa.
(cf. Miq 7,14-15.18-20)
Deus
ama quando cria, sofre quando lhe viramos as costas,
perdoa
quando nos deixamos perdoar, é misericórdia infinita.
A
sua memória não guarda cadastros de faltas e de condenações,
como
um tribunal, um serviço policial ou fiscal,
mas
guarda o calor de filhos acariciados, sonhos interrompidos,
vitelos
a engordar à espera da festa dum regresso,
dum
reencontro que apague a separação e sare a saudade.
Quaresma
é a Primavera da misericórdia a florir perdão.
Vivemos
num mundo onde nos sentimos espionados e controlados.
Há
escutas secretas de telefonemas, gravações e leituras de mensagens,
satélites
que nos fotografam, GPS que nos localizam,
pesquisas
que estudam os nossos gostos para fins comerciais,
chips
que guardam as nossas dívidas, coimas, condenações...
Esta
memória vigilante assusta-nos porque não nos sentimos amados,
mas
perseguidos, instrumentalizados e cadastrados sem remissão.
O
mais grave é quando projetamos este sentimento para Deus
e
fazemos dele um juiz, um polícia, um inspetor
que
só busca a nossa condenação eterna.
Senhor,
Pai de misericórdia e Porta da salvação,
cura-nos
da vergonha de nós mesmos
e
aumenta em nós a confiança nos Teus braços abertos
que
nos esperam e recriam em festa de novo nascimento.
Jesus,
nosso salvador, obrigado por tanto amor de entrega,
que
teima em acompanhar-nos sem se cansar,
mostrando-nos
a luz sem nos cegar, dando-nos a mão sem obrigar,
curando-nos
as feridas sem se notar, ousando sempre acreditar.
Faz
desta Quaresma um despertar para a conversão ao Teu amor.
sexta-feira, março 21, 2014
6ª feira da 2ª semana da Quaresma
Começaram a odiá-lo
e não eram capazes de lhe falar com bons modos. (cf.
Gen 37,3-4.12-13a.17b-28)
Jacob
alegra-se com José, o filho da sua velhice,
mas
os irmãos odeiam-no com inveja e murmuração.
Cuidam
com esmero dos rebanhos do seu pai,
mas
maquinam fazer desaparecer o irmão mal-amado.
Maltratar,
abandonar, matar ou vender o irmão,
come-se
com a tranquilidade dum bando de malfeitores,
porque
há muito o tinham afastado do coração.
Quando
nos deixamos possuir pelo ódio ou pela inveja,
suspendemos
a aliança com Deus e coisificamos o irmão,
nas
traseiras da penumbra, onde a vida anda em leilão.
É
natural haver alguns desacertos nas relações.
Nem
sempre se acerta à primeira e às vezes perde-se a cabeça.
Mas
há sintomas graves de doença crónica que mata a comunhão:
falar
sozinho em disco riscado, tensão alta em ódio cozinhado,
olhar
turvo que só vê o negativo, pesadelos de vingança reiterados,
corte
de comunicação e excesso de murmuração,
festejar
a desgraça, insensibilidade e tráfico do irmão.
Quaresma
é tempo de jubileu na relação:
perdoar
as dívidas e desacertos, recuperar o diálogo e a paz.
Senhor
Jesus, que fostes enviado pelo Pai à procura de irmãos,
adoça
o nosso coração, liberta-nos do ódio e da vingança,
para
Te acolhermos como abraço de remédio e salvação.
Cura-nos
de tudo o que putrifica a alegria, o diálogo e a união.
Ensina-nos
a arte de de viver em família e em sociedade,
corrigindo
desequilíbrios, desculpando fragilidades,
fortalecendo
humildade, ousando perdoar e restaurar a comunhão.
quinta-feira, março 20, 2014
5ª feira da 2ª semana da Quaresma
Maldito o homem que
põe na carne a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor.
(cf. Jer 17,5-10)
Deus
conhece os sonhos do coração humano
e
quer dar-lhes sustentabilidade, elevação, ternura,
compaixão,
frutos de fraternidade, confiança na eternidade.
A
Palavra de Deus é a luz que fecunda estes sonhos de verdade.
Deus
não nos quer encurvados, a olhar para o umbigo e o chão,
mas
quer-nos de pé, rosto a rosto com os irmãos de casa e do portão,
e
o olhar penetrante, em busca da raiz e do alimento,
que
dá sustento à esperança de eternidade, no seio de Abraão.
Colocar
“toda a esperança na carne”
é
deixar-se possuir pela ansiedade do celeiro,
pelo
amanhã sem amigos, por uma vida sem Deus.
Entregar
o nosso coração ao medo do futuro
faz
de nós máquinas sôfregas de poder, fama e dinheiro,
numa
ilusão de eternidade com termo incerto,
que
acaba sempre surpreendida com a frieza dum caixão.
Senhor,
Amor que nos esperas, em pastoreio de salvação,
sonda
o nosso coração e desperta-nos da felicidade ilusão.
Faz
de nós benditos do Altíssimo porque enraizados em Ti
e
benditos desta vida, como árvore viçosa e generosa,
onde
todos encontram sombra e frutos de amizade.
Espírito
de sabedoria faz de nós discípulos da Palavra de Deus
e
estagiários do Céu em permanente conversão.
quarta-feira, março 19, 2014
Solenidade de S. José, esposo da Virgem Santa Maria
Serei para ele um
pai e Ele será para Mim um filho. (cf.
2 Sam 7,4-5a.12-14a.16)
A
paternidade e a maternidade nascem de uma opção de amor.
Nós
não passamos de simples criaturas,
mas
Deus quer adotar-nos como Seus filhos.
Só
quando, surpreendidos com esta filiação gratuita,
e
adotamos a Deus como Pai
é
que ganhamos gosto de viver como Seus filhos.
S.
José é um descendente de David que se deixou adotar por Deus,
e
porque se sentia filho de Deus sonhava com Ele,
obedecia
à Sua voz que lhe falava em sonhos de dúvida
e
adotou o Filho de Deus e de Maria, como Seu Filho de coração.
Os
cristãos são pessoas que se deixam adotar por Deus,
convidados
renascer em Jesus, que nos adota como irmãos,
guiados
pelo Espírito que faz de nós pais, mães, irmãos e filhos
uns
dos outros, da natureza e de Deus, em comunhão familiar.
O
sacerdote é “padre” e a consagrada é “irmã” e “madre”,
se
fizer da sua riqueza a filiação divina e do seu ventre
o
carinho próximo daquele que se sente órfão no mundo.
Os
pais podem adotar um filho, biológico ou não,
se
o amarem como Deus nos ama, gratuita e livremente,
e
não como um direito de posse e de realização pessoal.
O
adulto na fé pode ser padrinho ou madrinha do batizado
e
se adotar esta pessoa e a ajudar a ser filho de Deus como Jesus.
Meu
Senhor e meu Deus, obrigado porque queres ser nosso Pai.
Meu
Senhor e meu Tudo, obrigado porque quiseste nascer nosso Irmão.
Meu
Senhor e minha Luz, obrigado porque avivas em nós a fecundidade
dum
amor filial em discipulado e dum amor paterno em missão.
S.
José ensina-nos a fé da coerência, sem ruído nem ostentação,
e
a caridade do cuidado fiel de todos, acolhidos como filhos e irmãos.
Ajuda-nos
a adotar Jesus como Mestre e Irmão.
Intercede
pelos nossos pais para que sejam justos e fieis como Tu.
terça-feira, março 18, 2014
3ª feira da 2ª semana da Quaresma
Respeitai o direito,
protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da
viúva. (cf. Is 1,10.16-20)
Deus
é omnipotente na justiça e no cuidado pelo mais fraco.
É
tão grande no amor que o poder se curva em serviço,
a
santidade se faz proximidade na profecia e na encarnação,
a
justiça se faz escola do bem e despertar para a compaixão,
a
salvação renuncia à violência e se oferece em resgate de
libertação.
Escutar
a Palavra do Senhor e seguir Jesus, salvador,
é
despertar para a conversão do olhar, do comunicar e do cuidar,
fazendo
ao outro o que gostaríamos que nos fizessem a nós.
A
relação profunda e amorosa com Deus é vital e pedagógica.
É
vital porque nos cura o passado ferido e envergonhado,
nos
alimenta a dignidade dum presente renascido,
nos
envia como boa nova para os esquecidos e invisíveis da justiça
e
nos augura um futuro de alegria e de esperança na Fonte do Amor.
É
pedagógica porque nos ensina a conhecer o bem,
nos
ilumina o discernimento para distinguir o bem do mal
e
faz-nos servos corresponsáveis, anjos da guarda uns dos outros.
Senhor
Jesus, que sendo Deus quiseste nascer humano e servo,
ajuda-nos
a descobrir a grandeza da nossa dignidade de filhos,
para
podermos tratar e cuidar dos irmãos apequenados
com
a justiça, a ternura e a compaixão com que cuidas de nós.
Densifica
esta Quaresma de escuta e aprendizagem do bem
na
escola da oração e da Eucaristia, da humildade e do serviço,
do
encontro do eu confortável com os nossos irmãos gémeos
pobres
e sofridos, caídos e doentes, desempregados e desprotegidos.
segunda-feira, março 17, 2014
2ª feira da 2ª semana da Quaresma
No Senhor, nosso
Deus, está a misericórdia e o perdão, porque nos revoltámos
contra Ele. (cf. Dan 9,4b-10)
Deus
é amor libertador, fiel e misericordioso.
Quando
nos revoltamos contra Ele e praticamos o mal,
Ele
continua a ser misericórdia paciente, à espera da conversão.
O
inferno que criamos, a vergonha que sofremos,
a
mentira que escondemos, o comodismo em que definhamos,
são
situações que Deus sofre e não quer eternizar.
Por
isso, continua a iluminar os cegos perdidos,
a
avisar os precipícios e areias movediças traiçoeiras,
a
acolher com uma festa quem quer voltar a ser filho,
a
guiar pela mão quem se deixa levantar pela misericórdia.
A
situação de pecado é uma prisão que nos paralisa a vontade.
A
dependência, o vício, o capricho, a evasão, o temor,
amarram
vidas que semeiam infelicidade em si e para os outros.
Reiteram
erros e mutilam a liberdade para dar o passo certo.
Tudo
parece uma fatalidade sádico-masoquista,
que
faz da companhia um peso e da esperança uma utopia.
Senhor
Jesus, misericórdia encarnada em busca da ovelha perdida,
liberta-nos
do mal suicida que nos afoga no precipício do Eu.
Cura-nos
a vontade com a vida nova da Tua graça,
para
que deixemos crescer a humildade e estender a mão
a
Quem nos pode salvar e fazer recuperar a dignidade perdida.
Faz
desta Quaresma um tempo de escuta e de aprendizagem
a
ser misericordioso como o Pai do Céu é misericordioso.
domingo, março 16, 2014
COMO ESCUTAR-TE, JESUS?
Com meu
olhar desfocado
E fotofobia à Luz,
Como ver transfigurado,
O Teu rosto, bom Jesus,
Mais brilhante do que o sol,
Numa manhã de arrebol,
No alto monte Tabor,
Se Teus discípulos prostrados
Se mostram meio assustados,
Entre espanto e louvor?!
Purifica o meu olhar
E liberta os meus ouvidos
Da cera e dos ruídos
Que me impedem escutar
A voz do Pai que nos diz,
Que Tu és Seu Filho amado
Que deves ser Escutado,
Pois Tua Palavra é Vida,
Caminho e Salvação,
Para quem quer ser feliz,
Sem receio nem temor,
Porque para nós contém
O segredo inspirador,
Para construir, na terra,
Teu sonho de paz e amor,
Se espalharmos as sementes
De Justiça e Bondade,
Com que Tu as fecundaste,
Para o bem da Humanidade.
No apelo que lançaste
Ao patriarca Abraão,
Senti que a mim me falaste,
Bem directo ao coração:
“DEIXA A TUA TERRA,
TUA FAMÍLIA E TEU PAI
E, CONFIANDO EM MIM, VAI,
PARA ONDE EU TE INDICAR”,
NÃO EM BUSCA D’ÁGUA OU PÃO,
MAS A BOA NOVA LEVAR
DE PAZ E LIBERTAÇÃO,
A TODO O POVO E NAÇÃO,
COM A FORÇA DA MINHA BÊNÇÃO,
(Cf. Gen 12,1-4)
2º Domingo da Quaresma
Deixa a tua terra...
e vai para a terra que Eu te indicar. (cf.
Gn 12,1-4a)
Deus
é o Evangelho do amor a comunicar permanentemente vida.
É
Palavra dinâmica que se revela beleza amante ao criar o universo.
É
Palavra iluminadora ao comunicar aliança e compaixão.
É
Palavra de amor ao enviar o Seu Filho a ser Irmão.
É
Evangelho a convocar-nos a continuar a ser Sua Missão.
É
vocação de Abraão, de Paulo, de cada um de nós,
cheia
de força e de confiança num envio de evangelização.
Sabemos
que a Terra não é o centro à volta da qual tudo gira.
No
entanto, as novas tecnológicos alimentam esta ilusão:
comando
à distância, telemóvel faz tudo, automóvel...
dão-nos
a impressão que tudo gira à minha volta.
Basta
instalar-nos comodamente e comandar os desejos!
E
para que não haja conflitos nem necessidade de consensos,
cada
um tem o seu comando mágico que faz girar tudo à sua volta.
Uma
vida assim recheada e agarrada ao comando,
dificulta
a escuta dum evangelho novo e dinâmico,
o
partir de nós mesmos em busca da vontade de Deus,
o
subir à montanha onde o horizonte se alarga e se ilumina,
onde
se transfigura e dá sentido ao sofrimento por renascer santo!
Senhor,
palavra de amor que nos mandas escutar o Teu Filho,
cria
em nós um coração de discípulo e língua de apóstolo
que
vive a anuncia apenas o que Jesus nos ensina como Luz.
Cura-nos
da ilusão de sonharmos ser o centro do mundo
e
ajuda-nos a partir dos nossos esquemas fechados
para
a novidade da comunhão contigo e com os irmãos.
Faz
de nós uma bênção para todos
e
continua a convidar-nos a subir ao monte da transfiguração.
EIS O TEMPO FAVORÁVEL
Doce Mãe,
Virgem Maria,
Conduz o meu coração,
Sedento de amor e perdão,
À escuta do Teu Jesus,
Cuja Palavra alimenta
Minha atração pela Luz,
Que à Paz e ao Bem me conduz,
Deixando o meu ser inquieto,
Mais atento e desperto
A tudo aquilo que atenta
Clima de harmonia,
Na vida e no Universo,
Que, a mim, me compromete
A afinar pelo amor
Meu ser e agir concreto.
Anseio, ó Deus, encontrar-Te,
Pois, para Ti, me criaste
E me chamas a viver
A Justiça e o Direito
Que de paz e amor é feito,
Buscando sempre a Verdade,
Que me revela e abre
A via da santidade,
Como convite a abraçar
A Tua santa vontade,
Se desejo alcançar
Aquela felicidade,
Na semente que lançaste,
No terreno duro e árido
Desta nossa humanidade,
Que mantém, no coração,
A fome de perfeição,
No meio dos obstáculos
Da humana condição.
ENSINA-ME A PERCORRER,
SEM NUNCA DESFALECER,
PELA FORÇA DE EM TI CRER,
O CAMINHO DA PERFEIÇÃO,
PONDO EM TI O MEU OLHAR,
PARA APRENDER A VIVER
SEMPRE EM TRANSFORMAÇÃO,
APROVEITANDO ESTE TEMPO,
PELA GRAÇA FAVORÁVEL
PELA TRANSFIGURAÇÃO,
DA MENTE E DO CORAÇÃO!
Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 15.3.2014